Pedra do Indaiá, 2 de novembro de 2040

Um fundamentalista atacou fiéis, que rezavam na basílica Notre-Dame de Nice. E uma Simone, nascida na Bahia, foi morrer na França.

“Ela estava lá rezando, entrou esse cara que detesta cristãos. A gente fala em ‘cristofobia’. Ele esfaqueou essa senhora lá dentro. Ela atravessou a rua, coberta de sangue. Ainda conseguia falar…”

Simone ficou gravemente ferida, mas conseguiu fugir para um restaurante, ao lado da igreja. E, ali, se despediu dos filhos e da vida:

‘Digam a meus filhos que amo eles’.

No final do insano mês de outubro de 2020, um padre ortodoxo foi baleado na porta de uma igreja. No Brasil, um cadeirante de 42 anos morreu, após ser jogado de um viaduto. E um homem matou o sobrinho de 4 anos de idade, a facadas.

A violência globalizada juntava-se à covid-19, para fustigar uma sociedade doente. Os EUA superavam os 90.000 casos de covid-19, em 24 horas. A Malásia punha em quarentena mais de 10 mil polícias O primeiro-ministro inglês anunciava novo lockdown, após o seu país ultrapassar um milhão de casos de Covid-19. Face à segunda onda da pandemia, países europeus anunciavam novas medidas. O Estado de Emergência estava a caminho…

Em Portugal, o Governo tomou medidas, mas as escolas iriam continuar abertas. O maior foco de disseminação do vírus continuaria… “aberto”. O ministério acusava de “alarmismo” a notícia de que mais de quinhentas escolas tinham casos de covid confirmados. Crianças a partir dos seis anos eram obrigadas a usar máscara e uma menina autista de nove anos de idade era algemada pela polícia, durante crise em escola.

Raras notícias me chegavam de interpelação da insanidade geral. Apenas educadores como o André e a Juliana me ajudavam a suportar o peso dos dias sombrios. Transcrevo mensagens, que não carecem de comentário:

“Neste momento há escolas trabalhando com aulas virtuais. Professores preparam aulas, tais como aquelas que eram dadas antes do isolamento, e as ministram a grupos de 10, 20, 30 alunos que se enxergam através de webcams. Há escolas exigindo que alunos compareçam às aulas nos finais de semana. Há escolas exigindo que os alunos estejam uniformizados durante as aulas virtuais. Não me espanto. Se a sociedade já estava doente antes, não é de espantar que ideias bizarras surjam neste momento.

Há escolas se preparando para aplicar PROVAS. Vamos imaginar como seria cômica essa situação?

– Boa tarde, alunos! Hoje vocês farão uma prova virtual – diz o professor.

Alunos observam atentos o professor na sala virtual.

– Por favor, cliquem no link que eu vou mandar e respondam às perguntas.

O professor percebe que um aluno desliga a câmera.

– Marcos, por que você desligou a câmera? Tem alguém aí com você te ajudando a fazer a prova?

Tudo patético! Por aqui já gerou um trauma, desinteresse acentuado, queda de rendimento, pane emocional e insônia infantil. E ainda tem professores “seguindo o baile”, insistindo no expositivo virtual, como se eles estivessem super absorvendo em uma pós graduação à distância. Competição de quem mais participa com a câmera ligada, quando falam demais são interrompidos, de menos, cobrados e comparados…uma tragédia.

Meu sonho para 2021 seria algo como a Ponte ou o Âncora. Estou sendo uma mãe autodidata para conseguir salvar a aprendizagem sem traumas. Vejo a escola particular sem plano B, sem noção e sensibilidade, a tentar salvar-se da falência. Falidos todos já são…uns tolos.”

Nesse insano outubro, um homem lúcido nos avisava de que o povo não sabia o que estava acontecendo. E nem sequer sabia que não sabia.

Por: José Pacheco