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Novas Histórias do Tempo da Velha Escola (DCCXIII)

Pedrógão, 20 de novembro de 2041

O vocábulo “tradição” tem origem no latim traditio, que significa, mais ou menos, “transmissão”. E era função da escola legar às novas gerações o património cultural acumulado. Nesse sentido, faria sentido falar de tradição. Porém, sempre que a tradição agia como obstáculo à reelaboração da cultura profissional dos professores, transmutava-se num sucedâneo: o “tradicionalismo”. 

Aquilino Ribeiro lamentava-se de lhe ter cabido em sorte um professor “tradicionalista”: “Pela minha parte, foi com Dona Letícia (a professora) que aprendi a odiar.” E o mesmo acontecera com a Letinha, na quarta classe em que predominava o “método misto”: metade pelo livro, metade pela palmatória. 

O azar da Letinha era não atinar com as reduções. A professora bem gritava, ameaçava e… nada. A Letinha ora “apanhava bolos”, porque a vírgula tinha ficado fora do lugar, ora porque tinha “ficado para trás”, nas reduções de metros para milímetros. 

A mãe da Letinha era de poucas posses. Os cem mil reis que todos os meses entregava à “professora das explicações” (que era a mesma que aturava a falta de inteligência da Letinha) pagavam a preparação para o exame à escola técnica, não obrigavam a aulas suplementares, que desvendassem as trevas e os mistérios das reduções. 

A Rosinha, por sua vez, era uma aluna aplicada. Sabia a matéria toda “na ponta da unha” e era a encarregada de aplicar os castigos com a palmatória: um bolo por cada falta, três por cada erro e assim por diante. A professora exemplificava o modo e a intensidade com que a Rosinha deveria aquecer as mãos às companheiras. Por incrível que nos pareça, naquele tempo, era mesmo assim. 

Em meados de maio, a professora pegou no papel almaço e dobrou uma margem a três quartos. Era uma prova importante, decisiva. A Letinha saiu-se bem. Fez as reduções todas sem falhar uma vírgula. Foi contemplada com um Muito Bom e um comentário da professora da manhã: 

“Estás a ver como a régua te fez bem?” 

Volvidos alguns anos e uma inútil passagem pela Escola do Magistério Primário (como acontecia antigamente), a Letinha ficou professora. E, também como acontecia antigamente, na primeira colocação, entregaram-lhe a “turma dos repetentes”, que (antigamente) era costume haver em algumas escolas. 

A jovem professora pediu conselhos, mendigou solidariedades. Tudo em vão. A Letinha que se desenrascasse, porque os colegas andavam demasiado preocupados consigo próprios, com o “dar o programa” e atingir a percentagem de aprovações que lhes segurasse o emprego na função pública. Até que, certo dia, um colega mais sensível à dramática situação da Letinha lhe entregou uma régua, ao mesmo tempo que, sábia e solenemente, sentenciava: 

“Ó colega, tome lá. Eu vou para a reforma, a mim já não me faz falta e a si ainda há-de fazer jeito.” 

Subitamente, a Letinha viu-se assaltada pelos fantasmas de antigamente. Via a Rosinha com os olhos encharcados de lágrimas de implorar perdão. Num impulso, atirou com a régua para o fundo da gaveta, a fazer companhia aos cadernos de duas linhas, que eram uns cadernos usados antigamente para escrever letras em carreirinhas. 

Mas a turma dos repetentes continuava apostada em fazer da vida da Letinha um inferno. No fim de uma manhã em que já tinham ficado sem recreio (havia dias assim, antigamente), os alunos levaram a Letinha ao limite da paciência. Um estranho sentimento se apoderou da jovem mestra. Totalmente descontrolada, puxou da gaveta a miraculosa herança. O estrondo do vigoroso atirar da régua para cima da secretária provocou um pesado silêncio na sala de aula.

 

Por: José Pacheco

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Novas Histórias do Tempo da Velha Escola (DCCXII)

Santo Isidro de Pegões, 19 de novembro de 2041

Num dos novembros dos anos oitenta, um vizinho bateu-me à porta, com um envelope na mão, em demanda de “correção, se faz favor, senhor professor, que eu sou quase analfabeto”. 

Pediu-me que colocasse a pontuação numas cartas que escrevia a um seu compadre emigrado na Alemanha. Isto acontecia desde o dia em que um “idiota com canudo” – ou “pessoa de vistas curtas, apesar de se dizer um doutor”, conforme as designou o compadre – maldosamente, criticou a escrita sem pontuação por ele adoptada. 

Não tive coragem para macular a carta com alterações conformes à arte de bem pontuar. Se a estas e a outras liberdades se entregara o José galardoado com o Nobel da Literatura, por que não se permitia que o compadre desse largas à inovação? E o Habermas que me perdoasse, mas o estilo adoptado pelo compadre até conseguia imprimir um cunho pós-moderno ao texto. 

No pressuposto de que o compadre também me perdoaria a inconfidência, aqui vos deixo alguns excertos. 

“(…) Porque até lhe tinham dito que a escola onde meteu o moço no ano passado era das melhores e que neste ano aparece no fundo da tabela e até uma senhora que parece que é doutora escreveu nos jornais que o sistema não presta e veja lá ó compadre se ela é mesmo doutora como diz e não tem confiança como é que a gente a há-de ter inda pra mais está aflita de os catraios não poderem ir para as universidades da europa onde o compadre mora que ela até falou na Heidelberga acho que é assim que se escreve que é aí pertinho e por aqui eu já nem sei se deva pôr o meu ganapo na universidade dos pobres e remediados onde ainda me fica um gandulo ou se o meta numa particular que me vai custar os olhos da cara mas onde como disse a doutora mesmo os que são uma nódoa saem doutores e como uma desgraça nunca vem só o compadre neca ficou de cama já vai para uma semana por via de uma discussão com o toino beato que é um vizinho temente a deus e respeitador das autoridades mas também é um venenoso que já quando o catraio andava no ciclo e tirava mais quatros que o filho do neca entesava-se e atirava que as escolas não tinham culpa da estupidez dos filhos dos necas olhe compadre foi uma discussão do caraças e o neca até atirou com a do filho do toino que quando veio embora do seminário já trazia vantagem como o benfica nos ranquingues dos futebóis e que houve escolas que disseram que foram prejudicadas pelos alunos da consulta externa que foram esses externos que as puseram nos últimos lugares e a gente ainda vai ir ver os ranquingues dos hospitais que curam mais doentes e dos lares da terceira idade que matam menos velhinhos e por aí adiante que a gente não pode ficar ignorante toda a vida que eu sei é que o meu ganapo me vai acabar este ano os estudos e ó pai tu nem penses que eu cá precisava de mais de vinte valores e os dezanoves viste-os e os senhores do ministério pensam que a gente somos todos uns analfabetos e agora estão sempre a malhar nuns senhores das ciências de educação ou lá o que é que dizem que os exames não servem para nada e um vizinho o zeca bife disse que é verdade que meteu uma coisa que se chama recurso e vai-se a ver o catraio do vizinho passou de 14 para 20 de modos que a gente andamos cada vez mais baralhados e também veio um senhor doutor explicar que as notas era conforme os pobrezinhos de cada concelho e coisa e tal e a gente ficou a perceber o mesmo e adei vossemecê nem sabe a sorte que teve de ir ganhar a vida nas alemanhas.” 

Vox populi… Se nos abstrairmos do seu peculiar estilo, o compadre até conseguia ser bem mais explícito do que certos autores de teses, que não iam além de má literatura de cordel e de ficção científica.

 

Por: José Pacheco

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Novas Histórias do Tempo da Velha Escola (DCCXI)

Cortiças do Lavre, 18 de novembro de 2041

Dizia-nos o dicionário ser o professor “aquele que ensina”. Eu diria ser mais aquele que aprendia… ensinando. 

“Numa volta ao passado, recordo o exato momento em que descobri como se lia, mas não me lembro das aulas, ou melhor, não me lembro das aulas das outras professoras, pois lembro com nitidez e muito carinho (até fico emocionada quando lembro), as aulas da Dona Margarida (é a “culpada” pela minha decisão pelo magistério). Hoje, pensando nela, sei que o que a diferenciava era a relação de amor e respeito com o outro, o carinho como tratava os seus alunos, a forma mágica que impunha às suas explicações da matéria. Lembro ainda que, muitas vezes, pensei durante a aula, olhando para ela: é assim que eu quero ser quando for professora. Anos mais tarde, já terminado o curso, fui procurá-la. Já não dava aulas. Foi um reencontro fabuloso e, ali, pude dizer o quanto a admirava e o que ela representava em minha vida. Nunca mais nos vimos, mas ela é uma lembrança preciosa que guardo no meu coração.” 

Talvez vos possais rever no depoimento dessa professora. Também devo a um ser iluminado – mestre no dito “ensino tradicional” – a decisão que me levou ao magistério. Lograva conciliar duas características aparentemente incompatíveis. Era exigente, pois para ele a escola era estudo, esforço. Transbordava afeto, porque as escolas sem vínculos eram como redis de eunucos afetivos. 

Pressinto a necessidade de formular duas advertências. O professor que me “desviou” da Eletrotecnia para a Pedagogia era um praticante convicto do que se convencionou chamar “ensino tradicional”. Durante alguns anos, também eu fui professor “tradicional”. E orgulho-me de o ter sido. Preparava as minhas aulas com rigor, bons planejamentos, ótimos materiais, intensa motivação, acreditando ser aquele o melhor modo de ensinar. Isso, antes de conhecer outros modos… 

A inovação assenta na tradição, pois nada se pode construir no vazio, sem sustentação. A inovação não prescinde da tradição – Não se deite fora o bebé com a água do banho. 

Nutria repugnância pelas modas pedagógicas. Afastava-me dos “teoricistas”, que estabeleciam dicotomias maniqueístas entre “tradicional” e “inovador”. Exorcizava-os, num “vade retro” aos ingénuos e aventureiros “praticistas”, que negavam a importância da repetição, da memorização e de outra utensilagem “tradicional”. 

Quando me perguntavam qual era o melhor método, invariavelmente, respondia: 

”O melhor método é aquele que resulta!” 

Esta resposta arrastava muitos pressupostos. Talvez os recupere numa outra altura. Por agora, gostaria de vos falar de afetos. 

O que fez com que o professor Lobo (era esse o seu nome) alterasse as suas práticas, ao cabo de dezenas de anos de “tradicional puro e duro”, foi a pergunta que um aluno lhe dirigiu: 

“Professor, por que me castigas? Por que não me ensinas?” 

O professor Lobo passou por uma profunda revisão de vida – escutei-o, numa das suas últimas palestras –, transmutou em autoridade o autoritarismo típico das escolas da Ditadura. Colocou, no lugar antes ocupado por uma “pedagogia musculada”, uma afetuosa presença. Os alunos passaram a chamar-lhe “mestre” e a tratá-lo na segunda pessoa do singular, numa saborosa mistura em que o afeto não se confundia com languidez. 

Também a Cecília ensinava a ler contemplando o socioemocional das crianças. E, quando falava de afeto, eximia-se de um idealismo piegas, para o abordar como Freneit o entendia: 

“Para aprender, transformar e viver, é preciso fechar as fronteiras entre o intelectual e o afetivo.” 

 

Por: José Pacheco

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Novas Histórias do Tempo da Velha Escola (DCCX)

Santiago do Escoural, 17 de novembro de 2041

Nos idos de vinte, eram publicadas teses sobre o paradigma da comunicação, sem que a transição da instrução para a aprendizagem tivesse acontecido. Falava-se de autonomia, de protagonismo juvenil, afirmava-se a necessidade de transformar o aluno em sujeito de aprendizagem, enquanto se mantinha hegemônico o modelo instrucionista, centrado no professor. Eram desenhados novos mapas sobre velhos palimpsestos. Era ocasião propícia a formular algumas perguntas. 

Fiz algumas. Sem resposta. A primeira das perguntas poderia ser: 

O Fundamental-Básico existia? Teríamos uma educação fundamental-básica caracterizada pela “complementaridade e sequencialidade”? 

A compartimentação estanque entre ciclos era uma manifestação absurda dos cânones do paradigma mecanicista e originava rupturas traumáticas nos alunos, que não transitavam entre ciclos de um mesmo ensino básico, mas entre comunidades escolares autistas. 

Hutmacher afirmou que ao entrarem no ciclo seguinte, os alunos experimentavam “uma espécie de regressão quanto ao seu empenhamento e participação nas atividades de pesquisa, de descoberta e de construção de saberes.” A sequencialidade regressiva, por seu turno, permitia que o Ensino Médio e a Universidade (através do malfadado vestibular) determinassem e pervertessem os objetivos de um ensino fundamental, que deveria ser terminal e autónomo. Contribuía-sendo para a elitização académica e o insucesso escolar, assumido como mecanismo de discriminação e exclusão social. 

Estaríamos conscientes de que, para além do fato de se alterar a terminologia (de série ou classe para ano, por exemplo), não mudava mentalidades? Os professores eram de opinião de que a articulação era “pertinente”, “necessária”, “fundamental para a unidade da educação básica”, mas teriam modificado as práticas de gestão curricular e a organização das escolas, conferindo aos ciclos a sua vocação de complementaridade e sequencialidade? 

Quanto tempo mais iria durar o drama da justaposição formal entre ciclos e da dependência de uma matriz curricular licealizante? Quanto tempo mais iríamos submeter os nossos alunos a sucessivos desenraizamentos culturais, em idades tão vulneráveis? 

Seria possível conciliar a ideia da articulação entre ciclos com a segmentação interna de cada ciclo em anos de escolaridade? Seria possível pensar a articulação entre ciclos, se nem a articulação entre anos de escolaridade estava assegurada? E por que havia ciclos? E, se o sistema estava organizado em ciclos, alguém saberia explicar por que razão os manuais didáticos eram publicados com referência a anos de escolaridade? 

Ainda era elevado o absentismo e milhares de alunos atingiam o limite de idade de frequência, reprovando repetidamente. As empresas que criavam salas de estudo e centros de explicações prosperavam. Muitos dos “explicadores” eram os mesmos professores, que não tinham conseguido “dar toda a matéria” nas suas aulas. 

Havia analfabetismo funcional na universidade. E, quando havia vil metal para gastar, o ministério lançava projetos nas escolas e os professores os aplicavam, como se aprendizes de feiticeiro eles fossem. Estávamos habituados a ler preâmbulos de leis, que eram obras primas do discurso pedagógico, mas também já nos habituáramos à indigência pedagógica de certas “inovações”. Discutia-se o Médio e o Secundário sem que o Fundamental e o Básico estivessem cumpridos. 

Naquele tempo, como dissera Aristides, era preciso ser louco, para fazer o que era certo.

 

Por: José Pacheco

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Novas Histórias do Tempo da Velha Escola (DCCIX)

Foros de Vale Figueira, 16 de novembro de 2041

Na cartinha de ontem, dizia ter visto uma frase do Mestre Agostinho, na parede de uma escola que não era escola. Ela se ajustava ao contexto e à intenção das pessoas e das coisas em redor. Fazia sentido, inscrita na parede daquela sala, onde o amigo Alfredo havia contado um pouco da história da Humanidade, onde descrevera amanhãs desejados, o tempo de nos libertarmos da proto-história dos homens. Naquele tempo, ainda havia guerras, ainda precisávamos de tribunais, advogados, juízes, prisões e psiquiatras. Mas, sentíamos ter chegado o tempo de um novo renascimento. 

Agostinho era mestre na desocultação dos malefícios da Escola da Modernidade. Num texto, de que já esqueci o título, fala-nos, também, do “perfil” do educador dos novos tempos. Perdoai que esta cartinha seja, quase toda, feita de citações. Nenhuma prosa minha conseguiria ser mais eloquente que a do Mestre.

“Poucas serão as escolas em que o mestre não anime entre os alunos o espírito de emulação; aos mais atrasados apontam-se os que avançaram como marcos a atingir e ultrapassar; e aos que ocuparam os primeiros lugares servem os do fim da classe de constantes esporas que os não deixam demorar-se no caminho, cada um se vigia a si e aos outros e a si próprio apenas na medida em que se estabelece um desnível com o companheiro que tem de superar ou de evitar.

A mesquinhez de uma vida em que os outros não aparecem como colaboradores, mas como inimigos, não pode deixar de produzir toda a surda inveja, toda a vaidade, todo o despeito que se marcam em linhas principais na psicologia dos estudantes submetidos a tal regime; nenhum amor ao que se estuda, nenhum sentimento de constante enriquecer, nenhuma visão mais ampla do mundo; esforço de vencer, temor de ser vencido; é já todo o temperamento de «struggle» que se afina na escola e lançará amanhã sobre a terra mais uma turma dos que tudo se desculpam.

Quem não sabe combater ou não tem interesse pela luta ficará para trás, entre os piores; e é certamente esta predominância dada ao espírito de batalha um dos grandes malefícios dos sistemas escolares assentes sobre a rivalidade entre os alunos.

Não me basta o professor honesto e cumpridor dos seus deveres; a sua norma é burocrática e vejo-o como pouco mais fazendo do que exercer a sua profissão; estou pronto a conceder-lhe todas as qualidades, uma relativa inteligência e aquele saber que lhe assegura superioridade ante a classe; acho-o digno dos louvores oficiais e das atenções das pessoas mais sérias. É possível a comparação com tipos inferiores de humanidade; ante eles o professor exemplar aparece cheio de mérito. Simplesmente, notaremos que o ser mestre não é de modo algum um emprego e que a sua atividade se não pode aferir pelos métodos correntes; ganhar a vida é no professor um acréscimo e não o alvo; e o que importa, no seu juízo final, não é a ideia que fazem dele os homens do tempo; o que verdadeiramente há-de pesar na balança é a pedra que lançou para os alicerces do futuro.

A sua contribuição terá sido mínima se o não moveu a tomar o caminho de mestre um imenso amor da humanidade e a clara inteligência dos destinos a que o espírito o chama.”

As frases do Mestre Agostinho revelavam a essência do encontro daquele já distante encontro de domingo. Mais do que sintetizar o errado, as suas palavras apontavam contornos da escola que aquela comunidade anelava para as futuras gerações. 

Animado do agostiniano espírito e reunindo as forças que restavam, voltei ao Freixo do Meio, já decorria o ano de 2022. Ali, reaprendi a aprender como se fazia uma escola.

 

Por: José Pacheco

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Novas Histórias do Tempo da Velha Escola (DCCVIII)

Freixo do Meio, 15 de novembro de 2041

Há cerca de vinte anos, criei o hábito de enviar mensagens contendo reflexões e votos de uma semana feliz. Aqui vos deixo excertos de uma delas, enviada no novembro do já distante 21: 

“Neste momento, encontro-me, numa comunidade agroecológica alentejana, que adotou um modelo de colaboração e participação coletiva estruturador do trabalho de economia social, regulador e harmonizador dos usos setoriais do Bem Comum. 

Observo portugueses, espanhóis, cabo-verdianos, brasileiros e gentes de outras origens, repetindo um ritual pré-histórico: a instalação de um menir, recorrendo a tecnologias pré-históricas.

Arqueólogos e historiadores relacionam o aparecimento do menir com manifestações de culto da fecundidade, ou como marco territorial, quando o menir surge isolado. Identificam-no com sinal orientador de locais, quando colocados em linha. E, quando colocados em círculo, interpretam-nos como santuário religioso.

Foi grande o impacto, quando me vi perante a estrutura neolítica de Stonehenge.

Há mais de 4 000 anos, foram construídos dois círculos de pedras azuis e uma avenida marcada por valas paralelas alinhadas com o Sol nascente do primeiro dia do verão. O círculo externo teria 35 pedras, pesando mais de 4 toneladas cada uma, transportadas das montanhas de Gales, a cerca de 24 km ao Norte.

O que move estas pessoas? Por que decidiram erigir um menir nos cafundós do Alentejo? Algum significado deve ter… Qual será?

Nesta manhã de domingo, que marca o início de mais uma semana e que auguro jubilosa, proponho e partilho uma breve reflexão sobre os frutos do engenho e do labor humano.” 

Por vezes, as cartinhas publicadas nas redes sociais obtinham resposta. A minha amiga Nilce a esta respondeu: 

“Caro Pacheco, 

Leio as suas “histórias” com interesse. São pérolas para quem sabe re-conhecê-las. Depois dou um tempo, “matutando” pensamentos, que a sua escrita suscitou. Então, com calma e tempo, venho revelar-lhe as minhas impressões. 

Nesta “ida” ao Alentejo, descubro o significado da palavra “Além do Tejo”; que o céu alentejano foi o primeiro no mundo a ter a certificação Starlight Tourism Destination da UNESCO; que o maior lago artificial da Europa fica nessa região; 

que ela conta com 5 títulos da UNESCO; e que os monumentos megalíticos datam há mais de 5 mil anos. Maravilha!

Quanto à sua instigante indagação, eu poderia arriscar uma doxa. Porém, vou preferir que o mistério prevaleça.

Grata por compartilhar saberes! Uma espetacular semana a ti, com “gosto e bem-disposto”.

No dia do ritual de implantação do menir, escutei as sábias palavras do amigo Alfredo, apelativas de um diferente modo de relacionamento com o meio e da necessidade de refletir sobre como nos relacionamos. Dizia ser indispensável entender o sistema e ter uma ética adequada a novos modos de exercício do poder. 

Na tarde de um domingo extraordinário, em nome da sua comunidade, o amigo Alfredo perguntava:

“Por que vamos levantar um menir no Monte do Freixo do Meio?

Porque queremos, de novo, responsabilizarmo-nos coletivamente pela gestão dos ecossistemas de que dependemos. Queremos fazer parte de uma outra história, construída por uma atitude que não ponha em risco a nossa maior riqueza, a estabilidade climática. É isso que queremos celebrar, levantando uma pedra, como há 8000 anos. Porque a cooperação não foi só o que nos trouxe até aqui. E acreditamos que ela seja o caminho.”

Na parede da sala onde decorreu o encontro, uma frase do Mestre Agostinho sintetizava a fala do amigo Alfredo. Amanhã, dela vos falarei. 

 

Por: José Pacheco

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Novas Histórias do Tempo da Velha Escola (DCCVII)

Montemor-o-Novo, 13 de outubro de 2041

Literalmente, a palavra utopia corresponde à expressão “país de nenhures”. Para Tomás Morus seria a cidade perfeita, servida por um governo ideal. Usualmente, é utilizada para designar sonhos de perfeição social, algo considerado impossível de atingir. Contrariando a opinião, afirmaria que a utopia é algo necessário e até mesmo realizável. Se não, vejamos.

Nos idos de início deste nosso século, uma amiga enviou-me uma carta, que pediu para acrescentar àquelas que para vós escrevi. Foi um colibri quem ma enviou. Mas é para vós e, em particular, para a Alice. Revela a ternura que mora em ninhos perdidos, nas serranias e planuras dos confins de um ignorado interior deste país de pássaros solitários, que o vosso avô teve a sorte de conhecer num abril de há quinze anos. 

A memória dessa carta está associada à de uma visita, que fiz ao meu amigo Alfredo. No início da tarde do dia da visita, após uma manhã acidentada e um repasto regado com o bom vinho tinto alentejano, a Caetana nos levou a reunir com a Direção do Agrupamento de Escolas de Montemor. Reencontrei o João, meu aluno dos anos noventa. Saí agradado do encontro, pois deparei com gente afável e receptiva a mudanças. No final da tarde, fui com a “Borboleta” ao lugar onde a utopia do Alfredo se concretizava. Dessa utopia (e da “Borboleta”) vos falarei em próximas cartinhas. Por agora, deixo-vos com a leitura da carta de um colibri.

Era um colibri, que não desistia de seguir na direção de um sonho, que era de hoje e de sempre e que deu sentido à vida de muitas gerações de pássaros ensinantes e aprendizes. Por razões que se adivinham e que poderei explicar, hesitei em tornar pública esta carta. Mas acabei por pedir permissão à sua autora, para a expor aos olhos de outros pássaros. Apenas é acrescentada à carta uma data: (quando a ela chegardes, compreendereis o seu porquê). Eis o que dizia:

“Freixo do Meio, no mês de maio de 2024.

Hoje quem te escreve não é o teu avô. Mas, a história que vais ler também é uma história sobre pássaros. Deves estar curiosa de saber quem é essa desconhecida, que, num dia qualquer de Primavera, resolveu falar-te. 

Pequena Alice, esta história começa, há muito tempo. Lembra um encontro, num reino distante de quase tudo. Embora fosse Primavera, o reino distante e maravilhoso, como diria Miguel Torga, estava coberto por um grande manto branco, uma surpresa para a passarada, que se iria reunir naquela manhã. 

Para os pássaros que viviam naquela terra, a neve não constituía problema. Como sabes, alguns animais adaptam-se a lugares diferentes do lugar onde nasceram, outros não sobrevivem à mudança, outros ainda sobrevivem, mas são eternos inadaptados. No caso dos pássaros, valem-se das suas penas para se protegerem do frio. Também é verdade que alguns de nós, como os colibris, somos mais relutantes em sair do ninho e, por vezes, ensaiamos duas ou três vezes para pôr o biquito de fora. 

Mas, voltando à reunião… A razão era aprendermos técnicas de voo mais modernas, mais eficazes, mais audazes. Para isso, o líder do nosso bando conseguiu convencer a vir até aquela terra distante e fria uma gaivota que percebia da arte de voar como nenhum outro pássaro. 

Mas, e agora? – pensávamos nós – haverá ou não a tal reunião? Será que a gaivota encontra o caminho no meio dessa brancura toda? E os outros pássaros resistirão ao frio? Com um pouco de atraso, a passarada conseguiu juntar-se, e a gaivota conseguiu chegar à clareira, para a nossa primeira lição de voo. 

Completareis a leitura da carta do colibri na cartinha de amanhã.

Acolhei o beijo do vosso avô José.

 

Por: José Pacheco

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Novas Histórias do Tempo da Velha Escola (DCCVI)

Évora, 12 de novembro de 2041

No novembro de há vinte anos, andei por terras do Alto Alentejo. No chão das escolas, conversei com professores sequiosos de mudança. Não conseguia compreender a razão por que, subitamente, educadores, diretores de escola e de agrupamento, câmaras municipais, escolas, universidades me pediam ajuda. Mas lá fui até ao solo luso, tentar ajudar.

Uns dez anos mais tarde, já entrados na década de trinta, vim a perceber o porquê de tanta azáfama. Já não era a Ponte o que procuravam. Ela ainda era a melhor escola portuguesa, mas chegara o tempo em que as raízes, que ela criara no estrangeiro – em Portugal, a Ponte era ostracizada – dessem lugar a troncos, ramificações, flores e frutos. A profecia de Agostinho da Silva se concretizava:

“Portugal desembarcou na África, na Ásia e na América. Só falta Portugal desembarcar em… Portugal”.

Regressava ao solo pátrio, já sem resquícios de etnocentrismo europeu. Trazia na bagagem sementes de uma nova construção social de educação. Mas, não seria eu, septuagenário andarilho, quem iria protagonizar mudanças e inovações. Uma nova geração de educadores tomava em suas mãos os destinos dos seus projetos. No exercício da solidariedade entre pares, vi-os fazer maravilhas, acreditando ser possível melhorar a Escola. 

Estavam cansados de discursos desculpabilizadores e de corporativismos, que os adormeciam com anestésicos discursos. Convidavam aqueles que recusavam refletir as suas práticas, aqueles que recusavam melhorar-se, melhorando a aprendizagem dos alunos, e outros, que se julgavam no direito de “não querer mudar”. Os professores recuperavam a autoestima, reivindicavam o reconhecimento, social que lhes era devido

A velha escola, de que vos tenho falado nestas cartinhas, agonizava. Os sucessivos ministérios tinham aplicado pensos rápidos em feridas profundas. E aqueles que reproduziam práticas bolorentas já se interrogavam e procuravam saber a que senhor estavam servindo, chegando à compreensão das perversões a que as suas práticas conduziam.

Talvez tivessem compreendido, por exemplo, que o tipo de gestão do tempo, que as suas escolas adoptavam (idêntico ao de milhares de outras escolas) comprometia em desenvolvimento saudável. Talvez tivessem compreendido aquilo que Henry Giroux, há muito escrevera:

“Com os seus cronogramas e relacionamentos hierárquicos, a rotina da maior parte das salas de aula atua como um freio à participação e aos processos democráticos”. 

Os insanos críticos das “novas pedagogias” já não conseguiam apontar o nome de uma só escola que praticasse “abomináveis novas pedagogias”, que prodigamente glosavam nos seus best sellers. Espertalhões que, antes, criticavam o “eduquês”, já não atingiam o topo de venda de livros. Já havia quem se interrogasse sobre práticas obsoletas e sobre as razões profundas do insucesso. 

Professores vivos de todas as idades questionavam a abstração “turma”, tida como um todo homogéneo, ostracizando o sujeito aprendente. Entre quatro paredes, o aluno limitava-se à recepção de conceitos a que pouco ou nenhum significado atribuía. Partia-se de um princípio engendrado no século XVII – Comenius dizia ser possível ensinar a todos como se fosse um só e ainda havia quem nisso acreditasse. 

Mas, se a aula era a competência detida pelos professores, era dando aula que os professores engendravam novas práticas. Em sala de aula, muitos educadores já adoptavam uma postura crítica, que levou alguém a perguntar: 

“Por que razão os anjinhos papudos da talha barroca só têm cabeça e asas?”

 

Por: José Pacheco

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Novas Histórias do Tempo da Velha Escola (DCCV)

Moninho, 11 de novembro de 2041

Pois é! Pois era. Eram dois mundos separados por duas visões de mundo. Um deles discutia o clima submetido ao poder econômico. O outro condicionava e submetia a economia as questões maiores do clima e da vida. O primeiro, no ar-condicionado. O segundo, nas ruas, enfrentado a polícia.

Pois é! O “Verão de São Martinho já não era como antigamente”, como vociferava o compadre Clemente, voltado para a tv da tasca da Maria Morcega. 

Eu o escutava, enquanto conversava com dois “doutores” em meteorologia popular. Nem deveria aplicar umas aspas, porque eram mesmo mestres no ofício de prever que tempo faria na semana seguinte, se era tempo propício ao semear, se ao colher. Já não viviam do uso de tal sabedoria, mas mantinha o hábito de passar horas a fio jogando a bisca lambida. Não aspiravam a ser ricos de dinheiro.

Certamente, todo mundo conhece a história do pescador que, tendo acabado de pescar três peixes, considerava ser alimento suficiente para a família, naquele dia e ia para casa, saborear o dia, saborear a vida. Alguém, contando essa história, acrescentou que esse pescador era um “selvagem”. Mas seria selvagem quem recusava ter a subjetividade industrializada, quem se mantinha alheio aos ditames de uma economia predadora?

As lojas anunciavam os presentes para o Dia das Crianças, para o Natal, ou para assinalar outras efemérides apaziguadoras da febre consumista. As montras estavam repletas de Barbies e laptops da Xuxa. Um pai ofereceu um celular de última geração à filha, que acabava de completar cinco anos de idade. 

O Brasil ocupava o primeiro lugar entre todos os países do mundo que praticavam cirurgia plástica para jovens. O jornal A Folha de São Paulo noticiava a venda de sutiã com enchimento para meninas de seis anos! Uma cidade brasileira, símbolo do desenvolvimento econômico, contava, em 1960, com seis livrarias e uma academia de ginástica. Decorrido meio século, tinha mais de sessenta academias de ginástica e três livrarias. A mesma cidade registrava um índice significativo de endividamento dos jovens. 

No auge do triunfo do hedonismo, a felicidade se restringia à satisfação de desejos reciclados. Para os escravos do consumismo, renunciar a alguma coisa prazerosa parecia significar perda de liberdade. Talvez nunca tivessem olhado os lírios do campo…

Ninguém nasce consumista. O consumismo era um hábito mental instalado.

Ensinávamos os nossos alunos a prevenir a obesidade mórbida, ou a distinguir música de lixo sonoro? Ajudávamos os jovens a defenderem-se da febre consumista? Onde estaria a educação para um consumo crítico, inteligente? Quando se ensinaria a comer, a consumir, quando se aprenderia a viver? Se não aprendêssemos na escola, onde e quando iríamos aprender? 

Dar a conhecer os perigos do fast food era tão ou mais necessário quanto o saber colocar a pontuação correta num texto. Desenvolver a sensibilidade do aluno, de modo a que ele fosse sensível a uma suíte de Bach era tão necessário quanto saber fazer multiplicações por dois algarismos.

Os 20% mais ricos da população mundial consumiam 86% de todos os serviços e produtos. Os 20% mais pobres consumiam apenas 1,3%. Os Estados Unidos, que tinham 5% da população mundial, utilizavam 25% dos recursos mundiais. Poderíamos Ignorar que o crescimento econômico e social, da forma como acontecia, promovia o acúmulo de capital, de modo excludente e com impactos ambientais irreparáveis?

Insistindo no óbvio: para que as novas gerações usufruíssem de uma boa qualidade de vida, não seria necessária… uma nova e boa educação?

 

Por: José Pacheco

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Novas Histórias do Tempo da Velha Escola (DCCIV)

Carvalho, 9 de novembro de 2041

O vocábulo “mudança” está associado à ideia de passagem, evolução, transformação. Poderá ocorrer em culturas, organizações, estruturas, comportamentos, práticas sociais, instituições. 

Mercê da multiplicidade de conotações do termo mudança e de condicionalismos da sua concretização, as ciências da educação criaram o conceito de “resistência à mudança”. Porém, uma instituição chamada “Escola” terá sido criada para contrariar o poeta que dizia ser o mundo “composto de mudança, tomando sempre novas qualidades” – o conceito era, frequentemente, usado para legitimar inércias. 

Fazendo um breve ponto de situação, tendo por referência projetos emanados do ministério da educação de Portugal, que em nada diferiam da realidade brasileira, sabíamos, por exemplo – bastava consultar os dados estatísticos que o ministério divulgava – que o insucesso escolar era absurdamente elevado. Apesar dos projetos, dos programas prodigamente lançados e das tentativas de reformas velhas de décadas. já sabíamos que, em cada ano letivo, milhares de alunos reprovavam, ou não conseguiam transitar de ciclo. 

Já sabíamos que o ensino secundário reprovava um terço dos seus alunos e que, no final do décimo segundo ano, cerca de metade ficava à porta da universidade. E que, na universidade, apenas 3% dos alunos teriam um “percurso limpo de reprovações”  

Naquele tempo, a reprovação atingia quase um quarto dos alunos do sétimo ano e quase metade do décimo. No segundo ano, acontecia uma primeira degola dos inocentes. A taxa de retenção e desistência passava de 7,8 por cento, no quarto ano de escolaridade, para 14 por cento, no quinto. Já sabíamos que pouco ou nada melhorara, desde meados da década de 90. Éramos profundos conhecedores do drama. 

Em 2021, fiquei no território pátrio por alguns meses. Previa que as estatísticas apresentassem uma evolução positiva. Que os alunos dos cursos tecnológicos e artísticos, à semelhança do que acontecia com os dos profissionais, apenas tivessem de fazer exames nacionais, se quisessem ir para a universidade. Esperava que não sucedesse a “natural” inflação nas notas, acaso o ministério insistisse no disparate de os pais virem a participar na avaliação dos professores. Mas que, finalmente, estes pudessem ser avaliados.

Fiquei a saber que, enquanto eu vivera num voluntário exílio, o ministério aprovara mais algumas regras de avaliação. Entre as inúteis medidas ministeriais, previa-se a obrigatoriedade de as escolas realizarem planos de recuperação dos alunos que terminassem o primeiro período letivo com três ou mais negativas, bem como o acompanhamento dos alunos que, mesmo assim, viessem a reprovar. Mais do mesmo, à semelhança dos inúteis e pedagogicamente disparatados “planos de recuperação” engendrados no final de uma pandemia.

Tomei consciência da triste situação, quando me convidaram para “palestrar” num seminário, lado a lado com dois funcionários do ministério. Disso espero poder falar-vos em próxima cartinha. Por agora, apenas algumas considerações.

Os governos sucediam-se, só o insucesso e as medidas avulsas não variavam. As propostas eram de desculpabilização curricular, sempre remediativas, não logravam atingir o âmago do problema. 

Há mais de meio século, vinha escutando as ladainhas dos ministérios e das corporações. Ao longo de dezenas de anos, conheci professores que acreditaram em boas intenções. Vi professores éticos destruídos por professores cínicos. Mas, apesar dos pesares, voltei a Portugal, na intenção de escutar e ajudar.

 

Por: José Pacheco

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