Novas Histórias do Tempo da Velha Escola (MCXLVI)

Itaipuaçu, 14 de fevereiro de 2043

O mês de fevereiro de dois mil e vinte e três foi aquilo que, hoje, se poderá chamar de “separador de águas”, porque se começou a dissipar a “cortina de fumaça”, que encobria uma política educacional perversa. 

Acadêmicos ociosos velavam o cadáver adiado instrucionista, enquanto três insignes mestres o denunciavam. O maior desses mestres se chamava Pedro. Homem sábio, autor de farta e excelente produção científica. Afirmava que aprendizagem quase não existia, que da escola não levávamos quase nada para a vida. 

A série histórica do Ideb escancarava, desde 1995, “um sistema inepto, para não dizer inútil, sem perspectiva de mudança”. E, à distância de vinte anos, a análise do amigo Pedro permanece atual, constitui-se em referência para quem ainda não se tenha emancipado do ranço da velha escola. 

O instrucionismo era “a postura padrão globalizada, acolhida oficialmente no PISA: um sistema tipicamente de “ensino”, instrução, baseada na aula copiada para ser copiada, conteudista”. Estou a citar o Mestre Pedro. Espero que ele me perdoe a ousadia, pois teve a generosidade de me enviar alguns textos solidários:

“Tendo escutado você mais de perto, nesses dias, também suas angústias, ocorreu-me fazer alguns textos. Tentam entender algumas ideias que mais chamam a atenção, mesmo assustam, mas são cruciais para a “comunidade de aprendizagem”. Admiro, entre outras coisas, sua coerência. E espero que os textos sejam úteis.”

Esses textos foram muito úteis, não só pelo que de heurístico possuíam, mas sobretudo pela coragem intelectual que traduziam. Falavam de Escola Pública. Não aquela que usurpava esse nome, mas aquela que, a partir das contribuições essenciais de três mestres e da dedicação de dezenas de professores, despontou na terceira década deste século. 

“É lamentável que não se perceba que a escola pública dos pobres, aquela que atende a 99% dos alunos públicos, se encontre em situação de tendencial inutilidade para a grande maioria dos estudantes. 

Para alguns, o fato de ser “pública” é um amuleto suficiente (…) emancipatório, ainda mais constando no PPP como a última maravilha dos tempos, sem qualquer base avaliativa científica, acrescendo-se a esta hipocrisia a insinuação de que não se pode questionar, para não desconfortar. 

Embora seja o caso defender a escola pública como patrimônio democrático e republicano, uma coisa é defender escondendo a cara na areia, outra é defender com devida postura crítica autocrítica.” 

Poderia evitar a referência que o meu Mestre fez à “coerência” do vosso avô. Se o não fiz foi porque a coerência era um dos valores que nos unia. E porque Freire havia dito que:

As qualidades ou virtudes são construídas por nós no esforço que nos impomos para diminuir a distância entre o que dizemos e o que fazemos. Este esforço, o de diminuir a distância entre o discurso e a prática, é já uma dessas virtudes indispensáveis – a da coerência. 

Como posso continuar falando em meu respeito ao educando, se o testemunho que a ele dou é o da irresponsabilidade, o de quem não cumpre o seu dever, o de quem não se prepara ou se organiza para a sua prática, o de quem não luta por seus direitos e não protesta contra as injustiças? 

A prática especificamente humana é profundamente formadora – por isso, ética. Se não se pode esperar de seus agentes que sejam santos ou anjos, pode-se e deve-se deles exigir seriedade e retidão.”

Nas próximas cartinhas, continuarei a “parasitar” os artigos que o Mestre Pedro me doou. E a dar-vos notícia dos primeiros tempos de mudança e de inovação.

Até amanhã!

 

Por: José Pacheco

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