Novas Histórias do Tempo da Velha Escola (MCLXXII)

Brasília, 11 de março de 2043

Há, precisamente, vinte anos, a comunicação social divulgava um encontro de educadores, que a alguém disse ser “movimento nacional de pessoas que sonham, lutam e realizam por uma educação verdadeiramente transformadora, democrática e emancipatória”.

Dez anos antes, também na Brasília do Darcy, um manifesto fora lançado na primeira das CONANE. O Terceiro Manifesto era um legado dos Românticos Conspiradores, oferecido ao ministério e depositado nas mãos de uma equipe coordenada pela minha amiga Sônia. Esse manifesto deveria ser atualizado e servir de referência para as CONANE seguintes. 

O Manifesto hibernou, até chegar o tempo da pandemia. Um simples vírus bastou para que o sistema de ensinagem entrasse em crise e o teor do Terceiro Manifesto se materializasse num FAZER tardio, depois da Sexta CONANE.

Assim se manifestaram os autores do Manifesto:

Indicamos ao poder público melhorias para uma nova construção social de aprendizagem, servindo como diretrizes para uma Educação do século XXI. 

Assegurar às escolas a dignidade de um estatuto de autonomia; rever o tipo de gestão das escolas, passando de uma tradição hierárquica e burocrática para decisões colegiadas, coletivas; desenvolver comunidades de aprendizagem, baseadas num projeto local de desenvolvimento, consubstanciado numa lógica comunitária, que pressupõe uma profunda transformação cultural e concretiza uma efetiva diversificação das aprendizagens, tendo por referência uma política de direitos humanos, que garanta as mesmas oportunidades educacionais e de realização pessoal para todos.” 

O Terceiro manifesto clamava por “uma nova construção social de aprendizagem”. aquela que Lauro e Agostinho anunciaram. Aquela que António Nóvoa e de Pedro Demo especificaram, quando disseram que seria preciso acabar com a sala de aula e erradicar o instrucionismo.  

Diziam os dicionários que uma conferência era uma reunião de pessoas com a intenção de debater ideias, problemas, inovações. Uma conferência era concebida para conferir. Isto é: para verificar, averiguar, certificar, confirmar, reconhecer, outorgar. 

Tomando como ponto de partida o primeiro dos significados – verificar – fui para a “CONANE da Esperança”, na esperança de verificar a concretização das recomendações de António Nóvoa e de Pedro Demo: a de acabar com a sala de aula e erradicar o instrucionismo. 

Como coautor do terceiro Manifesto, fui verificar se o António e o Pedro teriam sido escutados e respeitados. Deparei com uma discussão sobre o “Novo Ensino Médio”, um despropósito a que não faltaram referências à… “sala de aula”.

Eu poderia ter perguntado, por exemplo:

O que é o “ensino médio”? Por que existe?

Por que se mantém inalterada a tradicional segmentação cartesiana?

Por que se continua a trabalhar em sala de aula?

Nada perguntei. Pelo respeito devido à à CONANE, abandonei o auditório.

Dez anos depois da primeira CONANE, a quase totalidade dos projetos divulgados nessa conferência tinha sido extinta ou neutralizada. Seria de presumir que, decorridos mais dez anos, aqueles que ganhariam visibilidade social na Quinta CONANE já teriam sido destruídos ou neutralizados.

A “nova construção social” proposta na primeira CONANE permanecia ignorada. Até meados dos idos de vinte, continuar-se-ia, abusivamente, a colocar o rótulo de “inovador” em projetos paliativos do modelo educacional instrucionista. e, enquanto a sala de aula não foi extinta, a sofisticação do discurso pedagógico continuou a contrastar com a miséria das práticas.

 

Por: José Pacheco

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