Sabugal, 27 de maio de 2043
Há uns vinte anos, fui até ao interior do país, para conhecer, mais profundamente, o trabalho da Celmira e da sua jovem equipe (dele vos falarei mais adiante). No mesmo dia, mão amiga me fez chegar um fragmento da obra de Oscar Varsavsky. Aqui vo-lo deixo, no original. Espero que a língua castelhana não vos seja estranha…
“Más importante para el cambio de la sociedad es la falta de educación para el cambio, que significa echar por tierra una serie de valores que, hasta el día de hoy, tienen una fuerza indiscutida.
(…) Hay miles de estos problemas, que no se resuelven cambiando planes de estudio o colocando televisores en las escuelas, sino pensando concretamente en cómo decir las cosas para que no suenen a catecismo, cómo se enseña la ciencia sin que se convierta en cientificismo.
El gran reto a los pedagogos es diseñar un sistema de enseñanza que, partiendo de un pequeño grupo inicial que sabe lo que desea enseñar, consiga ampliarlo hasta que eso pueda transmitirse a la población sin perder tiempo y sin traicionar su contenido.
Téngase en cuenta que ese grupo inicial no va a disponer de la Biblia (ni de un librito rojo) ya escrita, cuyo texto basta difundir. Muchas de las ideas estarán todavía tácitas y habrá que explicitarlas.
¿Cómo se organiza un equipo de redactores de textos, fieles, pero no dogmáticos?
¿Cómo se ligan los principios generales con la realidad cotidiana, para que el niño deje de ver a la enseñanza como un mal cuento de hadas, igualmente falso pero aburrido?
¿Deben subsistir las escuelas o ser reemplazadas por otro tipo de institución?
La educación debe continuar toda la vida de una manera formalizada, concurriendo a clases obligatorias, o mediante la lectura informal de revistas o los programas de televisión, ¿o cómo?
Na década de setenta do século passado, quando a Ponte já dava resposta a algumas perguntas, Varsavsky, era referência no Chile e em outros países da América Latina.
O autor formulava perguntas perturbadores para os bem pensantes. Para aqueles que, detendo um saber académico, padeciam de cientificismo, dogmatismo e teoricismo, doenças infantis das ciências da educação. Também por isso, decorrido meio século, a ementa de congressos, a agenda de ministros e a pauta de reuniões de “especialistas” se mantinham cópias de perguntas jamais respondidas.
E a Ana dizia:
“São esses porquês que me fazem insistir em permanecer lutando, questionando avaliações sem sentido, alunos em cabines como baias de cavalo, sentados um atrás e longe do outro. Como seria bom se pudessem ser livres para aprender. Iam amar”.
A Ana poderia não saber como poderia sair de um sistema de “cabines como baias de cavalo”. Mas, sabia que nele não poderíamos continuar. Perdêramos meio século em estéreis “polémicas” replicadas nas redes sociais, nas quais excelentes teóricos debatiam o “sexo dos anjos” da educação.
Se nelas eu intervinha com perguntas semelhantes às do Varsavsky, o silêncio era a resposta. A publicação do livrinho “Inovar é Assumir um Compromisso Ético com a Educação” muitos amargos de boca me causou. As críticas veladas (e destrutivas) e as reações negativas de teóricos, que eu considerava amigos, agiram como fator de desmotivação. Como diria o outro, “mal com os homens por amor d’el Rei, mal com el Rei por amor dos homens.” Bom era acabar, deixar abertos caminhos novos.
Mas ainda passariam meses de cansaço, até confiar nas mãos de amigos do Coletivo da Educação Humanizada e da Escola Aberta um esboço de projeto futuro, os meus parcos conhecimentos e os destinos da deriva educacional.
Por: José Pacheco
301total visits,2visits today