Vila Nova de Anha, 15 de junho de 2043
E lá voltei ao fundo do baú das velharias. Papéis e mais papéis, montanhas de cd, uma caneta enferrujada, uma velha pen drive, reminiscências dos idos de vinte:
“Fui seu aluno da Escola Superior de Educação. lembra-se?”
Volta e meia, escutava essa pergunta e a memória se avivava. Eram antigos alunos. Nos idos de noventa, eu havia proposto aos jovens candidatos a professor a descrição da “escola dos seus sonhos”. E eles não tinham deixado de sonhar.
Conhecera-os aos vinte e os reencontrava aos cinquenta, decididos a concretizar sonhos de juventude. Tinham resistido à tentação do fácil e da acomodação.
Aquele périplo português me dizia que valera a pena gastar meia vida num longo caminhar. Dos Açores chegava a voz da Conceição:
“Olá, querido Zé, tens ajudado o teu corpo com algum descanso?
Ontem, no Conselho da CANR, estivemos a partilhar o impacto que as conversas contigo tiveram em cada um de nós. Emocionei-me até às lágrimas com a riqueza das partilhas. Conclusão: tu tocaste profundamente cada um. Tu inspiraste, tu fortaleceste, fizeste com que continuemos a sonhar que um dia teremos a escola dos nossos sonhos.
Mais uma vez, agradeço-te do fundo do coração o teu tempo precioso passado conosco. Bem hajas, meu Amigo de sempre. Sente o meu abraço quentinho de afetos e muita Gratidão.”
Do Brasil, a voz da Jaqueline:
“Querido Mestre e amigo, sua fala de ontem me emocionou
Esses temas de outras narrativas de nossa cultura me provocaram “pensar” com os sons. Pelo que ele provoca. Ninguém tem como diminuir nossa Potência. Nossa alegria. Nosso desejo de continuarmos na coragem de brincar!!!
Sejamos corajosos prof.”
Seria eu quem deveria manifestar gratidão profunda a quem fora sensível aos meus apelos de amorosidade e coragem. Nesse tempo, eu encontrara uma Alma sensível, que me ensinou a calma da espera finda. Finalmente, a “escola dos sonhos”!
Valerá a pena voltar à notícia publicada no Diário de Notícias de junho de 23, fazer a memória de um tempo de profundas transformações:
“Entretanto, na Moita da Roda, o envolvimento com a comunidade ganhou espaço, através da Associação Pró-Futuro da Escola da Moita da Roda e dos Conqueiros. É lá também que andam os filhos de Micael Amado, um ex-militar, agora dedicado às áreas do desenvolvimento pessoal.
“O que acontece ali é único”, diz ao DN, referindo-se ao projeto pedagógico.
A escola “tradicional” não lhe fazia sentido. Nem a ele, nem a centenas – ou milhares – de pais. Foi essa certeza, de resto, e uma busca constante por alternativas que fizeram Andreia Ribeiro chegar ao trabalho do professor José Pacheco. A partir da Batalha (onde mora) tem mobilizado outros pais para esta mudança, que espera ver ocorrer no âmbito da Escola Pública.
O grupo promoveu, entretanto, uma tertúlia, no final de abril, e em maio convidou José Pacheco para uma série de encontros nas escolas e autarquias da região.
“A nossa batalha é por uma escola pública que integre todos. Estou convicta de que este tipo de ensino vai ajudar muito mais aqueles que estão à margem e evitar que abandonem a escola”, afirma ao DN Carla Marcos, mãe de dois alunos da escola pública, com diferentes idades, e que por isso sublinha a importância de estender estes projetos ao 2.º e 3.º ciclos. O grupo está empenhado em começar essa mudança, já no próximo ano letivo.”
O modelo estatal de ensino confessava a sua inutilidade, tentava impor novas restrições, enquanto ativistas da educação, como a minha amiga e lutadora incansável Andreia, sabiam que seria inadmissível adiar uma mudança há muito tempo anunciada.
Por: José Pacheco
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