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Novas Histórias do Tempo da Velha Escola (MCCLXX)

Herdade do Freixo do Meio, 19 de junho de 2043

Prestes a deixar a Europa dita “comunitária”, precisava saber a quem deixar a incumbência de criar verdadeiras comunidades. Entre abril e junho, tinha visitado mais de vinte “agrupamentos de escolas”, havia reunido com mais de mil educadores, pernoitado em mais de quarenta lugares, o corpo se queixava das muitas viagens… e o meu amigo Alfredo me acolheu na “Casa da Professora” do Freixo do Meio.

Depois do forte abraço do amigo Alfredo e da visita ao Bifanas, recebi a visita de famílias ávidas de notícias e desejosas de ação. Quis saber que comunidades pretendiam criar e porquê, partindo do convite ao encontro recebido de um “triplo C” de respeito: as mães Cristina, Caetana e Cristina. 

Quando pensava poder descansar de mais de dois meses de intensos afazeres, o entusiasmo daquelas mães me deu novo ânimo. Em três intensos dias, ajudei a preparar um encontro, que viria a realizar-se no 29 de junho (no fundo do baú das velharias, encontrei o cartaz que junto a esta cartinha).   

Eis como se apresentava o “convite”:

“Esta pequena experiência pretende ser um espaço de partilha entre famílias, tutores e comunidade em geral, para vivenciar a “gestação” de uma ou várias comunidades de aprendizagem. 

Procuraremos o nosso próprio modelo (cada um de nós), aquele que se adapta ao grupo que representamos. Uma comunidade de aprendizagem é como um ser vivo em constante evolução. Contamos com a sua presença e, mais do que tudo, pretendemos criar laços e potenciar compromissos entre todos. 

Modelos que envolvem afetos são desafiadores e implicam contacto humano próximo e sincero, garante de continuidade. Teremos três dias para semear esses vínculos. 

Com famílias que estejam interessadas em fazer parte de uma comunidade de aprendizagem, professores motivados para fazer diferente, membros da comunidade com intenções de partilha de saberes, com mentes inquietas, que buscam respostas e formas de fazer diferentes, para alcançar resultados diferentes. 

O convite continha um endereço (perfeitaconsciencia@gmail.com) e estabelecia o valor de participação: Gratuito. 

Acrescentava uma lista de “Materiais a levar: 

Computador e/ou tablet, folhas brancas, lápis e/ou marcadores, jogos de tabuleiro, livros infantis, mantas para sentar no chão, cola de papel, fita-cola, cartolina de cor, chapéu, garrafa de água. 

Pode haver alterações com base no desenvolvimento da atividade, nada do que aqui se propõe é definitivo, serve apenas de orientação.

As crianças estarão com os tutores e os adultos reunir-se-ão com os moderadores que os acompanham. Algumas destas horas serão passadas em interação entre os grupos pois aí reside uma das riquezas de uma comunidade de aprendizagem. A estrutura de horário apenas define os momentos de início e fim, bem como das refeições, que serão sempre conjuntas.”

Amorosidade, disponibilidade, coragem, espírito comunitário, autenticidade, gestão da imprevisibilidade, criatividade: sociocracia plena. Como diria o Manel, “Calma! Não é o fim do mundo, é apenas o princípio.”

O encontro do Freixo do Meio era o princípio do fim da robotização do ato de aprender. A ensinagem recuava. Educadores conscientes e professores éticos tomavam nas suas mãos o futuro das gerações futuras, num movimento irreversível.  

O italiano Galileu afirmara: “E pur si muove”. E o Leonard canadiano já dissera haver “a crack in everything”, that’s how the light gets in.”

E dito no português que no Alentejo se falava, tirando o i do lete e juntando-o ao cafei: “Anda lá, que n’a morres de coice de boi.”

 

Por: José Pacheco

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Novas Histórias do Tempo da Velha Escola (MCCLXIX)

Caldas da Rainha, 18 de junho de 2043

Quase de partida para o Sul, não deixei de visitar o meu bom amigo João, um ser humano incansável na procura da escola que os seus filhos mereciam. Tal como a Alice que, nesse mesmo dia de há vinte anos, via a sua filha a querer fugir de monótonas e inúteis páginas de “trabalhos de casa” (deixo-vos uma amostra no cimo desta cartinha).

Foi, também, nesse mês de junho que, quando já quase nada esperava de caminhos novos, uma Alma gentil me mostrou novos caminhos. Com ela os percorro, desde há vinte anos. Ela me aponta o voltar à vida com “olhos de inícios”, como aqueles que o Rubem me emprestara. Juntos, semeamos comunidades e preparamos a escola da Analu.

Pedaços de jornal, que achei no fundo do baú das velharias dava-nos conta das conclusões de um estudo, dava a conhecer uma trágica situação: nunca tantos instrumentos de comunicação havíamos tido e nunca tão solitário estava o ser humano.

Um em cada quatro brasileiros não se sentia próximo de alguém. Um levantamento com participantes com idades compreendidas entre os 18 a 77 anos, mostrava que a qualidade da rede de relacionamentos dos brasileiros era baixa e que a insatisfação nas interações sociais prevalecia.

Também mostrava que situações presenciais faziam as pessoas mais felizes, favorecendo a construção de uma rede mais ampla de relacionamento que as virtuais. Um quarto da população tinha a sua rede social empobrecida e não se sentia próxima de alguém. 

Um neurocientista afirmou que o resultado não o surpreendera, mas que fora mais intenso do que o esperado:

“A baixa conectividade interpessoal dos brasileiros e o desconforto no trato com estranhos contrastam com a visão que formamos dos barzinhos lotados, mas não se engane: poucos circulam fora de suas bolhas”.

O “olho no olho” nos permitia ser mais felizes nos relacionamentos: 

“A migração das relações pessoais para o ambiente digital não contribui para a formação de laços interpessoais satisfatórios e de longo prazo.”

Talvez o Brasil fosse o país com a maior taxa de ansiedade do mundo. Isso gerava uma espécie de normalidade psicopatológica, caracterizada por baixa confiança interpessoal. Apenas 5% das pessoas confiavam em desconhecidos no país, era o menor índice da América Latina e um dos menores do mundo.

Nas escolas, a solidão do professor era da mesma natureza da solidão do aluno. Uma Alma preocupada com os grandes e pequenos dramas, que na escola encontrava, tentava transformar uma cultura feita de solidão numa cultura assente na solidariedade. 

A modernidade remetera-nos para uma ética individualista. Carecíamos de projetos humanos com referência a um novo sistema ético, uma matriz axiológica clara baseada no saber cuidar e conviver. Dizia-nos Maturana que a educação acontece na convivência, de maneira recíproca entre os que convivem. E Winnicott definia o ser humano como pessoa em relação, ser singular, que não pode existir sem a presença do outro

Educar consistia em assumir responsabilidade social, solidarizar-se eticamente. Marcados pela incompletude, geneticamente sociais e geneticamente históricos, urgia criar vínculos. A arte de conviver (viver com) exigia uma atitude de abertura, o reconhecimento do outro e o respeito pela pessoa do outro. Mas onde se poderá aprender essa arte? Na Escola? Na Família? Na televisão? Na internet? 

A sensível e incansável Alma me fazia lembrar palavras escritas para a Alice:

Do recanto mais íntimo de um lugar onde os homens supunham não haver lugar para a bondade e o bem-estar de todos, assomavam suaves gestos de solidariedade.

 

Por: José Pacheco

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Novas Histórias do Tempo da Velha Escola (MCCLXVIII)

Cantanhede, 17 de junho de 2043

Diferentes foram os destinos daqueles que procuravam resguardar os seus filhos dos malefícios de um velho sistema de ensinagem. A Tânia e o Nuno cuidaram de criar um começo de comunidade adequado à educação da Violeta e do Vicente. Mas, o mesmo a Sandra não conseguiu. Os seus filhos fizeram-na mudar de cidade, em busca de uma escola que deles devidamente cuidasse. Perdida a fé nas escolas ditas “públicas”, optou pela matrícula num colégio privado. 

Nada decorreu como esperava, pois a filha integrava o rol de crianças com dislexia.

“Senti-me muito perdida.” 

Socorreu-se de terapeutas, psicólogos e de “explicações”, até colocar os filhos em “ensino doméstico”. E acabou coproprietária de um… “Centro de Explicações”. 

Em 2018, Paulo chegou do Brasil, em busca de inovação e comunidade. Queria   conhecer a Escola da Ponte e, pelo caminho, descobriu a Comunidade Educativa das Cerejeiras, no concelho de Penela. Aí assentou arraiais. 

Outros havia que visitavam a Ponte, participavam de imersões formativas na Escola Aberta mas, depois, voltavam ao rame-rame. E havia aqueles que, ao primeiro sinal de perigo, se encolhiam, para não perder o emprego. 

Partíamos com a parte saudável do sistema. Encontrávamos diretores éticos e com eles organizávamos turmas-piloto e círculos de aprendizagem. Quando deparávamos com pequenos tiranetes, que tentavam proibir mudança, perguntávamos-lhes por que a dificultavam – que impedimentos haveria? 

“A lei não permite.” 

“Qual lei?” – perguntávamos. Não respondiam. E logo surgia a imposição.

“Não concordo com esse método. Não autorizo!”

Explicávamos-lhes que não se tratava de um “método”. Mas as múmias pedagógicas diziam não entender, recusavam explicações. Se insistíamos, essas lideranças tóxicas intentavam a fagocitose dos proponentes, ou remetiam a proposta para os “conselhos pedagógicos”, sabendo que a maioria desses órgãos nada tinham de pedagógico e eram contrários a qualquer tipo de mudança.

“Se pensarmos bem, a maioria dos meninos que “desiste” da escola é porque não se sentiu lá bem, não sentiu pertença. Depois instala-se o desinteresse, a revolta, e é claro que não pode funcionar” – comentava a minha amiga Andreia – “O que sentimos é que as famílias estão muito receptivas. Toda a gente se diz sozinha e depois o mais fácil é apontar o dedo. O que temos que fazer é uma aliança entre todos, tendo em conta que é preciso respeitarmo-nos uns aos outros, deixar que os professores, diretores de turma e de agrupamento despertem para a necessidade de mudarmos uma escola que funciona como no tempo da revolução industrial do século XIX”

De ano para ano, sempre que eu viajava para Portugal, via surgir mais “centros de explicações”, via o homeschooling ganhar mais adeptos, os professores mais adoecidos, mais famílias descontentes, jovens intelectual e emocionalmente mais abandonados. A Escola da Modernidade contava mais de duzentos anos de semear ignorância, analfabetismo, múltiplas violências e escassas aprendizagens. A mercantilização da Escola Pública progredia.

Quando estava prestes a regressar a terras brasileiras, vivíamos um momento propício à mudança de rumo, nunca tivéramos tão boas condições para realizar transformações. Um trio magnífico – uma Cristina, uma Caetana e outra Cristina – preparava um encontro em Montemor e no Freixo do Meio. 

Eu voltaria à “Casa da Professora”, gentilmente cedida pelo amigo Alfredo. E, no dia 29 de junho, foi dado o primeiro passo de um longo processo de mudança, que se estendeu pelas décadas de vinte e de trinta.

 

Por: José Pacheco

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Novas Histórias do Tempo da Velha Escola (MCCLXVII)

São Pedro da Cova, 16 de junho de 2043

Escreveu o Mestre Anísio que “se o nosso interesse é pela vida, aprender significa adquirir um novo modo de agir. Por isso, só se aprende o que se pratica, seja uma ideia, seja uma atitude, ou mesmo um controle emocional. Mas não basta praticar”. 

Para que vivessem experiências reais da vida, educadores da década de vinte, vezes sem conta, me solicitaram o “modo”. Quando a pergunta “Como fazer?” surgia, eu respondia:

“Leva-me para a tua sala de aula. Lá, encontraremos um ou mais modos de fazer.”

Entretanto, enviava algum “material” ensaiado cinco décadas antes, na Escola da Ponte. Começava pela organização do trabalho escolar (espero que não seja fastidioso aquilo que escreverei nesta e na cartinha de amanhã).

Os núcleos eram a primeira instância de organização do trabalho de educandos e educadores da Ponte, correspondendo a unidades coerentes de aprendizagem e de desenvolvimento pessoal e social. 

Nos núcleos, sujeitos de aprendizagem envolviam-se em tarefas e desafios, para resolver problemas, satisfazer necessidades, desejos e sonhos. Em processo, lidavam com questões interdisciplinares, tomando decisões e agindo em equipe. 

Através da metodologia de trabalho de projeto, eram trabalhadas habilidades de pensamento crítico e criativo, bem como a percepção de que existiam várias maneiras para a realização de uma tarefa. 

Nesse sentido, a definição do currículo revestia-se de um caráter dinâmico e carecia de uma permanente ação reflexiva por parte da equipe de educadores, de modo a que fosse possível a disponibilização de recursos e materiais, para aquisição de saberes e desenvolvimento de competências essenciais. 

Não havia lugar a “retenção”, ou “recuperação”. A mudança de núcleo estava atrelada à aprendizagem de atitudes, em função de um perfil terminal. E acontecia, se o educando aceitava transitar de núcleo, da avaliação feita pelo seu tutor e por aquiescência da família.

A transição de núcleo acontecia quando a criança revelava, além de maturidade nas atitudes, competências de auto planejamento e avaliação, de pesquisa e de trabalho em pequeno e grande grupo, o cumprimento dos acordos. 

Aos primeiros planos elaborados pelos professores, sucediam-se esboços de roteiros de estudo, que cada aluno ia aperfeiçoando, até atingir a capacidade de prever uma gestão equilibrada dos tempos e de espaços de aprendizagem. 

Nos círculos de aprendizagem havia dois núcleos: Iniciação e Desenvolvimento.

Na Iniciação, o estudante começava o seu processo de aquisição de autonomia e adquiria competências e habilidades psicomotoras, de educação socioafetiva e de alfabetização linguística e lógico-matemática. Para tal, os espaços de aprendizagem contemplavam o atendimento individualizado, equipamentos para pesquisa, além de áreas comuns de convivência. 

Ao ingressar nesse núcleo, os estudantes ainda não conseguiam atuar sem intervenção alheia, nem fazer seu próprio planejamento de estudos. Ao longo desse estágio, o estudante aprenderia a planificar, a responsabilizar-se e a tomar iniciativas adequadas a diferentes situações, a analisar de maneira crítica as informações de que necessitava para desenvolver os seus projetos. Aprendia a fundamentar as suas decisões e a resolver conflitos. A identificar problemas e interesses, a avaliar e a comunicar as suas ideias e descobertas (evidências de aprendizagem), a debater e a criar acordos de convivência, a recolher criticamente informações, a utilizar devidamente tecnologias de informação e comunicação.

 

Por: José Pacheco

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Novas Histórias do Tempo da Velha Escola (MCCLXVI)

Vila Nova de Anha, 15 de junho de 2043

E lá voltei ao fundo do baú das velharias. Papéis e mais papéis, montanhas de cd, uma caneta enferrujada, uma velha pen drive, reminiscências dos idos de vinte:

“Fui seu aluno da Escola Superior de Educação. lembra-se?”

Volta e meia, escutava essa pergunta e a memória se avivava. Eram antigos alunos. Nos idos de noventa, eu havia proposto aos jovens candidatos a professor a descrição da “escola dos seus sonhos”. E eles não tinham deixado de sonhar.

Conhecera-os aos vinte e os reencontrava aos cinquenta, decididos a concretizar sonhos de juventude. Tinham resistido à tentação do fácil e da acomodação.   

Aquele périplo português me dizia que valera a pena gastar meia vida num longo caminhar. Dos Açores chegava a voz da Conceição: 

“Olá, querido Zé, tens ajudado o teu corpo com algum descanso? 

Ontem, no Conselho da CANR, estivemos a partilhar o impacto que as conversas contigo tiveram em cada um de nós. Emocionei-me até às lágrimas com a riqueza das partilhas. Conclusão: tu tocaste profundamente cada um. Tu inspiraste, tu fortaleceste, fizeste com que continuemos a sonhar que um dia teremos a escola dos nossos sonhos. 

Mais uma vez, agradeço-te do fundo do coração o teu tempo precioso passado conosco. Bem hajas, meu Amigo de sempre. Sente o meu abraço quentinho de afetos e muita Gratidão.”

Do Brasil, a voz da Jaqueline:

“Querido Mestre e amigo, sua fala de ontem me emocionou

Esses temas de outras narrativas de nossa cultura me provocaram “pensar” com os sons.  Pelo que ele provoca. Ninguém tem como diminuir nossa Potência. Nossa alegria. Nosso desejo de continuarmos na coragem de brincar!!! 

Sejamos corajosos prof.”

Seria eu quem deveria manifestar gratidão profunda a quem fora sensível aos meus apelos de amorosidade e coragem. Nesse tempo, eu encontrara uma Alma sensível, que me ensinou a calma da espera finda. Finalmente, a “escola dos sonhos”! 

Valerá a pena voltar à notícia publicada no Diário de Notícias de junho de 23, fazer a memória de um tempo de profundas transformações:

“Entretanto, na Moita da Roda, o envolvimento com a comunidade ganhou espaço, através da Associação Pró-Futuro da Escola da Moita da Roda e dos Conqueiros. É lá também que andam os filhos de Micael Amado, um ex-militar, agora dedicado às áreas do desenvolvimento pessoal. 

“O que acontece ali é único”, diz ao DN, referindo-se ao projeto pedagógico.

A escola “tradicional” não lhe fazia sentido. Nem a ele, nem a centenas – ou milhares – de pais. Foi essa certeza, de resto, e uma busca constante por alternativas que fizeram Andreia Ribeiro chegar ao trabalho do professor José Pacheco. A partir da Batalha (onde mora) tem mobilizado outros pais para esta mudança, que espera ver ocorrer no âmbito da Escola Pública. 

O grupo promoveu, entretanto, uma tertúlia, no final de abril, e em maio convidou José Pacheco para uma série de encontros nas escolas e autarquias da região.

“A nossa batalha é por uma escola pública que integre todos. Estou convicta de que este tipo de ensino vai ajudar muito mais aqueles que estão à margem e evitar que abandonem a escola”, afirma ao DN Carla Marcos, mãe de dois alunos da escola pública, com diferentes idades, e que por isso sublinha a importância de estender estes projetos ao 2.º e 3.º ciclos. O grupo está empenhado em começar essa mudança, já no próximo ano letivo.”

O modelo estatal de ensino confessava a sua inutilidade, tentava impor novas restrições, enquanto ativistas da educação, como a minha amiga e lutadora incansável Andreia, sabiam que seria inadmissível adiar uma mudança há muito tempo anunciada. 

 

Por: José Pacheco

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Novas Histórias do Tempo da Velha Escola (MCCLXV)

Vila Nova de Gaia, 14 de junho de 2043

Na tarde do Dia de Santo António, a Daniela e a Tatiana me levaram ao encontro com pais e professores empenhados em melhorar a educação dos seus filhos e alunos. O Fernando e outros brasileiros ali presentes não precisaram de “colocar o santo de ponta cabeça”, para que o “milagre” acontecesse. Estava acontecendo. E a notícia publicada no DN, disso dava nota:

“Pais procuram escolas onde os filhos possam “aprender e crescer de outra forma”.

Foram os filhos que, sem saber, juntaram um grupo de mães e pais que cresce todos os dias, com o objetivo de criar uma Comunidade de Aprendizagem em Leiria, no seio da Escola Pública. 

Por esta altura aproximam-se de 700 os membros de um grupo no Facebook, parte de um movimento que nasceu há alguns meses, de olhos postos no exemplo do Agrupamento Rainha Santa Isabel, que nem sequer fica perto da cidade, embora integre o concelho de Leiria. 

A mudança aconteceu no início deste ano letivo, liderada pela diretora, Adélia Lopes, que decidiu implementar um projeto-piloto em três escolas básicas, nas aldeias de Lameira, Ortigosa e Moita da Roda, inspirado no modelo da Escola da Ponte, em Santo Tirso, criado pelo professor José Pacheco, no final dos anos 70.

Todos os dias, Isa Morouço percorre mais de meia centena de quilómetros para que a filha possa frequentar a Escola Básica da Moita da Roda. Mora na Maceira, mais perto da cidade, mas dispõe-se a fazer o caminho sabendo que, naquela aldeia, há uma escola onde as crianças têm “a oportunidade de aprender e crescer de outra forma”.

Adélia Lopes explica como tem sido um desafio abraçar este projeto, que está pronta para replicar noutras escolas e níveis de ensino. Encontrou no grupo de professores do [seu] agrupamento a receptividade e entusiasmo necessários, e, aos sábados, todos integram a formação, à distância.”

Aos sábados, professores se reuniam e pais se encontravam, virtualmente. Presencialmente, a Isa encontrara a escola da Moita, a educação desejada para a sua filha. Mas não precisaria de se deslocar cinquenta quilómetros. Poderia ir à escola pública mais próxima e solicitar o projeto educativo. Certamente, ficaria encantada com o conteúdo desse documento. 

Restaria verificar se o projeto escrito era coerente com a prática. Se o fosse (o que, a bem da verdade, raramente acontecia) matricularia a sua filha nessa escola. nela, um professor que ainda não tivesse morrido (profissionalmente, ainda os havia) cuidaria bem da sua filha e de filhos de outros pais. 

Se a Adélia e outros excelentes diretores de agrupamento de escolas instalavam círculos geradores de protótipos de comunidade no seu território, a Ponte poderia, igualmente, instalar um círculo de aprendizagem no território onde o projeto tivera origem: na Vila das Aves. 

Foi o que tentei explicar, na minha visita à escola onde gastara quase toda a minha vida de professor. Tentei explicar à Anita e à Geni aquilo que seria o retomar de um processo de inovação, que tivera início há meio século.

No périplo de vinte e três, muitas escolas aderiram à ideia de criar uma nova construção social. Não faria sentido que a minha escola o não fizesse. Saí da Ponte com a sensação de não ter explicado o que queria explicar. Fiquei na expectativa da aceitação do meu convite. a criação de um círculo de aprendizagem. 

Em vinte e três, após duas décadas de desgaste do projeto, seria necessário retomar um diálogo franco com as famílias e com uma sociedade enferma da “Síndrome da Gabriela” (eu sou assim, fui sempre assim, serei sempre assim…), explicando-lhes que nem sempre foi assim. 

 

Por: José Pacheco

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Novas Histórias do Tempo da Velha Escola (MCCLXIV)

Vila das Aves 13 de junho de 2043

No dia 12 de junho de vinte e três, voltei à Ponte. No dia seguinte, o “Diário de Notícias”, um jornal de grande circulação, publicava uma pesquisa jornalística da autoria da Maria João, com o título: “Comunidades de aprendizagem estão a nascer em todo o país”. 

Tratava-se de um excelente trabalho, a Maria João prestara um bom serviço `”causa da educação”. Mesmo assim, nesta e em próximas cartinhas, me atreverei a redigir alguns comentários sobre uma reportagem que reputei de oportuna e que à Maria João agradeci. Tratar-se-á de quase uma “revisão da matéria dada”. 

Já lá vão cerca de vinte ano, mas será bom lembrar aos professores de 2043 aquilo que propus aos professores dos protótipos de comunidade de vinte e três. A notícia rezava assim: 

“Aprender fora da escola, uma tendência que cresce em Portugal. Por todo o país nascem comunidades de aprendizagem, e algumas dentro da Escola Pública, como é o caso de Leiria. Não há testes, nem sala de aula, nem nada que lembre o ensino tradicional.”

Não se tratava de “aprender fora da escola”, mas de conceber e desenvolver uma nova construção social de aprendizagem, na qual a escola se inseria numa rede a que poderíamos chamar “comunidade”. 

O primeiro momento de uma grande mudança foi a criação de “núcleos de projeto”. Considerada a escola como nodo de uma rede de aprendizagem, seria necessário constituir parcerias, estimular o espírito inventivo e assumir responsabilidade social, dentro do princípio ético que nos dizia que tudo o que fosse inovado deveria ser para benefício de todos. 

Expliquei como se constituiria um Núcleo de Projeto. Era o dispositivo central de um processo de mudança das práticas, o primeiro passo de um projeto de reelaboração da cultura pessoal e profissional, concomitante com a concretização de um projeto educativo. 

O Núcleo de Projeto nascia no encontro entre professores, famílias e agentes educativos locais. Também seria necessário incluir gestores e pesquisadores. 

A preocupação maior era a de cuidar da pessoa do professor, elevar-lhe a autoestima, o seu estatuto social. Aceitar que muitos não ousassem mudar, por medo das consequências. Nada impor a quem discordava e criticava, porque crenças não se discutem – respeitam-se. 

Eu tentava estabelecer uma comunicação dialógica, com os gestores. Usar de compreensão e compaixão para com eles, de muita resiliência, de muita paciência, para não desistir.

Na visita à Ponte de vinte e três, quando procurava a área das artes, calhou de me perder em corredores semelhantes aos das escolas “normais”. Não os identificava com a escola que ajudara a criar. Eram corredores frios, paredes vazias de uma escola “normal” colada ao edifício da Ponte. 

Dez anos antes, a Ponte tinha sido exilada em terra alheia, sobrevivia paredes meias com o edifício de uma escola “normal”. Havia um “espaço comum” e foi por ele que me perdi, na deambulação em busca da área das artes da Escola da Ponte.

Percebi que estava perdido em corredores alheios, quando alguém apareceu e me interpelou nestes termos.

“O senhor não pode estar aqui!”

Quando deparava com alguém desconhecido, sempre perguntava à pessoa o seu nome, apresentava-me e cumprimentava-a, era uma regra de elementar convivencialidade. Foi o que fiz.

“Como se chama?

“Sou o coordenador da EBI” – respondeu.

“Então, não estou na Escola da Ponte?”

“Não.”

“Como se chama? Qual é o seu nome?” – insisti.

“Sou o coordenador da EBI” – respondeu. E me levou por corredores mortos, até aos corredores vivos da Ponte.

Amanhã, continuarei o comentário à notícia de jornal.

 

Por: José Pacheco

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Novas Histórias do Tempo da Velha Escola (MCCLXIII)

Portela do Homem, 12 de junho de 2043

Entre a Ribeira e o Jardim da Cordoaria dos idos de cinquenta, agudizara-se o clima de “guerra santa” entre os Tigres da Vitória e os Índios da Cordoaria. Entre retaliações, vinganças e contra-ataques, conseguíramos feito “pessangas” (lede a dupla observação do fundo da cartinha) com a malta da Ribeira, fazendo-os nossos aliados nas lutas que nos eram impostas e que nós, gente de paz, não desejávamos. Também era fato que não nos fazíamos rogados, porque um “tripeiro” não virava a cara à luta…

Éramos crianças nascidas em berço miserável, sobreviventes de outras lutas. Apenas tentávamos conservar algum espaço vital para o futebol de rua e para a atividade comercial dos nossos amigos ciganos. A “faixa de gaza” dessa altura era a Bataria da Vitória. Se aquele lugar havia servido para o quarto Pedro de Portugal (primeiro do Brasil) despachar a tropa do irmão Miguel, ali instalamos o “quartel general”, junto à Fábrica de Rebuçados Vitória.

Aquela saída da escola ficou marcada por uma torpe emboscada, a que reagimos rijamente. 

“Ó Zé, vai lá para a frente, que tu és o chefe!”

E lá fui, à frente da minha seita, bem protegido pelo meu fiel escudeiro Artur, tentando escapar a uma saraivada de pedras, que nos isolou do resto do meu exército. Acabei com a cabeça partida e o sangue jorrando, a caminho do Hospital de Santo António. Ali, me esperava o sorriso sádico de um enfermeiro:

“Ora cá está mais um daqueles que pensa que eu não tenho mais nada que fazer!” – e toca de me mostrar a agulha curva e a tripa com que iria coser a minha testa.

Chegado a casa, com a cabeça enrolada em trapos e roupa suja de sangue, logo o meu pai, de cinto na mão pronto para a sova, perguntava:

“Que aconteceu?”

“Caí, pai.”

“Ai caíste? Eu dou-te a “queda”! Toma lá!”

E lá vinha uma coça de escacha pessegueiro. 

Foi entre infantis contendas e pancadas do meu progenitor, que aprendi lealdade, que vivi uma solidariedade, que assegurava a sobrevivência das gentes da Ilha dos Tigres – a ética do cuidar – um por todos, todos por um. Ali, a ética era um fato.

Netos queridos, ficastes surpreendidos com uma afirmação contida na cartinha de ontem. Escrevi que o maior obstáculo à mudança seria eu, se não decidisse tomar a decisão ética de reelaborar a minha cultura pessoal e profissional. Eu e cada professor, que permitisse que dele fizessem um funcionário de bovina obediência a “superiores”, que o recompensavam com aumento de salário, à medida que lhes ia sendo fiel. 

Como referi, quando fui para professor, eu sabia de eletrotecnia, não sabia ser professor. Eu sabia dar aula, à semelhança do titular de um qualquer curso, que enveredava pela profissão de professor. 

A cultura profissional dos docentes padecia de equívocos. Um diplomado em Física poderia saber muito de Física, mas não sabia ser professor. Formandos de outras áreas de qualquer curso de formação inicial poderiam ser exímios dadores de aula, mas não eram professores. E, se um dador de aula reconhecia que, dando aula, não conseguia garantir a todos o direito à educação, teria direito a continuar a trabalhar desse modo? Se não assumisse um compromisso ético com a educação, teria direito de continuar a ser chamado professor?

 

Observação:

“Pessanga” é ‘calão” tripeiro, significa pedir tréguas, expressão usada pelas crianças, nos seus jogos, brincadeiras e guerrilhas.

“Tripeiro” é o nome que dão ao habitante da cidade do Porto. A palavra tem origem numa lenda. Após os preparativos da armada da conquista de Ceuta, o Porto ficou sem carne, foi toda nos barcos da armada. Ficaram as “tripas à moda do Porto”.

 

Por: José Pacheco

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Novas Histórias do Tempo da Velha Escola (MCCLXII)

Vilarinho das Furnas, 11 de junho de 2043

No junho de há vinte anos, em mais um périplo de prospecção de “não-lugares” (de utopias realizáveis), achei lugares onde uma nova educação surgia. O torpor instrucionista não se apossara totalmente dos educadores, e o entusiasmo de diretores de agrupamento me surpreendeu. 

“Professor, lembra-se de mim?”

Não lembrava… 

“Fui seu aluno na ESE do Porto. 

Eram diretores de agrupamentos de escolas. Tinham disso meus alunos de formação inicial. Contavam cerca de cinquenta nãos de idade e, finalmente, poderiam concretizar a escola sonhada. Em muitos “não-lugares” a encontrei. No Gerês, a Evelyne e o Miguel cuidavam do futuro do Lobo, do Félix e dos filhos de jovens famílias, que repovoavam terras outrora desertificadas por efeito de migrações e pela nefasta iniciativa da criação de “centros educativos”. 

No interior de Portugal, havia aldeias sem crianças. Eram evidentes as obscenas assimetrias sociais de que padecia o interior do país. A habitante mais velha de uma aldeia recordava o tempo em que por ali havia “muita canalha”. A última das três antigas escolas primárias encerrara nos anos noventa do século passado. Há muito tempo não via uma criança. A última nascera há vinte anos:

“É triste ver estas aldeias a ficarem desertas. É quase tudo gente reformada. Emigrantes que voltaram e outros que estão na terra, mas também já se reformaram. A maioria tem mais de sessenta anos”.

Mas, no interior português despovoado, surgiam focos de inovação, “sangue novo”, que contrastava com pseudo-comunidades oferecidas por empresas e financiadas por ministérios. No Gerês, senti a presença do espírito comunitário de antanho, práticas “alternativas” ainda escassas, embrionárias, mas efetivas, que contrastavam com o cíclico regresso de práticas fósseis. 

Os jovens continuavam a perder tempo dentro de salas de aula, doze anos, quase dez mil horas dentro delas e quase nada aprendiam. Os “centros de explicações” se multiplicavam e prosperavam. Os ministros não sabiam que o tempo de aprender deveria ser o tempo de cada aprendente, articulado com o tempo do trabalho dos professores, das famílias e dos ciclos de vida das comunidades. 

Nesse tempo, urgia que o professor não desperdiçasse tempo “dando aula”, impondo um consumo acéfalo de currículo, que se desembaraçasse de um currículo pronto-a-vestir.

O sistema de ensinagem impunha um tempo único, igual para todos, ignorando que os alunos eram seres humanos únicos, irrepetíveis, dotados de um ritmo de aprendizagem específico. Os alunos ficavam tão absorvidos consigo mesmos e com uma competição desenfreada, para entrar na universidade, que não dispunham de tempo para a criação de vínculos.  

Naquele sábado de encontros e reencontros, perguntaram-me qual era o maior obstáculo à mudança. Respondi:

“O maior obstáculo sou eu, se não assumo a decisão ética de reelaborar a minha cultura pessoal e profissional. Quando decidi ser professor, eu só sabia dar aula, não sabia ser professor. Se tivesse continuado a dar aula, sabendo que uma parte significativa dos meus alunos não iria apreender, eu deveria seguir um de dois caminhos: ou aprendia a ensinar de modo que todos aprendessem, ou iria embora da profissão de professor. Se eu continuasse a dar aula, consciente de condenar jovens à ignorância, eu não seria professor, eu seria um crápula.” 

Em círculos de aprendizagem, a reelaboração da cultura profissional de muitos professores já acontecia, acompanhando a alteração de padrões atitudinais de gradual e complexa modificação da vida em comunidade.

 

Por: José Pacheco

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Novas Histórias do Tempo da Velha Escola (MCCLXI)

Campo do Gerês, 10 de junho de 2043

No feriado do “Dia de Portugal” de há vinte anos, o vosso avô andava por terras lusas, num tempo em que o nervo ciático ainda permitia veleidades. Já levava mais de quarenta anos de andarilhagem, anos a fio a cuidar de outros, sem tempo para cuidar do próprio. 

É verdade, netos queridos. Quando me dava conta de que o corpo vacilava, quando precisava de me cuidar, deparava com uma lista de compromissos sem fim, para cumprir. Muitos educadores, muitas escolas despertavam de uma longa letargia. As famílias eram mais exigentes, rigorosas, na escolha de uma escola para os seus filhos. E havia comunidades atentas aos malefícios do sistema de ensino que ainda vigorava, nos idos de vinte.

Talvez simbolicamente, no “Dia de Portugal” de há vinte anos, o vosso avô foi ajudar a melhorar a educação que se fazia em Portugal. Bem acompanhado pela Maria, pelo Vasco e pelo Manel, num carro “amigo do ambiente”, fui do Porto a Campo do Gerês, ao “VI Encontro de Artes, Ecologia e Ruralidades”. 

Os amigos que me convidaram deram o seguinte título à minha “palestra”: “Educação Emancipadora em Territórios de Baixa Densidade”. E propuseram conteúdos: “podem-se abordar os contextos públicos, privados e auto-gestionados; pretende-se visibilizar que uma educação Emancipadora, Democrática e Empoderante pode e deve acontecer em diferentes realidades sociais, ao alcance de tod@s (sic). 

No final da “palestra”, seria apresentada a Comunidade de Aprendizagem “Germinar”. E se conversaria sobre Educação Livre na Natureza, “explicando o potencial educativo que o rural, o comunitário e a natureza têm para as crianças crescerem em Liberdade e plena Consciência.”

Poder-se-ia acreditar estarmos já num novo tempo educacional e que o velho sistema teria os dias contados. A Evelyne convidara professores e a diretora do Agrupamento Escolar de Terras de Bouro. Era elevada a minha expectativa. Eu fizera dezenas de viagens por Terras do Bouro, ajudando professores de escolas rurais a melhorar as suas práticas, e os seus projetos sempre haviam sido destruídos. Seria nesse dia que a administração educacional despertaria para a necessidade de levar a sério as coisas da educação?

Até então, sobravam os bons educadores e escasseavam as iniciativas de boa educação, sobretudo em terras do interior. Decorridos trinta e sete anos sobre a publicação da Lei de Bases do Sistema Educativo, seria oportuno fazer um “balanço” do cumprimento da lei, começando pelo artigo 48.º (45º no original), que rezava assim:

“O funcionamento dos estabelecimentos de educação e ensino, nos diferentes níveis, orienta-se por uma perspectiva de integração comunitária, sendo, nesse sentido, favorecida a fixação local dos respectivos docentes”.

Por onde andaria a “integração comunitária”, se os professores, sobretudo em início de carreira, eram “colocados” longe da sua… comunidade?

As condições impostas pelo sistema impedia que se estabelecesse um vínculo afetivo e efetivo com as comunidades de pertencimento. As escolas onde eram colocados não passavam de “apeadeiros”, lugares de passagem de professores, que ansiavam ficar “colocados” perto de casa.

Triste sorte a daqueles que passavam por mudanças de domicílio e de vida. Coloquei esse sentimento nas cartinhas, que te enviei, querida Alice, nos anos que se seguiram ao teu nascimento:

“Os teus pais não tinham poiso certo. Levavam a casa às costas para onde os atirava a incerteza da “colocação”, o final feliz de uma angustiada espera.”

Amanhã, vos falarei do que no encontro do Gerês aconteceu.

 

Por: José Pacheco

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