Itaporanga, 24 de janeiro de 2044
Já escrevi e apaguei esta cartinha, várias vezes. Não “encontro o fia à meada” de contar como terminou o encontro de Caraíva, os seus útimos e desagradáveis momentos. Torna-se difícil traduzir a tristeza, que me invadiu, naquele fim de tarde. à distância de vinte anos. Daí que tente substituir o sentimento de deceção por uma descrição
Uma artista plástica e “professora oficineira” descreveu o seu regresso a Caraíva, denunciando dificuldades engendradas por políticos. Agradeceu a realização da ARCA:
“Vocês não têm noção do que vocês são capazes! “Irei pensar um piloto que semeie sementinhas de educação ambiental.”
Aproveitando a “deixa”, a Flávia desabafou:
“Muitos colegas da minha escola já tomam remédio para dormir. E eu espero não desanimar. Não julgo os meus pares, porque vejo o que eles passam. O
chão de escola pública não é fácil. Mas, não podemos desanimar, a Escola Pública tem de sobreviver.”
Em singelas e emocionadas palavras, enquanto lamentava o precário estado a que a rede pública de ensino tinha chegado, a Flávia apelava a que se criasse condições de FAZER Escola Pública.
A Ludmilla reforçou a intervenção da Flávia por constituir a “modificação de algo bem maior do que nós”. E manifestou alegria por “ver tanta gente querendo fazer coisa boa”.
Uma jovem assim falou:
“Venho de um processo formativo muito doloroso, na universidade.”
Falou sobre a experiência recente de suportar as absurdas rotinas de uma universidade que, embora ainda mantivesse o monopólio da creditação – era uma fábrica de diplomas – perdera o monopólio do saber. Mas, eram comerciantes universitários sem chão de escola que pontificavam nas inúteis “semanas pedagógicas” organizadas por secretarias de educação.
“Toda a equipe vai para um lugar, para onde a secretaria nos mandar.”
Desde há muitos anos letivos, “palestrantes ilustres” mostravam “novidades pedagógicas” e “bugigangas” das ciências da educação. Desses eventos, os professores nada aproveitavam, e a sua situação só piorava. Saíam de lá com um certificado. A secretaria saía desses inúteis eventos com os cofres mais vazios. Os palestrantes, com os bolsos mais guarnecidos.
Uma mãe (dizendo “não ser educadora…) se revelou bem mais educadora do que pensava:
“Em outras palavras, é somente através da promoção de aprendizagens significativas que a educação contribuirá para a transformação humana e social. Fiz uma lista de coisas, que vou espalhar numa carta. Senti vontade de a mandar. Vou espalhar a minha cartinha, colocar-lhe o nome ARCA.”
Uma educadora (profissional de em arteterapia), que decidira morar em Caraíva, desabafava:
“Apanhei muito pelo caminho. Passei pela Fundação Casa, vendo como tratavam os meninos, vendo meninos apaixonando-se por Clarice. Não consegui manter-me na educação. Não fazia sentido editar material didático.
São Paulo também não fazia sentido. Vim para cá”.
Toda essa gente chegava em demanda de uma vida em harmonia com a Natureza, num paraíso artificial. Entristeci. E ainda mais triste fiquei, quando escutei um líder Pataxó tecer hosanas à escola da “sala de aula”, aquela praga da “sala de aula”, que o Lancaster, a pedido do Simão Bolívar, introduzira na América do Sul – a escola da “sala de aula” dos colonizadores.
No lugar onde, em 1537, os portugueses edificaram a primeira capela, em lugares onde o genocídio dos povos originários começou, decidi mudar de rumo, no caminho de verdadeiras “descobertas”, ajudando a descolonizar a mente e o espírito.
Mas, até quando se prolongariam as sete pragas da Educação?
Por: José Pacheco
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