Almenara, 14 de novembro de 2042
Uma das críticas (destrutivas) feitas à Ponte foi a de que os nossos alunos tinham baixo rendimento académico. E que nós não fazíamos provas, testes, porque temíamos que tivéssemos de lhes atribuir fracas notas.
Nas suas escolas, esses professáurios críticos aplicavam prova e “davam nota”. Pouco ou nada avaliavam e não sabiam que avaliação não era o mesmo que classificação. Enfim! Os maldizentes boatavam, na intenção de denegrir o projeto. Esqueçamo-los. E vejamos o que sobre a problemática escreveram aqueles que eram competentes na matéria.
“Tradicionalmente, parte-se do pressuposto de que a reivindicação de uma maior exigência académica implica uma escola mais seletiva, enquanto que uma escola de carácter inclusivo pressupõe a ausência de processos de avaliação fidedignos.
As práticas quotidianas e os resultados escolares obtidos pela Escola da Ponte apontam na direção contrária. Sendo uma escola com um projeto educativo marcadamente inclusivo, não deixa, por causa disso, de obter resultados acima da média. As provas de avaliação aferida no Ensino Básico e, posteriormente, o Relatório da Comissão de Avaliação Externa comprovaram. Constam de um relatório redigido por uma equipa da Faculdade de Ciências da Educação da Universidade de Coimbra.
O que é notável, no entanto, é compreendermos que tais resultados não se obtiveram apesar da assunção de um projeto em que os propósitos de inclusão escolar constituem a trave-mestra do conjunto de intervenções educativas que se desenvolvem, mas por causa, precisamente, da assunção congruente da dimensão inclusiva deste mesmo projeto.
Um projeto que marcou a organização e a administração dessa escola, assim como determinou, de forma profunda, a organização do espaço e do tempo da aprendizagem, o tipo de gestão curricular adoptado, bem como a gestão do processo de aprendizagem nas mais diversas áreas do saber, interferindo de forma decisiva nas soluções adoptadas.
Pode afirmar-se, então, que nos encontramos perante uma concepção mais ampla de exigência académica, em que esta deixa de ficar confinada, apenas, aos testes estandartizados que visam hierarquizar as crianças, para ser assumida como um propósito que decorre do facto de as escolas não renunciarem à educação de todos os alunos que a frequentam, tendo em conta as suas particularidades e potencialidades e assumindo, por inteiro, os compromissos e as implicações pedagógicas decorrentes de uma tal opção.
Daí que se possa afirmar que, numa escola pública e democrática, a exigência académica não é um conceito estranho a essa escola e ao seu funcionamento. Pressuposto que a Escola da Ponte permite sustentar, ao mesmo tempo que permite afirmar que aquilo que se recusa não é a exigência académica, em si, mas os seus efeitos discursivos como um instrumento necessário para justificar as políticas de cariz meritocrático, os quais, ao elegerem a seleção académica como uma necessidade pedagógica e social, contribuem, entre outras coisas, para se esquivarem a uma séria e rigorosa discussão acerca das finalidades políticas, sociais, culturais e educativas da Escola, do seu funcionamento como instituição educativa formal, dos sentidos do saber escolar e das implicações educativas dos modelos de mediação pedagógica a partir dos quais se configura a gestão do processo de ensino-aprendizagem.“
Há quarenta anos, já se apontava a necessidade de conceber uma nova construção social de aprendizagem e de educação, que só viria a tomar forma concreta na década de vinte.
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