Novas Histórias do Tempo da Velha Escola (MCCLXVII)

São Pedro da Cova, 16 de junho de 2043

Escreveu o Mestre Anísio que “se o nosso interesse é pela vida, aprender significa adquirir um novo modo de agir. Por isso, só se aprende o que se pratica, seja uma ideia, seja uma atitude, ou mesmo um controle emocional. Mas não basta praticar”. 

Para que vivessem experiências reais da vida, educadores da década de vinte, vezes sem conta, me solicitaram o “modo”. Quando a pergunta “Como fazer?” surgia, eu respondia:

“Leva-me para a tua sala de aula. Lá, encontraremos um ou mais modos de fazer.”

Entretanto, enviava algum “material” ensaiado cinco décadas antes, na Escola da Ponte. Começava pela organização do trabalho escolar (espero que não seja fastidioso aquilo que escreverei nesta e na cartinha de amanhã).

Os núcleos eram a primeira instância de organização do trabalho de educandos e educadores da Ponte, correspondendo a unidades coerentes de aprendizagem e de desenvolvimento pessoal e social. 

Nos núcleos, sujeitos de aprendizagem envolviam-se em tarefas e desafios, para resolver problemas, satisfazer necessidades, desejos e sonhos. Em processo, lidavam com questões interdisciplinares, tomando decisões e agindo em equipe. 

Através da metodologia de trabalho de projeto, eram trabalhadas habilidades de pensamento crítico e criativo, bem como a percepção de que existiam várias maneiras para a realização de uma tarefa. 

Nesse sentido, a definição do currículo revestia-se de um caráter dinâmico e carecia de uma permanente ação reflexiva por parte da equipe de educadores, de modo a que fosse possível a disponibilização de recursos e materiais, para aquisição de saberes e desenvolvimento de competências essenciais. 

Não havia lugar a “retenção”, ou “recuperação”. A mudança de núcleo estava atrelada à aprendizagem de atitudes, em função de um perfil terminal. E acontecia, se o educando aceitava transitar de núcleo, da avaliação feita pelo seu tutor e por aquiescência da família.

A transição de núcleo acontecia quando a criança revelava, além de maturidade nas atitudes, competências de auto planejamento e avaliação, de pesquisa e de trabalho em pequeno e grande grupo, o cumprimento dos acordos. 

Aos primeiros planos elaborados pelos professores, sucediam-se esboços de roteiros de estudo, que cada aluno ia aperfeiçoando, até atingir a capacidade de prever uma gestão equilibrada dos tempos e de espaços de aprendizagem. 

Nos círculos de aprendizagem havia dois núcleos: Iniciação e Desenvolvimento.

Na Iniciação, o estudante começava o seu processo de aquisição de autonomia e adquiria competências e habilidades psicomotoras, de educação socioafetiva e de alfabetização linguística e lógico-matemática. Para tal, os espaços de aprendizagem contemplavam o atendimento individualizado, equipamentos para pesquisa, além de áreas comuns de convivência. 

Ao ingressar nesse núcleo, os estudantes ainda não conseguiam atuar sem intervenção alheia, nem fazer seu próprio planejamento de estudos. Ao longo desse estágio, o estudante aprenderia a planificar, a responsabilizar-se e a tomar iniciativas adequadas a diferentes situações, a analisar de maneira crítica as informações de que necessitava para desenvolver os seus projetos. Aprendia a fundamentar as suas decisões e a resolver conflitos. A identificar problemas e interesses, a avaliar e a comunicar as suas ideias e descobertas (evidências de aprendizagem), a debater e a criar acordos de convivência, a recolher criticamente informações, a utilizar devidamente tecnologias de informação e comunicação.

 

Por: José Pacheco

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