Novas Histórias do Tempo da Velha Escola (MCCLXXXIII)

Pitamariça de Baixo, 2 de julho de 2043

Na “sincronicidade” das coincidências dos inícios do Verão português e do Inverno brasileiro de vinte e três, decisões decisivas (e não é pleonasmo…) foram tomadas. Das consequências vos falarei mais adiante. 

Algo inusitado acontecera. Não encontrava explicação plausível para certos fenômenos. E os desfechos não seriam explicados racionalmente, tinham mãozinha do esotérico. 

Enfim! Entre julho e agosto, uma “ARCA” seria constituída, juntando a boa-vontade e a perícia de boa gente nas duas margens do oceano. E, durante esses dois meses, nos encontros das quartas e dos sábados conversaríamos sobre o “quanto baste” de fundamentação teórica do projeto das novas construções socias de aprendizagem e de educação.

Setembro marcaria o reinício do projeto, o voltar a uma formação concomitante com a mudança. Era o primeiro dia do resto das nossas vidas de profissionais de um desenvolvimento humano humanizador, do exercício da solidariedade a partir de dificuldades e obstáculos encontados, pois qualquer dia seria um bom dia para recomeçar, mais uma oportunidade de tomar uma decisão ética. 

Hoje, continuarei a descrição da origem remota (embora a mais remota se situe na Antiguidade Clássica) do velho modelo de ensino. Nos colégios seiscentistas, era comum a prática de denúncia ou delação. Era permitido e estimulado denunciar ao Principal as faltas cometidas por colegas. Os alunos estavam divididos em grupos comandados por um decurião e a distribuição dos alunos, por ordem de mérito, estava relacionada com a divisão desta em várias decúrias.

O ensino praticado nas Universidades foi adotado nos Colégios, em regime de internato, sujeito a horários e regulamentos precisos. 

Herdeiro da escolástica, o modus parisiensis adotava a lectio e momentos de disputatio. As vitórias davam direito a prémios, louvores e condecorações. Nas repetitiones, os alunos repetiam as lições ouvidas ao professor. Eram aplicados castigos corporais, corrigindo faltas disciplinares e, também… como incentivo aos estudos. 

Em 1552, a Ratio Studiorum passaria a uniformizar o funcionamento dos Colégios. E, em 1599, foi publicada a edição definitiva da Ratio Studiorum, o modelo de ensino praticado durante séculos pela Companhia de Jesus. As quatrocentas e sessenta e seis regras, que a compunham, abordavam temas como: formação dos professores, relações com os pais dos alunos, manuais de ensino, metodologias, plano de estudos de humanidades, filosofia, história, ciências físicas e matemáticas, orientações pedagógicas, regime de avaliação, regras administrativas e disciplinares, prémios e castigos. 

Ao longo dos séculos, com uma acentuada degradação da Ratio Studiorum, a velha escola já nem conteúdos conseguia transmitir. As adaptações operadas na velha proposta jesuíta foi desvirtuada – no século XXI, poder-se-á aceitar, por exemplo, a reprovação de alunos com 100% de assiduidade? 

Pedia-se à escola “educação financeira e para o consumo, pedia-se que educasse para para a saúde, mas ela engendrava inadimplentes e alunos com obesidade mórbida. Pedia-se que houvesse educação sexual, e alunas eram estupradas em “trotes”, dentro das universidades. Falava-se de autonomia, e os professores cativos de uma platônica caverna, para onde uma “formação” deformadora os atirarau, semeavam heteronomia em sala de aula. Compeiae-lhe “educar para a cidadania”, mas era imposto o voto obrigatório,. Naturalizava-se a violência, num país onde se matava professores e alunos, dentro das escolas.

 

Por: José Pacheco

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