Moita, 3 de junho de 2043
Quando, num auspicioso junho de vinte e três, eu preparava um setembro inovador, recebi da Raquel e do Adrian uma mensagem de que vos darei a ler alguns excertos.
Diziam ser uma mensagem “um pouco longa”, para que eu entendesse “o nosso ponto de situação neste caminho cheio de dúvidas, avanços, recuos”. Mal sabiam esses amigos que muitos outros pais me enviavam mensagens bem mais longas. E que as “dúvidas” de quem protegia os seus filhos dos malefícios do “sistema” também eram fruto de “avanços e recuos”.
No setembro de 2043, não haveria lugar a recuos. Tínhamos esperado mais de meio século por aquele momento. Havia pais decididos a agir. A lei nos protegia. As ciências da educação nos davam guarida. A paciência se esgotara.
“Contextualizando: Temos três filhos, sendo que o mais velho fará seis anos neste ano e temos o desafio de ver o melhor caminho a seguir no que respeita à educação.
Em fase de pré-escolar frequentaram projetos lindíssimos, onde havia o respeito pela individualidade e interesses de cada criança, muito contacto com a natureza e favorecimento da autonomia. Vimos crianças felizes, amadas, seguras e que pensavam por si.
Contudo, o ensino tradicional que nos é oferecido, a partir dos seis anos assusta-nos. É standardizado, onde todos têm de aprender a mesma coisa e ao mesmo tempo.
Dada a nossa experiência pessoal e falando com várias pessoas fora e dentro da área da educação, notamos que o ensino está de tal forma massificado que quase não existem escolas com adultos devidamente preparados (e em preparação) que compreendam e respeitem as necessidades individuais de cada um, que potencializem os dons de cada criança/jovem e os faça chegar à sua vocação, criando um projeto de vida.
Acreditamos que o professor deve ter um papel de observador e guia, potencializando a curiosidade das crianças, fazendo-as pensar, desenvolver, tornando-as pessoas capazes de, no futuro, serem pessoas empreendedoras, ativas socialmente, com espírito crítico, seguras, autónomas e acima de tudo respeitadoras de si próprias, dos outros e do ambiente, pois só assim se educa para a Paz (sim, o bullying e cyberbullying também nos preocupam).
Introdução longa, para demonstrar que tudo isto começou a criar em nós, há uns anos, inquietude e uma vontade de saber mais. Foi então que começamos à procura de alternativas pois parecia-nos que ir contra um sistema era uma batalha perdida.
Depois de falarmos com imensas pessoas e projetos, pensamos que como não tínhamos alternativa, teríamos de meter as “mãos na massa” e criar algo (…) Seriam necessários dois pilares fundamentais: um profissional alinhado com este mindset e um espaço que tivesse bastante terreno para as crianças terem contacto com a natureza.
Demos conta que o profissional não era nada fácil de encontrar…
Conseguimos reunir com o Presidente da Câmara e ele ficou fascinado com o projeto. E disse-nos que nos apoiaria. Ligou para o Vereador dizendo que ele próprio queria um projeto destes no Município e tinham de ajudar-nos com a questão do espaço.
No meio disto tudo, tínhamos contactado o Prof José Pacheco que nos respondeu a dizer que nos ajudaria. A dúvida que pairava em nós era:
“Como professores do ensino público conseguem fazer isto, estando dentro do sistema que lhes impõe imensas condutas contrárias? Montar um projeto fora da escola seria o caminho?”
Eram muitos os caminhos. Pedi a esses e a outros educadores que conversassem sobre o assunto, no encontro das 11 horas de sábado (do Brasil, 15 horas de Portugal).
Vos direi o que nesse encontro se falou.
Por: José Pacheco