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Novas Histórias do Tempo da Velha Escola (MCXCIII)

Congonhas, 3 de abril de 2043

Netos queridos, envio-vos uma foto do tempo em que ainda havia sala de aula. Ela acompanhava uma notícia de jornal, que achei no baú das velharias. A notícia era referente a uma vaga de violência, que ceifou as vidas de professores e alunos.

Foi há vinte anos. Jornalistas e “especialistas” comentavam os atos de violência, cada qual a seu modo. Ambos contornando uma das origens das tragédias. Ambos naturalizando os fatos. Ambos cativos de uma cultura feita de violência simbólica e de outros absurdos educacionais correntes em… sala de aula. 

Essa foto não fora publicada por acaso, mas por… distração. Era sinal seguro que que ambos – jornalistas e “especialistas” – permaneciam prisioneiros de caducos valores e velhas crenças. 

Vede o que diziam os jornalistas:

“Aluno cria perfil e ameaça fazer massacre em escola de Águas Claras. Unidade de ensino acionou o batalhão da Polícia Militar para realizar a segurança dos estudantes.”

Três professoras e um aluno foram esfaqueados dentro da escola. O agressor, um aluno do oitavo ano, foi contido pelos policiais.”

“Professora morre após ataque com faca em escola. A Polícia Militar foi acionada para prestar atendimento no local. A Polícia Civil está investigando os fatos

“Um professor foi assassinado numa escola de Minas Gerais.”

“Aluno matou a professora e se suicidou.”

“Professor atacado no interior da sala de aula e ferido gravemente deu o primeiro alerta para o que se estava a passar. Infelizmente este ataque provocou a morte a duas pessoas.”

“A atiradora, que matou três crianças e três adultos numa escola cristã particular era uma antiga aluna do estabelecimento e terá planeado o ataque, indicaram as autoridades policiais.”

A polícia alemã informou que oito pessoas morreram, incluindo o atirador, no ataque realizado contra uma igreja”

Um adolescente de 14 anos foi estuprado, torturado e queimado vivo dentro de uma igreja.

Um pastor foi assassinado dentro de igreja evangélica.”

As consequências da educação (familiar, social, escolar) que, nesse tempo, se fazia iam para além dos assassinatos em escolas e igrejas, os locais preferidos dos assassinos:

Por que seriam as escolas e as igrejas os alvos preferidos dos atiradores?

A violência ia para além de escolas e templos, projetava-se na Guerra da Ucrânia (lembrai-vos dessa barbárie, às portas de uma Europa dita civilizada?) e era notícia frequente na América dita das “oportunidades”:

“Oito corpos de migrantes são encontrados em fronteira do Canadá com os EUA

As autoridades informaram que as vítimas, entre elas duas crianças, foram descobertas perto de um barco virado.”

Lede comentários de “especialistas”:

“A saúde mental de todos os que estão no ambiente escolar, especialmente no pós-pandemia, é assunto urgente!

A cultura armamentista e do ódio estimulada pelo governo que se foi levou a uma exposição de casos nunca visto no Brasil.  Sempre houve violência na escola, mas não nesse nível. 

A Pandemia fortaleceu um clima já existente, mas não parece ser a causa.”

Eram muitas as “causas” e todas interligadas. E os escribas tão longe estavam da compreensão do fenômeno! A causa última passava ao largo da sua compreensão. Escassas vozes se acercavam da raíz do problema:

“Infelizmente, um imprevisto previsto. O trágico retrato de um sistema de educação arcaico e falido e de uma sociedade doente e ignorante.”

Certamente, não seriam jornalistas, nem “especialistas”. E, provavelmente, teriam lido Brecht:

“Dizem das águas de um rio que são violentas, mas nada se diz das margens que as comprimem.”

 

Por: José Pacheco

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Novas Histórias do Tempo da Velha Escola (MCXCII)

São José dos Campos, 2 de março de 2043

Queridos netos, de vez em quando, preciso levar-vos notícias de tempos idos, para que não vos instaleis nas novas normose de 2043. A memória é esperta, vai apagando registos de ignomínia e corremos o risco de total esquecimento do que acontecia, vinte anos atrás.

“A diretora de uma escola da Flórida foi forçada a renunciar depois que um pai reclamou que alunos da sexta série foram expostos à “pornografia” durante uma aula sobre arte renascentista que incluía a escultura David, de Michelangelo.

A pobre diretora não resistiu à campanha de difamação e renunciou ao cargo após o ultimato do presidente do conselho escolar.

Um pai reclamou que o material era pornográfico e dois outros disseram que queriam ser notificados sobre o conteúdo das aulas, antes que elas fossem dadas a seus filhos.

Em entrevista ao site Slate, Barney Bishop, presidente do conselho pedagógico, disse que, no ano passado, a diretora enviou um comunicado aos pais avisando que os alunos iriam ver a imagem de David, mas o mesmo procedimento não foi feito este ano. Bishop chamou isso de “erro flagrante” e disse que “os pais têm o direito de saber sempre que seus filhos estão lidando com um tópico ou uma imagem controversa”.

Vivíamos temos sombrios, cativos de fundamentalismo, doentes de ignorância. 

A estátua retrata David com uma funda na mão, indo lutar contra Golias. Recordei-me de ter passado mais de uma hora numa fila à porta da Galleria dell’Accademia de Florença, para contemplar o David de Michelangelo. 

A polêmica deixou florentinos e especialistas em arte renascentista perplexos. A diretora da Galleria dell’Accademia disse estar “impressionada” com a situação e afirmou que pensar que a estátua de David é pornográfica revela não apenas uma má compreensão da Bíblia, mas da própria cultura ocidental.

“Não acredito que isso realmente aconteceu, no começo pensei que fosse uma notícia falsa, de tão improvável e absurdo que era”, disse a diretora do museu. “É preciso fazer uma distinção entre nudez e pornografia. Não há nada de pornográfico ou agressivo no Davi, ele é um jovem, um pastor, que mesmo segundo a Bíblia não usava roupas ostentosas, mas queria defender seu povo com o que ele tinha. Confundir arte com pornografia é simplesmente ridículo. Arte é civilização, e quem a ensina merece respeito.”

Quase contemporâneo de Michelangelo, apesar de considerar ser possível ensinar todos os alunos como se de um só se tratasse”, Comenius advogava uma educação em ambiente escolar arejado. Porém, durante mais de quatro séculos, os alunos foram armazenados em “estufas calafetadas”, alinhados em classes (pretensamente) homogéneas e tratados como se fossem um só. 

Havia escolas de salas com porta de fechar, cujo cheiro a mofo já ninguém sentia – eram as ditas “salas de aula normal”. Sempre que eu deparava com esse dístico afixado na porta das salas normais”, eu perguntava: 

“Cadê as salas anormais?”

Perguntaram a Michelangelo como conseguira fazer a estátua de David.

“Foi fácil” – respondeu o gênio de Florença – “Olhei para o bloco de mármore e imaginei o David dentro dele. Depois, só foi preciso retirar tudo o que não era David”.

Era preciso “retirar do mármore aquilo que não era David”. Era preciso libertar a escola daquilo que não fazia sentido. 

Certo dia, cansado de lembrar aos educadores o que era o óbvio, fiz um livrinho a que dei o título de “Inovar é Assumir um Compromisso Ético com a Educação”. Esse seria o primeiro passo para libertar David do bloco de mármore em que estava encerrado – uma decisão ética, coragem e amorosidade em ato. 

Por: José Pacheco

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Novas Histórias do Tempo da Velha Escola (MCXCI)

São Paulo, 1 de abril de 2043

O primeiro de abril de há vinte anos foi “dia de desenganos”. Muitos outros se lhe seguiram, feitos de desmonte de um velho e obsoleto sistema de ensinagem, a par de uma homeopática mudança e da criação de condições de inovação.

Passei a manhã desse sábado na companhia da Letícia, do Rodrigo, do António, da Adriana e de outros educadores de excelência, numa escola de São Paulo, onde nasceria um dos primeiros círculos de aprendizagem. Foi, também, aí que 

Os primeiros círculos de aprendizagem surgiram. E me vi na necessidade de partilhar um pouco de uma precária construção teórica carente de legitimação prática. Os educadores envolvidos no processo de mudança eram merecedores de algumas suliações guardadas num computador. 

Os tempos de pandemia tinham exigido que aprendêssemos a viver numa proximidade regulada e a pós-pandemia exigia a reinvenção do modo de aprender. A especulação teoricista dera origem a um conjunto de práticas, que da designação “comunidade de aprendizagem”, indevidamente, se reclamavam. 

A “comunidade de aprendizagem” aparentava ser um conceito de vasto espectro semântico. A título de exemplo, vos darei notícia de alguns significados a ele atribuídos, colhidos na Internet: 

“Comunidade de aprendizagem é um grupo que interage, durante um determinado período de tempo; é uma estratégia que ajuda a superar os obstáculos para o ensino eficaz; é um programa desenvolvido pela secretaria de educação.”

Era reducionista a ideia que se fazia de “comunidade de aprendizagem”. Reparai na ênfase do termo “grupo” no lugar de “equipe” e a tendência para novas regulações, tão do agrado dos burocratas da educação. O Brasil importava mais um modismo, a administração o comprava e a mudança se adiava. Os professores desconheciam a existência do Mestre Lauro. Os formadores de professores não conheciam a sua obra. Nas bibliotecas das faculdades de Pedagogia, nunca encontrei livros do insigne mestre. 

Quando as crianças do Projeto Âncora o quiseram homenagear, fizeram-no no contexto de uma escola, que adotara esta definição do conceito: “comunidades de aprendizagem são práxis comunitárias assentes num modelo educacional gerador de desenvolvimento sustentável e que podem assumir a forma de rede social física, ou virtual”. 

Era uma provisória, modesta e minimalista definição do conceito, aquela que eu criara, numa tentativa de o proteger da influência do mercantilismo. Não alcancei o meu intento. Uma empresa, que apoiava o Âncora, suspendeu o apoio ao projeto e financiou uma proposta de origem anglo-saxônica e catalã. 

Com o patrocínio dessa empresa, universitários operaram cosmética educacional. Caricaturalmente, operacionalizaram o conceito de comunidade de aprendizagem. Revestiram a escola da aula com adereços de desculpabilização curricular. Abriram caminho para que empresas do digital muito lucrassem com a comercialização de práticas “híbridas”. Obstruíram caminhos de uma inovação anunciada.

Já por várias vezes dele vos falei, mas nunca será demais invocá-lo. Nos idos de vinte, a baixa autoestima dos educadores não lhes permitia honrar a herança que esse mestre nos deixou. Educadores iam visitar escolas da Finlândia, sem que soubessem que havia muitas (e melhores) “finlândias” dentro do Brasil. Viajavam para Portugal em busca de uma Ponte, desconhecendo já terem ido além da Ponte. Perdiam precioso tempo, em demanda da Catalunha das ditas “comunidades de aprendizagem”, num tempo em que as verdadeiras comunidades se formavam e transformavam na terra do Lauro.

 

Por: José Pacheco

Novas Histórias do Tempo da Velha Escola (MCXC)

São José d’Imbassaí, 31 de março de 2043

Querida Alice,

Entre os anos vinte e trinta, passavas a vida a cuidar daqueles que a ti recorriam, vítimas de um malfadado sistema de ensinagem. Disso me lembrei, quando remexia no baú das velharias e achei uns recortes de jornal do tempo em que completavas o teu mestrado em psicologia:

“Veja os principais pontos do plano de combate à violência escolar do MEC.

Por causa do caso do garoto de 13 anos, que matou uma professora a facadas na Escola Estadual Thomázia Montoro, na capital paulista, o Ministério da Educação (MEC) propôs, ontem, a criação de um grupo interministerial, para tratar dos ataques nas instituições de ensino.” 

Pelo teor da notícia, me apercebi de que as autoridades iriam acudir ao incêndio juntando-lhe… mais gasolina.

Passado o tempo das escolares tragédias, sinto necessidade de voltar às metáforas, para evitar que  o teu consutório se volte a encher de pacientes. É que, de quando em vez, a praga do fariseismo pedagógico se manifesta. 

Aqui te deixo pedaços da última carta, aquela que te enviei, em 2001, no dia do aniversário do amigo Rubem. Compreenderás por que ta envio.

“Aqui estou, a entregar-te este montinho de cartas. Quando a decifração dos códigos da linguagem dos homens to permitir, hás-de lê-las. São tantas quantos os dias que mediaram o dia de completares seis anos e o dia de ires à escola. Esta é a última das cartas, que não o fim da história. Este é o dia da tua primeira ida à escola, o início de uma outra história. E ambas terão os desfechos que lhes quiseres dar.

A vida é uma história sempre inacabada a que podemos conferir diferentes desenlaces. Basta que não nos confinemos aos estreitos limites do entendimento das coisas e dos seres deste nosso tempo da proto-história dos homens. 

Quando, depois de extintos os ecos do tempo da história, os homens acederem à era do espírito, hão-de entender a fragilidade dos paradigmas que sustentavam as suas ciências. Hão-de reconhecer como aparentes as suas imutáveis realidades. Hão-de reconhecer a falsa moral das suas histórias, se comparada com a doce amoralidade dos pássaros. 

Quero que saibas que, quando os homens criam ser o seu mundo plano e limitar-se aos mediterrânicos limites, já os pássaros sabiam ter o planeta forma arredondada, por o terem sobrevoado de lés a lés. No tempo em que os homens criam ser o centro do mundo e viam abismos e monstros na linha do horizonte, os pássaros redefiniam zénites e provavam que o espaço é ilimitado como a música e os sonhos. Onde, antigamente, os homens idealizaram um céu de vida eterna para os seus eleitos, havia pássaros. No lugar onde imaginaram situar-se o trono dos seus deuses, não havia uma “pomba estúpida” à medida dos seus medos, mas o espírito dos pássaros. Quando os desvendadores dos segredos dos mares atingiram novos mundos, encontraram pássaros. Quando os homens voaram até à Lua e dela contemplaram o planeta azul, compreenderam que o azul que os separava do imenso e negro espaço não tinha segredos para os pássaros que, há séculos, o habitavam. E, quando os astrónomos, espreitaram através de potentes telescópios, penetrando distantes galáxias e confirmando a antiga predição de que o que está por baixo é igual ao que está no alto, viram pássaros invisíveis pousados no asteróide B 612.

Nos últimos vinte anos, foram muitas as vezes que me refugiei em metáforas, dando a conhecer os pássaros do amigo Tuck e aqueles que habitaram a Ponte, o Âncora, a Escola Aberta. Aqueles que, nos idos de vinte e três, ousaram levantar novos voos, junto à Lagoa das Amendioeiras, em Mogi, em Caçapava…

 

Por: José Pacheco

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Novas Histórias do Tempo da Velha Escola (MCLXXXVIII)

Itaipulândia, 29 de março de 2043

Continuemos na (boa) companhia do amigo Tuck. 

“Martin-Pescador é o nome desse pássaro e, quando o descobrimos, nos lembramos de que esse nome era familiar. Era o nome de uma lojinha de pesca em Chile, Chico, em que compramos uma passagem de van para ir desta cidade até Rio Tranquilo. 

Bom… isso ficou marcado para a gente, pois foi uma viagem bonita, mas com uma estória engraçada. No meio da rota, por estradas de terra em penhascos, estávamos a subir uma grande elevação, quando eu e Carina, que estávamos no fundo da van, vimos a porta de trás se abrindo e algumas malas rolando ladeira abaixo, enquanto esticávamos o braço segurando as coisas, com outros nos segurando, como naquelas engraçadas cenas de um filme. 

A gritaria misturada com risos, as malas rolando, o motorista desapercebido… Nossas mochilas não caíram, mas aquelas malas duras, cheias e pesadas sofreram com o impacto. Ao ver essa e outras cenas corriqueiras para quem anda de mochila por aí, sempre vem aquela pergunta: “afinal, porque carregar tanta coisa?”

Isso é sempre uma reflexão presente em qualquer mochileiro. Por que mochila no lugar de mala? Bom… a mochila é versátil em diversas questões e, além disso, carrega consigo (ahá!) uma mentalidade de levar só o essencial, diferente das malas enormes, com carcaça dura e lugares para cadeados. 

Essa mesma analogia existe na educação, onde há professores mochilinha e bolsa-de-couro, claro que uma brincadeira (cheia de generalizações), mas que tem lá sua verdade: a diferença entre um perfil dinâmico e ligado ao essencial e um perfil preocupado com o que outros pensarão, repletos de acessórios de maquiagem existencial e uma certa ligação forte com o apego.” 

De estória em estória, o meu amigo presenteava-me com pérolas de sábia compreensão da Natureza. 

“Isso me lembrou uma história infantil em que um canguru conversava com um pássaro, um peixe, um burro e um cachorro. 

O peixe dizia que não podia levar nada consigo pois como não tinha membros, de nada adiantaria. O burro dizia que não carregava nada para ele para ter espaço de carregar as tralhas de alguém. 

O cachorro dizia que não podia levar nada consigo, pois o seu dono levava tudo para ele. 

O pássaro, por fim, dizia que não podia carregar nada consigo a não ser a comida, afinal precisava estar sempre leve para voar. 

O canguru, que não carregava carga, não tinha donos e nem voava, ouvia aquilo, até que foi indagado pelos outros, ‘e você, o que carrega aí na frente?’:

“Carrego quem virá para estar comigo.”

Os outros pensaram nos ovos e na barriga: “Nós também fazemos isso, mas porque você carrega ele do seu lado de fora?” 

“Para que ele veja que, mesmo separados desde o começo, seremos essenciais uns aos outros.”

Venho transcrevendo mensagens recebidas do meu amigo Tuck, vai para mais de vinte anos, que me faziam refletir: Por que carregar tanta coisa?

Eu prescindira de propriedade, mas era um milionário de amigos, de seres humanos extraordinários, que me serviam de guias e me ajudaram a suportar a dureza dos dias de tempos sombrios em que, a par as estórias de pássaros, deparava com notícias como esta:

“Nesta segunda-feira, uma mulher abriu fogo, numa escola em Nashville. Há registo de vítimas mortais, todas elas crianças.”

A polícia acabou por matar a atiradora. Era uma jovem mulher, ex-aluna dessa escola, uma escola cristã e de iniciativa privada. 

Um manifesto encontrado na casa dela indicava que outros locais seriam possíveis alvos, disse a polícia.

Há vinte anos, as escolas ainda produziam desumanos bonsais e escassos “mochileiros”.

 

Por: José Pacheco

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Novas Histórias do Tempo da Velha Escola (MCLXXXVII)

Praia Grande, 28 de março de 2043

O amigo Tuck era um esperançoso entre esperançosos. E, no mês de março de há vinte anos, anunciava “uma série de novidades vindo aí”

A primeira delas era o livro “Urutagwa”, do nosso amigo cacique Ubiratan. O lançamento iria ter lugar em Peruíbe (São Paulo), no dia 14 de abril de 2023. Lamentei não poder participar presencialmente. Nesse dia, estava a ajudar educadores, muito longe de Peruíbe. Mas recomendei a todo mundo que fosse celebrar, prestigiar o encontro.

Quem pudesse participar no evento, iria conviver com seres humanos extraordinários. O Tuck estaria por lá. Escutêmo-lo:

“Anos atrás, eu conheci o Ubiratã em um trabalho que fizemos com outro grande amigo, o José Pacheco, que acabou também participando neste projeto, junto de mais gente boa. O audiolivro era um desejo do amigo, desde a concepção. E, graças a Tatá, também, conseguimos um trabalho do qual gostamos do resultado. 

“Urutagwa” conta a lenda tupi de um guerreiro que virou pássaro, no caso, o Urutau ou Mãe-da-lua, como conhecemos. Quando aceitei o convite do Ubiratã algo inusitado ocorreu… Naquela semana encontrei um Urutau pela primeira vez em Atibaia… Pousado numa placa de trânsito atrás da igreja matriz. Tá lá registrado no @avesatibaia.

Que o livro, realizado com apoio do PROAC, voe para mais e mais pessoas e que siga encantando, seja através das ilustrações da Léa, da voz da Tatá, das letras do Ubiratã ou dos sons aos quais pude dar asas. Fica o convite para o lançamento e, também, para conhecerem, comprarem, lerem e ouvirem.

Houve um tempo em que eu me achava estranho por conversar com árvores. Mas, não estava sozinho nessa comunicação com outros reinos da Natureza. O amigo Tuck me sossegou, quando me disse:

“É coisa de gente estranha, como já me falaram, ficar olhando para árvore. E quem liga para povo indígena?”

O Tuck dos pássaros e das árvores, também se preocupava com os humanos: 

“Há quem ainda diga que não se pode usar o termo nazista. Como não? Só porque não são judeus indo em trens para campo de concentração? Aqui, nem daria para esses bonsais humanos fazerem isso, porque nem malha ferroviária temos. Nosso negócio aqui é trator, caminhão, balsa carregando toras e mais toras. É carabina, incendiário e garimpo ilegal. É produtor fazendo fortuna exportando alimento enquanto o preço aqui sobe por falta. 

Aqui, o genocídio e o crime contra o planeta usa a própria natureza, para cortar gastos com matança. Aqui é COVID, fogo e mercúrio em rio, ambos muito mais baratos do que enriquecimento de urânio, cianeto e agente laranja. 

Para os povos indígenas eu nem digo que este é o fim do mundo, porque para eles o fim começou há 520 anos. É lento. Doloroso. 

Como diz o Krenak, é uma das guerras mais duradouras que se tem notícia na Humanidade. Talvez a terceira. E o interessante é que, em primeiro lugar, estaria a Reconquista dos povos Ibéricos contra os árabes, algo próximo de sete séculos.

Queria ser otimista, pensar que, em 200 anos, os povos indígenas retomem esse território. Pelo menos, salvariam o planeta. E ainda tenho mais um presente para vos dar.

Num encontro com mais de trinta jovens, rolaram muitas frases: 

“O Brasil não são as coisas. A escola não é democrática. Na minha, os professores não ligam se aprendemos ou não, pois o salário cairá de qualquer jeito. Minha liberdade começa onde termina, ou é quando começa a do outro? Não existe nenhuma pessoa que se resolva sozinha, eu preciso de um monte de gente pra comer um simples pão.” 

Chorão, em minha mente ressoava na voz da Elza Soares. 

“Tudo está dito, falta a aposta.”

Tamo junto, galera!”

 

Por: José Pacheco

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Novas Histórias do Tempo da Velha Escola (MCLXXXVI)

Atibaia, 27 de março de 2043

Netos queridos, o meu amigo Tuck merece ser lembrado, embora esta cartinha peque por tardia. Há muito tempo deveria trazê-lo para o nosso convívio epistolar. Para me redimir, o recordarei, quando ele ainda se encontrava no início de um projeto de vida profissional, elaborando o seu “currículo da subjetividade”, como ele chamava à sua obra ímpar, extraordinária.

Comecemos com a celebração do encontro que as redes sociais, nesse tempo, consentiam. A humildade do meu amigo – como é bom chamar-lhe amigo, volvidos mais de vinte anos – o obrigava a começar por dizer “obrigado”: 

“Obrigado Zé! A cada semana, vou presenteá-lo com um novo amigo que voa livre por aqui. 

 Tuiuiú não veio a toa hoje. Para quem está chegando agora e não faz a mínima ideia do por que estou postando foto de um pássaro seguido de um número, é isso mesmo, desde a quarentena tenho iniciado um currículo subjetivo próprio sobre as aves que por aqui passam perto de casa e arredores. 

Essa é a 53ª (de 90), mas porque não esperei ter um registro em foto como o das outras espécies todas que fotografei? 

Primeiro porque acho que não terei tão breve, segundo porque ela traz um recado urgente que não pode esperar. 

Tuiuiú veio voando e chorando nos avisar: 

“Precisamos de ajuda! O que estamos vendo é a pior coisa que já vimos. Vimos muita morte e nada nos diz que não iremos morrer também. Nos ajudem, por favor!” 

Pois é amigos, sei que os compromissos com os jogos de futebol, telenovelas, stories do Instagram, vídeos de reptilianos, canais bolsonaristas e séries da Netflix são importantes. Mesmo que eles nem mencionem o que está ocorrendo no Pantanal, bioma cujo pássaro símbolo é este que vos visita hoje. 

O Brasil está em chamas, e por aqui o que ecoa na TV é a comoção com os incêndios na Califórnia (um deles, gigantesco, originado porque algum cretino soltou fogos para anunciar o sexo do bebê no meio de uma floresta seca). Mas por aqui, a empatia se foi. Quem tem ligado para pássaro? 

Enquanto a gente continuar achando que a Amazônia é assunto para quem está lá e que o Pantanal é assunto de quem lá está, e que a Mata Atlântica e o Cerrado são assuntos para quem está aqui, vamos continuar acelerando o fim do mundo para os Tuiuiús, Jacarés, Onças, Tatus… 

O Tuiuiú, ave de pescoço longo, papo vermelho e que voa como uma cegonha, não trouxe seu filhote pendurado no bico. Trouxe uma notícia de que provavelmente não tenhamos duzentos anos pela frente, nenhuma previsão matemática aponta para um cenário harmonioso quanto a isso, muito pelo contrário, será fogo e ranger de dentes. 

Mas não se irritem, Tuiuiú traz uma mensagem, também, a de que o bolsonarismo é uma ideia descartável e vil, mas de que os bolsonaristas, não. São pessoas e sem eles não tem salvação para ninguém. Para o bem ou para mal, isso se chama interdependência e é por não nos vermos nela, que tudo está queimando.” 

Era bem caraterístico do meu amigo Tuck esse seu chamado ao exercício de uma incondicional compaixão, de ir muito além de perdoar, de uma prática educacional humanizadora, integradora, transcendente, ao alcance de qualquer um, desde que qualquer um se compreendesse, se perdoasse de erros e omissões, e se transcendesse. 

Netos queridos, as mensagens do amigo Tuck transportavam-me ao tempo do vosso nascimento, quando partia de personificações, para falar de pássaros e comentar a vida dos seres humanos:

Estávamos num tempo de há muito tempo, num tempo em que as aves falavam à semelhança dos humanos seres, sem saber se as pontes de entendimento iriam do mundo dos pássaros para o dos homens, se deste para o dos pássaros. 

 

Por: José Pacheco

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Novas Histórias do Tempo da Velha Escola (MCLXXXV)

Tatuí, 26 de março de 2043

Sempre fui muito avesso a citações e raramente a elas recorria. Hoje, abrirei uma exceção. Para que não digais que sou “rabugento”, desta vez, os “rabugentos” serão o Pierre Bordieu e o Erhard Friedberg.

Disse o Pierre que “ensinar não é uma atividade como as outras. Poucas profissões serão causa de riscos tão graves como os que os maus professores fazem correr aos alunos que lhe são confiados. Poucas profissões supõem tantas virtudes, generosidade, dedicação e, acima de tudo, talvez entusiasmo e desinteresse. 

Só uma política inspirada pela preocupação de atrair e de promover os melhores, esses homens e mulheres de qualidade que todos os sistemas de educação sempre celebraram, poderá fazer do ofício de educar a juventude o que ele deveria ser: o primeiro de todos os ofícios.”

Em 2043, eu escrevo inspirado naquilo que o Pierre escrevia, há sessenta anos. Apenas lhe acrescento pedaços de chão da escola. Nada de novo, portanto. Tal e qual como, há cerca de cinquenta anos, o Erhard também escrevia:

“A racionalidade limitada própria de toda a ação humana infunde tudo, tanto os comportamentos humanos no dia a dia, como os dispositivos materiais, as regras, os procedimentos e as estruturas que, supostamente, os canalizam, os «racionalizam», os regulam e os articulam para objetivos coletivos. 

Uns e outros sofrem do mesmo mal: uma vez que são produto da ação humana, não podem ter pretensões a uma racionalidade superior aos comportamentos que os geraram. 

A sua racionalidade, portanto, é também irredutivelmente limitada, ou seja, é o produto de uma mistura complexa de afetividade, de rotinas apreendidas e interiorizadas por socialização, de considerações morais e éticas, e de estratégias e cálculos instrumentais. 

Depois, um «défice» de interdependência. Este resulta por um lado da omnipresença de elos frágeis nas organizações. Na sua tentativa de proteger ou aumentar a sua autonomia e a sua capacidade de ação, todos os participantes de uma organização procuram, naturalmente, limitar, por todos os meios, a sua dependência em relação aos outros, «desligando» tanto quanto possível a sua função ou a sua tarefa da dos outros.

As normas, valores e registos de justificação não bastam para estruturar completamente os comportamentos e as interações dos participantes. Nunca se está na presença de medidas/regras/estruturas que tiram a sua legitimidade unicamente de considerações técnicas: misturam-se sempre considerações de oportunidade «política», no sentido da gestão das relações de poder e de acomodamento dos compromissos necessários entre lógicas de ação e registos de justificação.”

Como vedes, há vinte, quarenta, setenta anos, a teoria tudo explicava. O teoricismo – doença infantil das ciências da educação – até apontava caminhos de prática. Como era fácil (em teoria) construir uma comunidade! 

Em comparação com a escrita elaborada desses e de outros autores, eu era um bruto da escrita. Por ter traduzido na prática aquilo que eles teoricamente conceberam e explicaram, fui um incômodo. A vida de professor de chão de escola me fez assim e a tantos outros que, imersos numa prática explicada pelos teóricos, mereceram a sina de quem ousou cometer o pecado de uma práxis coerente. 

Netos queridos, o teoricismo foi um dos grandes obstáculos à mudança. E foram muitos os companheiros de jornada que suportaram a incompreensão e a arrogância de teoricistas. Dizeis que o vosso avô é “rabugento”? Então, juntai-me a uma lista de “rabugentos”, que construíram comunidades e reconstruíram a Educação.

 

Por: José Pacheco

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Novas Histórias do Tempo da Velha Escola (MCLXXXIV)

Nova Concórdia, 25 de março de 2043

Netos queridos, quando dizeis que este velho rabugento deveria deixar de apontar a podridão do “sistema” e falar-vos de algo mais agradável, tendes razão. É certo que deveria fazê-lo, e de bom grado o faria, não fora a tralha que habita no fundo do baú das velharias. Nesta manhã, quando tentava pôr a funcionar uma velha pen drive, deparei com mais um dos motivos de ser rabugento, incômodo. 

A “coisa” passou-se em São Paulo, mas havia réplicas em outros lugares. Havia escolas ditas “de elite” que não aceitavam “repetentes”. Muitos colégios ditos “de prestígio” negavam a entrada de repetentes e atribuíam a negativa à “falta de vagas”, ou ao “nível de exigência da escola”.

Nas escolas ditas de “elite” o “prestígio” e a “exigência” não passavam de propaganda enganosa de “elites”, que se atreviam a ferir a Constituição, que ousavam cometer ilegalidades, quase sempre impunes, por via da corrupção generalizada do “sistema”.

Quando uma mãe pretendeu matricular a sua filha num dos colégios mais tradicionais de São Paulo, descobriu que sua filha não poderia estudar lá, que esse colégio não matriculava alunos que tivessem reprovado em outros colégios, mesmo a família tendo condições de pagar os mais de 2.000 reais de mensalidade. 

“Eu achei aquilo inacreditável, uma discriminação”, disse a mãe da criança. Ela não sabia que a ilegalidade cometida pelo colégio poderia virar uma benção. Talvez em outra escola a filha ficasse ao abrigo de uma miserável “educação de elite”. Talvez se livrasse dos malefícios da educação castradora praticada em colégios de “alto nível de exigência”.

O modelo escolar imposto pelo Estado à Escola deteriorara tão profundamente o sistema de relações, que deparei com algo inimaginável. Encontrei uma escola com duas salas de professores Uma delas acolhia professores efetivos (os “concursados” brasileiros); na outra, os professores “agregados”, do “quadro de zona”, os “substitutos”. 

Queridos netos, sei que acreditareis no que escrevo, porque é o vosso avô que o escreve. Era inacreditável, inaceitável que discriminações acontecessem e que ministérios autistas legitimassem castas e privilégios. 

Como vedes, muitas razões havia para o vosso avô ser incômodo. 

Não estava sozinho. Mesmo tendo consciência da inutilidade da denúncia, denunciava. E recebia mensagens de solidariedade de amigos, que constituíam uma espécie de reserva moral. Eram uma minoria, mas existiam…

“Talvez para que seja assegurada a pretensa formação de uma elite pensante, uma casta de gentes que, mesmo quando alinhadas a discursos progressistas, humanistas reproduzem inadvertidamente a ideia de que a esfera superior do ensino não é para todos, ao menos as realmente superiores em qualidade, as melhores universidades públicas e seus cobiçados melhores cursos, acessados via uma peneira de tela muito fina chamada ENEM e sua necessária muito boa pontuação para um sujeito concorrer a uma vaga de elite.” 

O exemplo vinha de cima. Quem convivesse com altos funcionários dos ministérios compreenderia a manutenção de absurdos, assegurados por “doutores em educação” (nunca consegui saber de que “educação“ se tratava), que exibiam “socio construtivismos” na ponta da língua  e nas mãos a sujidade do “sistema”.  Até já se diziam apologistas do paradigma da comunicação e de inovadoras transições paradigmáticas, quando as suas práticas radicavam num paradigma nascido no século XVIII. 

Se, hoje, ainda restam vestígios de castas da velha escola, dizei-me se não tenho direito de ser um velho rabugento.

 

Por: José Pacheco

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Novas Histórias do Tempo da Velha Escola (MCLXXXIII)

Toledo, 24 de março de 2043

O amigo Artur trocou o outono de trinta e nove pela primavera tropical e veio visitar-nos. Por essa altura, desalentado, duvidando da possibilidade de, no seu país, concretizar um sonho, há décadas, acalentado. O Artur pedia-nos “asilo pedagógico”.

“Poderei ficar convosco? Lá, em Portugal, continua quase tudo igual. Rima e é verdade…”

“Quase tudo igual é exagero, amigo Artur. Sei de grandes mudanças acontecendo por lá.”

“Sim. É verdade. Mas nada que se compare ao que vós conseguistes fazer.”  

“Não compares. Tenta perceber por que “continua quase tudo igual”. Repara: Nos idos de vinte emancipaste-te do trabalho em sala de aula. Dispensaste a turma, a prova e outros artefatos instrucionistas. Libertaste-te do espartilho de regulamentos impostos e construíste a tua autonomia. Porém, permaneceste sozinho. 

Houve um tempo em que também agi como um solitário, quixotescamente, quebrando lanças. Até que me vi incluído numa equipe.”

“Sim. Recordo-me de um encontro, em que falaste de uma equipe. Creio que se chamava de “educação humanizada”. Foi em Braga, talvez por mil novecentos e vinte e três. Estava lá, nessa altura. Lembro-me de teres falado com o Secretário de Estado, o António Leite, e teres marcado encontro no ministério. Mas nada mudou.”

“Enganas-te. Muita coisa aconteceu. Agindo em equipe, encontrando vias de diálogo com a administração, foi possível fazer, em dois anos, aquilo que, por décadas, não logramos fazer.”  

“Pois! Mas…”

Questionei o cepticismo do Artur, dando-lhe a ler mensagens recentes, vindas de… Portugal. Netos queridos, consciente da quase inutilidade da escrita, houve um tempo em que quase desisti de escrever. Mas chegavam à caixinha do correio eletrônico animadoras mensagens:

“Bom dia, professor José Pacheco! Estive atenta ao que os disse no passado sábado. E já está a acontecer! Vamos abrir a nossa Comunidade de Aprendizagem, vamos continuar a superar todas as dificuldades, desafios, obstáculos.

Espero que em breve possamos receber a sua visita. A única forma que tenho de retribuir toda a sua dedicação, é dar o meu pequeno contributo na construção desta pequena comunidade.

Um grande abraço da Rosana.”

No interior mais interior de Portugal, a Rosana resistia. Em ambas as margens do Atlântico, se resistia. E, se ainda havia quem resistisse, retomei o ato de escrever como singelo ato de resistência, para dar voz a quem fazia a sua parte. 

Anos antes, no Brasil de vinte e três, defendendo o novo, ou defendendo o velho, apelando à revogação do novo com aparência de novo, ou pretendendo manter um novo realmente velho, professores e sociedade não conseguiam perceber que Ensino Médio não era coisa manter, ou para revogar – era mais uma obsolescência a extinguir.

Entre esse e outros modos de nos distrairmos do essencial. Entre a arrogância dos áulicos e a funcionarização dos professores, decorriam jogos florais pedagógicos destinados a desviar a atenção da necessidade de mudar, de inovar, de conceber uma nova construção social, que substituísse a obsoleta construção social concebida na Prússia Militar.

Conheci o Artur, na década de oitenta, quando visitou a Ponte. Por essa altura, a par de artigos, que mostravam a inovação “Escola da Ponte”, participei na feitura de um livrinho com o título “Avaliar a Avaliação”. Talvez o Perrenoud o tivesse lido… Vinte anos depois, ele escreveu: 

“Inovar significa atribuir um status ao luto, verbalizá-Io, trabalhá-lo, declarar as resistências legítimas, mais que apelar somente à consciência profissional dos professores.”

 

Por: José Pacheco

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