Cabo Frio, 3 de maio de 2040
Para a Sônia (in memoriam)
A minha amiga Sônia colocou esta epígrafe no seu WhatsApp: Só de ouvir tua voz, de sentir Teu amor, só de pronunciar o Teu nome, os meus medos se vão, minha dor, meu sofrer, pois de paz Tu me inundas. No dia 2 de maio de há vinte anos, os seus medos, o sofrimento, as suas dores findaram. Na madrugada desse dia, a Sônia faleceu, vítima do covid-19.
É com tristeza que informo que nossa amiga Sônia, romântica conspiradora de Cabo Frio, mulher de luta, do coletivo, do chão da escola, mãe e amiga, nos deixou, nesta madrugada – a terrível notícia ecoava nas redes sociais. E serenos comentários compunham a imagem da mulher e professora, com quem tínhamos convivido intensamente: Sônia veio nos conhecer logo no início do projeto Aldeia Viva e eu a tinha como grande referência de luta aqui na cidade, tanto pela valorização profissional, como pela transformação na educação. Que siga abençoada pelas sendas do Infinito! Que seja acolhida nas bênçãos do sagrado!
Tão entusiasmada ela era! Deixou legado! No ano passado, em São Lourenço, levou a Ana e juntou muita gente boa em Cabo Frio! Possivelmente, o velório foi restrito e curto. Um conforto para a família será saber o quanto a passagem dela por aqui foi significativa e o quanto eram importantes as ações dela. A página dela está bombando, ela era muito amada! Escrevi lá, também, dizendo que ela era uma RC e que nossa luta seguiria com a garra dela. Vamos deixar nossas mensagens lá escritas, de maneira que relembre nossos passos.
Gratidão, Janaína, por nos dar notícias, mesmo que sejam notícias tão tristes como esta da Sônia. Que possamos vibrar e emanar muito amor para toda a família dela! Foi ela quem me levou ao ENARC. Pessoa especial, boa amiga, me ensinou muito. O que acham de incluírem a Sônia no memorial? Ela permanecerá viva entre nós. Sigamos, cada vez mais unidos, RC, apesar da distância física.
Os RC partilharam emocionadas mensagens e viriam a honrar a memória da Sônia. Mas, quem eram os RC? E o ENARC? À distância de vinte anos, já fazem parte da história da educação, pelo que farei apenas uma breve explicação da sua origem.
No mês de novembro de 2005, publiquei um artigo no jornal Folha de São Paulo. A certo passo, escrevia: É preciso afirmar que há, no Brasil, muitos professores que dão sentido às suas vidas, dando sentido à vida das crianças e das escolas. Sinto-me um privilegiado por, após três décadas de trabalho numa escola que ousou provar que a utopia é realizável, encontrar no Brasil tanta generosidade e responsável ousadia”. Esse artigo foi pretexto para alguns encontros de educadores das escolas “invisíveis”.
O movimento Românticos Conspiradores constituiu-se a partir de uma rede colaborativa, formada por pessoas que buscavam a transformação da educação pública. A finalidade era a de promover a comunicação e o apoio mútuo entre pessoas, organizações e projetos, que tivessem por objetivo contribuir para a superação de arcaicos paradigmas educacionais.
Em próximas cartas, descreverei o fraterno itinerário dos RC, entre os anos de 2005 e 2020. Também vos falarei do Terceiro Manifesto da Educação Brasileira, do ENARC (Encontro Nacional de Românticos Conspiradores) e da CONANE (Conferência Nacional de Alternativas para Uma Nova Educação).
No tempo da pandemia, uma nova educação tomava forma, cumprindo o sonho da nossa companheira Sônia.
Por: José Pacheco
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