Sobradinho, 18 de maio de 2040
De Sobradinho chegavam boas-novas. Com boas-novas preencherei esta cartinha. Quase nada acrescentarei, porque elas falam por si:
Participaram da construção de nossa comunidade de aprendizagem educadores com franca abertura para outras formas de exercício docente, outros foram ganhando antipatia, conforme nos desnudávamos de nossas máscaras, uns perante os outros, pela tentativa de mudarmos juntos a nossa escola.
Registro nomes dos educadores que, com suas práticas, contribuíram de diferentes formas. Cristina, professora de língua portuguesa, elegantemente discreta, competente supervisora pedagógica, uma super professora, que prova aos estudantes que eles sempre podem ir além do que imaginam. Patrícia, professora de história, certamente uma das educadoras mais afetuosas, serenas (e que virtude difícil nesse ambiente!) e comprometidas, que já conheci. Oswaldo, professor de ciências, dono de um coração imenso e sábio, com justa necessidade de coerência e clareza, para trabalharmos juntos. Ray, professora de matemática que acredita que os estudantes podem aprender junto com todos, desde que tenhamos práticas que sirvam para todos. Fanildes, poeta, desenhista, pintora, costureira e, pelas manhãs de segunda à sexta, sensível professora. Fabrícia, que parece muito mais linda, leve e feliz como professora de língua portuguesa. Janaína e Francisco, professores de educação física, que entendem que a prática de modalidades esportivas tradicionais exige disciplina e convívio respeitoso, e pode também ser excludente. Dênia, que sabe criar atividades que não dependem de sua presença, para serem realizadas com concentração. Iara, professora de história, abertura para, a quatro mãos, tecer um sentido atual para o estudo da Pré História e da Antiguidade. João e Rayssa, professores de história e matemática, respectivamente, pelo simples e belo trabalho realizado em conjunto, numa integração que creio ser fundamental para o ensino das duas disciplinas.
Como podemos avaliar o peso de nossa herança negra sem quantificar como nos definimos e mensurar nossa triste juventude como país livre da escravidão? Hellen, fazendo com e para os estudantes, enquanto não nos encontramos fazendo juntos. Claudio, pela curta e intensa passagem, revolvendo a terra, colhendo e embelezando algumas semanas com mandalas e sementes. Aira e Conceição, pela possibilidade de seguirmos discordando uma das outras, juntas e respeitosamente. Ecival, pela oportunidade de leituras dramáticas de Vinícius de Morais.
Educadores populares também contribuíram, generosa e decisivamente, para os tímidos e intensos passos: “Jamaika”, educador popular voluntário. Cristiano, educador social, pai de Tauã, músico e dançarino formado no Cacuriá por seus pais, e pelo terreiro do Boi do Senhor Teodoro. Marcos, presidente do Conselho Escolar, que exerce um papel de liderança fundamental na construção da gestão escolar democrática. Gilmar, pai de Marcos Paulo…
Por aí continuava a mensagem. Li-a, emocionado, num pranto de alegria (os homens também choram…). Eram educadores da “Rede de Comunidades de Aprendizagem do Distrito Federal, assumindo um compromisso ético com a educação. Eram seres admiráveis, indispensáveis “irmãos e irmãs sonhando o mesmo sonho”. Nesse já distante 18 de maio de 2020, voltávamos a ter motivo para acreditar nos professores.
Por: José Pacheco
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