Algures, em 6 de fevereiro de 2041
O edital de chamamento público 04/2019, que se dizia de “EDUCAÇÃO INOVADORA” (assim mesmo, em letras maiúsculas (era claro na redação. Referia-se à “cocriação de protótipos de escola inovadora a serem implementados de forma piloto”. Assim rezava:
“A Fundação de Apoio à Pesquisa do Distrito Federal – FAPDF tem como missão estimular, apoiar e promover ações de Ciência, Tecnologia e de Inovação para induzir o desenvolvimento sustentável e a melhoria da qualidade de vida de Brasília e da Região Integrada de Desenvolvimento do Distrito Federal e Entorno (RIDE).
Por meio de ações de fomento, a FAPDF busca transformar a ciência, tecnologia e inovação em mecanismos propulsores do desenvolvimento da região associada à preocupação dos macroproblemas do DF e RIDE, como as ações voltadas para a melhoria da educação e da qualidade da escola pública”.
A Secretaria de Estado de Educação do Distrito Federal – SEEDF tinha como missão proporcionar uma educação pública, gratuita e democrática, voltada à formação integral do ser humano para que pudesse atuar como agente de construção científica, cultural e política da sociedade, assegurando a universalização do acesso à escola e da permanência com êxito no decorrer do percurso escolar de todos os estudantes.
Teoricamente, no domínio das intenções, era essa a missão. Na prática, a secretaria apenas parcialmente a cumpria. E, dentro dela, “alguém” em muito contribuía para que a “qualidade da escola pública” não melhorasse. Por isso, em boa hora chegara o “chamamento público da “educação inovadora”.
No mesmo ano, uma portaria instituía o “Grupo de Trabalho Comunidades de Aprendizagem”, cuja finalidade era a de “elaborar proposta de Diretrizes de Política Pública para a implantação e implementação de Comunidades de Aprendizagem na Rede Pública de Ensino do Distrito Federal” (sic).
Segundo o enunciado do seu artigo terceiro, competia ao GT entre outros missões: “desenvolver a análise técnica para viabilizar a implantação e implementação de Comunidades de Aprendizagem na Rede Pública do DF; desenvolver estudos de experiências e fundamentos científicos, para subsidiar a implantação e implementação de Comunidades de Aprendizagem noEnsino do Distrito Federal; contribuir para reconfiguração da prática educativa; elaborar e/ou adequar normativos para a implantação e implementação das comunidades; viabilizar, gradualmente infraestrutura adequada à a implantação e implementação de Comunidades de Aprendizagem na Rede Pública de Ensino do Distrito Federal”.
A situação do sistema educacional do DF era caótica. Iniciativas desse tipo eram um bom agouro. Parecia que, finalmente, a educação do DF entraria no século XXI. E os presságios tomaram forma concreta. Após um período de formação prévia de centenas de educadores – que eu assegurei, solidária e gratuitamente – professores, famílias e comunidades meteram mãos à obra. Em 2021, uma rede de “turmas-piloto” era a resposta prática ao desafio lançado pela secretaria.
Não foi brando o processo de criação da Rede de Comunidade de Aprendizagem do DF. Durou mais de quatro anos, durante os quais, alguns “alguéns” da secretaria tudo fizeram para contrariar o disposto na lei.
Eram tempos ignominiosos aqueles que vivemos nos idos de vinte. Emocionado, evoco a generosidade e a coragem de um punhado de professores e comunidades, que souberam resistir à perfídia dos “alguéns”. Homenageio quem merece reconhecimento, porque creio ainda ser necessário acordar memórias e sobre elas refletir.
Por: José Pacheco
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