Novas Histórias do Tempo da Velha Escola (DXXXII)

Amareleja, 16 de maio de 2041

Num hiato de dez anos, Reggio Emília e a Escola da Ponte concretizaram a proposta da Escola Nova e anunciaram a génese de novas construções sociais de aprendizagem. Muitos foram os educadores que visitaram essas escolas. Os seus projetos ganharam relevo, por terem sido experiências que operaram uma profunda ruptura com o paradigma que suportava um velho modelo de escola, numa espécie de “peregrinação pedagógica”, nas palavras do sociólogo Mariano Enguita.

Os projetos de Reggio Emilia e da Escola da Ponte tiveram início, respectivamente, nas décadas de sessenta e de setenta do século passado. Os idealizadores dos projetos – Malaguzzi e, sem falsa modéstia, este vosso avô – tinham em comum um audacioso objetivo: o de que a escola fosse um lugar em que as comunidades pudessem decidir dos seus destinos, aprendendo no seu tempo e a seu modo.

Num vídeo de meados dos anos noventa, o amigo Armindo e outros pais da equipe inicial davam testemunho do essencial: que a Ponte havia nascido pela vontade de uma comunidade e pela da iniciativa de um professor. Duas professoras e, mais tarde, toda a escola se lhes juntaram.

Em 1976, já sabíamos que escolas não eram prédios, que eram pessoas. E que o projeto era um ato coletivo, assente em princípios.

Há vinte anos, tive necessidade de recordar aos professores da Ponte os princípios fundadores do projeto. Parecia terem sido esquecidos. Espero que a sua leitura não seja maçadora. Ei-los:

1- Uma equipa coesa e solidária e uma intencionalidade educativa claramente reconhecida e assumida por todos (alunos, pais, profissionais de educação e demais agentes educativos) são os principais ingredientes de um projeto capaz de sustentar uma ação educativa coerente e eficaz.

2- A intencionalidade educativa que serve de referencial ao projeto Fazer a Ponte orienta-se no sentido da formação de pessoas e cidadãos cada vez mais cultos, autónomos, responsáveis e solidários e democraticamente comprometidos na construção de um destino coletivo e de um projeto de sociedade que potenciem a afirmação das mais nobres e elevadas qualidades de cada ser humano.

3- A Escola não é uma mera soma de parceiros hieraticamente justapostos, recursos quase sempre precários e atividades ritualizadas – é uma formação social em interação com o meio envolvente e outras formações sociais, em que permanentemente convergem processos de mudança desejada e refletida.

4- A intencionalidade educativa do Projeto impregna coerentemente as práticas organizacionais e relacionais da Escola, que refletirão também os valores matriciais que inspiram e orientam o Projeto, a saber, os valores da autonomia, solidariedade, responsabilidade e democraticidade.

5- A Escola reconhece aos pais o direito indeclinável de escolha do projeto educativo que considerem mais apropriado à formação dos seus filhos e, simultaneamente, arroga-se o direito de propor à sociedade e aos pais interessados o projeto educativo que julgue mais adequado à formação integral dos seus alunos.

6- O Projeto Educativo, enquanto referencial de pensamento e ação de uma comunidade, que se revê em determinados princípios e objetivos educacionais, baliza, e orienta a intervenção de todos os agentes e parceiros na vida da Escola, e ilumina o posicionamento desta face à administração educativa.

Em 2021, fui a Portugal, para ajudar a criar protótipos de comunidade de aprendizagem. Dado o seu exemplo de pioneirismo e face a este enunciado de princípios, seria de esperar que Ponte fosse a primeira escola a participar nesse projeto.

Por: José Pacheco

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