Praia Grande, 16 de julho de 2041
Por volta de 2010, um relatório do Banco Mundial estimava que o Brasil fosse demorar 260 anos para atingir o nível educacional de países desenvolvidos. Apontava que o país tinha “avançado a passos muito lentos”. A conclusão mais importante do relatório era de que havia uma crise de aprendizagem e que a educação do Brasil estava em crise, pois, no “último Pisa, o país não aumentou sua nota em Leitura e caiu em Matemática”.
O ministério da educação não quis comentar o conteúdo do relatório. Apenas um economista brasileiro do Banco Mundial se pronunciou, dizendo que a flexibilização do currículo e a diminuição do número de disciplinas deveriam deixar a escola mais atrativa para os jovens. E que o MEC produzia reformas, como a do ensino médio, que poderiam servir para se atingir níveis de países desenvolvidos.
O ingénuo economista falava por falar, sem saber o que dizer. Como mais tarde se verificou, tais reformas não afetariam o insano rumo da ministerial política. Mas a presidente do Movimento Todos pela Educação, certamente, saberia o que dizer, pois afirmava que o Brasil precisava, urgentemente, de um plano estratégico de educação. Acrescentava que os avanços do país eram lentos porque não se sabia quais seriam os fatores de fracasso das políticas:
“A gente abandona as políticas e recomeça do zero sem ter aprendido nada com o passado”.
Lendo o relatório do Banco Mundial, notei que essa respeitável instituição não sabia que a melhor educação do mundo estava no Brasil. Porque, quer o banco, quer o ministério, nada sabiam da educação necessária. A educação do Brasil dessa época vegetava entre o desperdício de fortunas no financiamento de sofisticados projetos, sob a égide do protagonismo juvenil, do empreendedorismo, ou outros modismos, ignorando, ostracizando aquelas escolas que poderiam tirar o Brasil da penúria educacional.
Nos idos de vinte, num breve périplo, visitei algumas dessas escolas. No litoral sul de São Paulo, Praia Grande me deu a conhecer um dos projetos de efetiva excelência acadêmica e inclusão social: a Escola Atenas.
Numa manhã de intensa aprendizagem, escutei intervenções do Ricardo e da Cecília, jovens de tenra idade manifestando mais sabedoria do que um adulto instruído. Muito aprendi na escuta de intervenções de pais que, por verdadeiramente amarem os seus filhos, os confiaram a educadores como a Ilka, que também verdadeiramente amava os seus alunos. Convivi com professores ávidos de mudança. Agradeci e me disponibilizei para os ajudar.
Uma mutação genética acontecia no sistema educacional dos idos de vinte, uma inovação desejada por professores éticos e pais participativos. Ainda eram poucos, mas conscientes de que um dos fatores do fracasso educacional era a tradicional separação de instituições, que deveriam convergir num objetivo comum: garantir a todos os cidadãos o direito a uma boa educação.
Até ao início deste século, era convicção generalizada de que à família competia educar e à escola instruir. Nesse tempo, nem a família educava, nem a escola instruía. A família terceirizava a educação da criança na televisão, no prédio da escola, na Igreja, na Internet.
Já nem se usava chupeta, para calar o choro da criança – a família entregava-lhe um laptop. Cedo, ela desenvolvia os polegares e se transformava num monstrinho de tela de computador. Mesmo que a escola adotasse práticas centradas no aluno, o jovem cresceria para ser um ser autocentrado, adestrado para ferozes competições na selva humana que o esperava.
Felizmente, havia escolas como a da Ilka.
Por: José Pacheco
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