Moimenta da Beira, 22 de fevereiro de 2042
Perto do final da primeira pandemia deste século, investigadoras previram que a pandemia seguinte seria proveniente da Amazônia. A deflorestação tornava, cada vez mais, possível que ela surgisse da maior floresta tropical do mundo.
A Mariana, professora de ecologia, afirmava que a deflorestação em zonas tropicais era, talvez, das maiores fontes de emergência de novas doenças, se não mesmo a maior. No janeiro de 2022, a deflorestação na Amazónia brasileira bateu um novo triste recorde: 430 quilómetros quadrados de vegetação nativa destruídos, um aumento de 419% em relação ao mesmo mês de 2021. E a Márcia avisava:
“O potencial está lá, temos um ‘reservatório’ de diferentes vírus em animais selvagens, que estão lá a viver, sem incomodar ninguém”.
Epidemiologistas, economistas, ecologistas e biólogos ligados à conservação da natureza, nos Estados Unidos, na China, no Brasil, na África do Sul e no Quénia, trabalharam durante quase um ano nesse estudo.
“À medida que começamos a invadir o ambiente dos animais selvagens, aumenta a possibilidade de vírus ainda desconhecidos infetarem seres humanos.
A pandemia seguinte poderia ter proporções maiores do que a covid-19 e a Humanidade parecia não ter entendido a mensagem de um vírus. A educação familiar, social e escolar ia na contramão da prevenção. E a Márcia lamentava negacionismos, fundamentalismos conservantismos e outras pragas:
“Os modelos de desenvolvimento para a Amazónia são totalmente errados, focam-se na exploração, ignorando por completo a população, as necessidades e o conhecimento locais”.
O Reino Unido exportava para o Brasil, México, Índia e Indonésia um herbicida altamente tóxico fabricado na cidade de Huddersfield… proibido para uso na União Europeia. O Brasil era o lixão mundial do agrotóxico.
A autora denúncia foi obrigada a deixar o Brasil, após a publicação do seu estudo.
O Maurício criador da Turma da Mônica, era conciso, quando dizia:
“Seu filho não pode chegar à Internet sem passar pelo livro. Se não for capaz de escrever aquilo que pensa e de entender o que lê, vai para a Internet para virar um idiota”.
Hábitos de leitura e a produção de conhecimento eram fundamentais para a conscientização. Mas, cadê a criação de tais hábitos?
Percorri corredores de ministérios, visitei divisões de educação de câmaras municipais, entrei em secretarias de educação, vivi no chão das escolas. Raramente, vi alguém dentro das bibliotecas. Apenas funcionários, conversando, batendo teclas num computador, trocando mensagens em redes sociais.
Por duas ou três vezes, assisti à pesquisa feita por alunos, assistidos por solícitos bibliotecários, por não saberem localizar os livros necessários. Também escutei a conversa de um ruidoso grupo de técnicos de uma secretaria de educação, que invadiram a biblioteca, por não haver… sala disponível para reunir.
Uma criança segredou-me ao ouvido que os professores “mandavam de castigo para a biblioteca”. E acrescentou:
“Mas, a senhora da biblioteca é boazinha, deixa a gente ficar no computador, na internet e a fazer jogos no telemóvel”.
Um ministro fez chegar a todas as escolas e departamentos da administração educacional uma biblioteca dos professores, constituída por mais de uma centena de obras de indispensável leitura. Muitos professores ignoravam a existência dessa excelente coleção de livros. Os cartões de registro de “empréstimo” colados na contracapa dos livros estavam em branco. Ninguém lera tais livros.
A quem conviria ocultar essa triste realidade?
Por: José Pacheco
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