São Gonçalo, 9 de setembro de 2042
Desde a primeira chegada do Homem à Lua, centenas de objetos foram deixados na sua superfície, como mensagens para eventuais extraterrestres de passagem pelo nosso satélite.
Nesse tempo, as viagens espaciais dependiam do uso de pesadas naves e de imenso tempo de travessia do universo conhecido. Até que chegou o tempo dos hologramas intergalácticos, o tempo em que se demonstrou que o tempo era… invenção humana.
Os primeiros calendários organizaram a vida das primeiras sociedades organizadas. Para plantar e colher, a tempo era contado de forma macro, compreendendo intervalos de semanas, meses. A divisão sistemática do tempo surgiu com os relógios solares, ampulhetas e relógios mecânicos. Até que a compreensão de tempo se modificou por obra de Einstein e da sua Teoria da Relatividade.
Em 2012, o físico Rovelli afirmou que o tempo era algo inexistente, que era apenas uma convenção. Rovelli dizia que o tempo era um referencial útil apenas na Terra. Assim como a noção de ‘baixo e cima’, o tempo só fazia sentido no nosso planeta.
A computação quântica lançou nova luz sobre o conhecimento do universo e modificou a nossa visão do tempo. Ele decorria diferentemente, de acordo com relações gravitacionais, e em velocidades diferentes para pessoas diferentes, dependendo de onde estivessem e como se locomovessem.
No século XIX, um estudo de Fredric Myers, cofundador da Society for Psychical Research precedeu o que, na década de trinta do nosso século, se ensaiou: a comunicação de pensamentos, sentimentos, conhecimentos entre pessoas, sem recurso à audição ou à visão.
A comunicação à distância ultrapassava a capacidade da nossa normal perceção, estava para além do tempo. O falar sem palavras estivera atrofiado por excesso de estímulos externos, mas, nessa década, a capacidade extrassensorial se revelou como faculdade interna de qualquer ser humano. Desde há pouco tempo, como sabeis, já é possível comunicar com lugares distantes, com habitantes de outras galáxias.
Da galáxia 23876, a “Galáxia do Triângulo”, vizinha de Andrômeda, chegou uma mensagem da Maria, uma jovem do século XXII. Deixei ao cuidado do meu amigo Henrique a “entrega” da “resposta” e colocarei, aqui, em breves palavras, o muito que transmiti sem precisar de recorrer a palavras ditas.
A Maria demandava respostas:
“Qual o interesse da escola do tempo em foi professor e por que se aprendia o que se aprendia? Por que a escola deixou de existir? Por que minha escola não pode ser igual à do século XXI? Quais as causas do fracasso dessa escola? Como a escola deve ser? Por que a escola não se transformou antes de ser extinta? Se sabiam como ter uma escola melhor, por que não o fizeram?”
E eu as transformei em perguntas:
“Na prática, aprendia-se o que impunham que se aprendesse? A escola deixou de existir, ou se reconfigurou? O ser humano terá aprendido a não repetir erros cometidos nos séculos XIX e XX? Ou continuaria a agir como freio da aprendizagem e da felicidade humana? Uma escola melhor não seria aquela que ajudasse a curar uma sociedade doente?
“Respondi” a todas as interrogações com novas interrogações. Gradualmente, no seu tempo, a Maria foi achando respostas, as suas respostas e, também, universais respostas. Compreendeu por que, nos idos de vinte, a velha escola foi dando lugar a novas construções sociais.
Mas, como qualquer criança de qualquer tempo, de qualquer recanto do universo, a Maria é feita de uma curiosidade insaciável, que a escola do nosso tempo, felizmente, já não mata.
Dela acabei de receber novos questionamentos.
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