Novas Histórias do Tempo da Velha Escola (MLXXXIII)

Cabo Frio, 13 de dezembro de 2042

Por meados do mês de dezembro, o dia amanheceu com arruaças na capital. E amigos meus, insignes universitários, surpreendiam-se com “atos de terrorismo” praticados em pleno século XXI. 

Quem educara esses “terroristas”? 

A responsabilidade poderia ser atribuída à educação recebida no seio de famílias inseridas num sistema social doente, desumanizador do ato de educar. E a uma Universidade que dissertava sobre Teoria Social Crítica, enquanto se mantinha ancorada em práticas prussianas. 

Às escolas se poderia, também, imputar responsabilidade, pois reproduziam tais práticas – como sabemos, num sistema hierárquico e autoritário, o exemplo vem de cima. A Escola Pública, berço da Democracia, ainda estava por fundar. A Escola que Anísio sonhara, nos idos de cinquenta, estava longe de formar cidadãos e produzia bonsais humanos. 

Mas, como a culpa sempre morreu solteira, parecia que ninguém assumia responsabilidade por coisa alguma. Exceções, como a do meu amigo Leo, eram raras: 

“Zé, nascemos num mundo e em lugares deste vasto planeta em que a promulgação da Declaração Universal dos Direitos Humanos já era uma realidade. Pena que as escolas continuem organizadas a partir dos processos de disputa e classificação, mantendo, portanto, vivas as características básicas dos processos prussianos de formação. Os mesmos processos que construíram as civilizações das Grandes Guerras do século XX. 

Estou lendo Bauman e vejo nele a crítica ao cientificismo moderno, que, com seus rituais, separa o mundo entre pensadores e práticos Parece que o mundo não consegue desapegar-se dessa ideia de que o fazer-pensar-fazer são faces da mesma moeda.”

O Leo era um dos escassos professores universitários conscientes da necessidade de refundar a Escola (torná-la, efetivamente, Pública) e conceber a Universidade à medida do sonho de Darcy.

Compreendo, queridos netos, por que, construtivamente, criticastes a cartinha de ontem. Dissestes ser ela “dura”, “negativa”. Talvez. Admito que voltei a sentir sensações de antanho, do tempo em que uma crise ética se instalara. Era duro assistir à mercantilização da escola. Como aquele “Curso on-line – A EDUCAÇÃO HÍBRIDA E A PEDAGOGIA DE PROJETOS: PROTAGONISMO”.

Na prática, um logro! O que seria a famigerada “Pedagogia de Projetos”? Quem seria “protagonista”? O aprendiz não seria, certamente. Talvez o “palestrante”, pois o “valor com certificado de participação” custava ao formando 98 reais. E com “certificado acadêmico” subia para 118.

Enganações como essa eram abundantes, acompanhadas do adjetivo “inovador”. É curta a memória doa homens. Por isso me atrevo a voltar à “dureza” de uma crítica, que considero legítima. Admito que, também, possais chamar de “amarga” esta cartinha. Mas, crede que, vinte anos passados, quase apaguei da memória essa e outras tristes recordações. 

Nesse agitado dezembro, deambulei por escolas e casas de amigos. Na Região dos Lagos, a Bianca e o José me acolheram e me levaram a conhecer jovens casais em busca da educação de que os seus filhos eram merecedores, num tempo em que a educação das crianças e dos jovens ainda era muito maltratada.

Como poderíamos humanizar a educação, sob o esmagador peso de uma tradição de séculos? Evidentemente, imitando o beija-flor da estória, fazendo “a nossa parte”. 

Apesar de saber que aprendemos a partir do perguntar, hoje, nada perguntarei. Proponho que sejais vós a fazê-lo. De vós espero as perguntas, nestas cartinhas, ou por outra via. Precisamos de novas respostas, para velhas práticas.

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