Itapeba, 25 de dezembro de 2042
Junto à lagoa, nasce uma preguiça maior do que o mundo. Não sei se por efeito de vinícolos eflúvios, deu-me para deitar na rede e nada escrever. E, remexendo no baú das velharias em busca de algo que invocasse a quadra natalícia, achei um escrito da Rúbia, paraibana socióloga, folclorista e incansável curiosa.
Sei que esse escrito vos agradará. A Rúbia Lóssio descreve o Natal dos simples muito melhor do que eu conseguiria. Onde estiver, que a Rúbia sinta este reuso do seu texto como uma singela homenagem, preito de gratidão.
“Quem inventou o Natal? Festa universal que mistura essência pagã com essência cristã. Comemoração do solstício do inverno. Noite de reflexão social, espiritual, ética e moral. Noite de luz e de fé. Para as crianças de hoje Papai Noel, é pop. Mas, e para os meninos de olhares vazios no futuro eterno que ficam nos sinais de trânsito pedindo dinheiro, como será o seu Natal, ou melhor como seria o seu Natal? E para os lares sem enfeites e ceia, para onde foi o Natal?
Festa triste, mas singela, o Natal pode ser representado com o presépio. Francisco de Assis ajudou a propagar o nascimento de Jesus. As pastorinhas numa doce homenagem anunciam a chegada do menino Deus.
Numa batalha entre o bem e o mal o Natal surge para nos oferecer um momento de pensarmos na vida e no que fizemos dela. Como diz Carlos Drummond de Andrade no poema O que fizeram do Natal, “…As beatas ajoelharam e / adoraram o deus nuzinho / mas as filhas das beatas / e os namorados das filhas, / foram dançar black-bottom / nos clubes sem presépio.”
Talvez não percebamos, mas existe o natal religioso e o profano. E, como diz Fernando Pessoa, “Nasce um Deus. Outros morrem. A verdade / Nem veio nem se foi: o Erro mudou. / Temos agora uma outra Eternidade…”
Nesse sonho de eternidade buscamos resplandecer no Natal. Abram as portas, chegou o Reisado! Brincadeira popular, forma de expressão que traz luz e esperança diante da chegada do menino Deus. No ritual de celebração ao nascimento de Jesus Cristo, o Reisado faz do ciclo natalino um tempo de reinvenção da história do nascimento de Jesus Cristo.
Há no Pastoril, no presépio dançado, o encanto do Natal. No cordão azul e no cordão encarnado as pastorinhas exibem a alegria em adorar o menino Deus. Na construção da identificação do Patrimônio Cultural as manifestações do ciclo natalino contemplam um tempo de bençãos. Há uma exposição das relações sociais nas manifestações das culturas populares. Mas, o que realmente interessa no Natal? O espírito natalino? Os sonhos? Os encontros e a confraternização? A família e a ceia? Os presentes? O papai Noel? Seria o Natal uma farsa?
Como diz Charles Dickens no Conto de Natal, “Talvez o Natal venha mostrar o sentimento de amor, amizade, gentileza e ternura. Talvez, o Natal seja a data mais introspectiva do calendário. Mesmo anunciando o nascimento do menino Deus o Natal é uma data triste.” Mas, como diz Vinícius de Moraes em seu Poema de Natal, “Para isso fomos feitos: / Para lembrar e ser lembrados / Para chorar e fazer chorar / Para enterrar os nossos mortos — / Por isso temos braços longos para os adeuses / Mãos para colher o que foi dado / Dedos para cavar a terra. / Assim será nossa vida: / Uma tarde sempre a esquecer…”
Cora Coralina revela o Natal com otimismo, “Tem presente de montão no / estoque do nosso coração / e não custa um tostão! / A hora é agora! / Enfeite seu interior! / Sejas diferente! / Sejas reluzente!”
Nada melhor do que enfeitar o nosso interior. Neste Natal construa uma comunidade de afetos. Comece pensando o bem, querendo o bem e fazendo o bem. Feliz Natal!”
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