Novas Histórias do Tempo da Velha Escola (MCLIV)

Itapeba, 22 de fevereiro de 2043

A Quarta-feira de Cinzas marcava o início da Quaresma anunciadora da Páscoa. Mas, o Carnaval revelava que a única escola que pascalmente ressurgia, ressuscitava, aquela que realmente funcionava era… a escola de samba – uma manifestação de auto-organização, de cooperação, de trabalho de equipe. 

No fevereiro de vinte e três, uma escola prussiana disfarçada de “inovadora” era um contínuo Carnaval. Atenta ao disfarce, a Jane, “professora de Ensino Fundamental na falida e sofrida escola pública brasileira por pilhas de anos”, com pedido de perdão (de que não carecia), usava de uma “expressão meio violenta”: a escola mata alunos e mestres. Para não morrer dentro dela – dizia a Jane – só usando fantasia de carnaval o ano inteiro. 

“E daí o carnaval perde a graça e fica uma roupa batida, igual uniforme feio e triste que a mantenedora manda pra gurizada pobre. 

Enfim! A escola precisa sair dela, andar por aí, ver o mundo, deixar ser, deixar amar. Depois, deixar pensar, um pensar colorido com tudo o que cada um trouxer nos olhos, nas lembranças. 

Ela renascerá num parto humanizado, sem o fórceps diário da disciplina, da tarefa boba e desprovida de vida inteligente, que todo dia enche as pastas dos mestres e esvazia a alma dos que aprendem. 

E assim caminhamos, carregando o peso, um dia depois do outro, trocando farpas via conceito, via nota, via parecer descritivo, via boletim… Avaliamos a dor do fim, não o caminho bonito e florido que deveria ser o lugar que ensina, que produz boniteza que se aprende, que se ensina, que se troca, que dói, que sente e dá prazer e alegria. 

Credo! Deve ser a terça-feira gorda de carnaval baixando aqui no teclado. Desculpa o excesso. Abraços!”

Muitas foram as mensagens trocadas no Carnaval de há vinte anos. Como a da Walk: 

“Como psicopedagoga, atendo centenas de crianças adoecidas por esse sistema de encarceramento, de atenção aprisionada. Mas, o farol se mantém aceso. E segue iluminando nossos caminhos como educadores. Obrigada, por manter viva a chama da desobediência.” 

Efetivamente, para cuidar da infância, era necessário desobedecer. Para fazer ESCOLA PÚBLICA era preciso desobedecer. Para cumprir a lei, era preciso desobedecer. Para fazer prevalecer uma ciência prudente da educação, era preciso desobedecer.

Naquele tempo, o Mestre Pedro apontava a direção da Escola Pública e era quase uma excepção no domínio da teoria, pois escapava à sina do teoricismo reinante. Enquanto os seus pares teorizavam teorizações de teorias e se mantinham ancorados em práticas instrucionistas, o Mestre Pedro as questionava. 

“Fisicamente, aprendizagem é dinâmica mental que acontece no cérebro do aprendiz, sendo uma das propriedades mais marcantes da evolução biológica, denominada por alguns biólogos como “autopoiese”, para indicar seu movimento de dentro para fora, tipicamente autoral.

A trajetória de uma aprendizagem transformadora exige “ler a realidade”, conceito que virou ícone de pedagogias que apostam na autoria do estudante”.

O meu Mestre invocava Maturana. Eu já o havia estudado, bem como Varela e outros autores da América Latina. Mas, nada melhor do que o ler descrito por um autor, também, latino-americano. 

Para cumprir um compromisso assumido com uma secretaria de educação, criamos o primeiro de muitos círculos de aprendizagem. E, na Latina América de há vinte anos, fomos oferecer “aprendizagem transformadora” a uma escola, para que ela fosse, realmente, PÚBLICA. A matrícula de três crianças marcava o início de uma nova construção social de aprendizagem.

 

Por: José Pacheco

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