Arraial d’Ajuda, 14 de julho de 2043
Como, ontem, vos disse, nos idos de vinte, um aumento significativo de alterações climáticas provocava a eclosão de novos fenômenos. E as crianças não ficaram imunes aos efeitos da degradação ambiental – novos fenômenos as afetaram: “privação de Natureza”, “ecoansiedade”, sedentarismo, aumento da violência, de bullying e cyberbullying …
Se as escolas eram as pessoas e se o meio ambiente era composto por elementos naturais e humanos, que interagiam entre si no espaço, um dos modos de cura ambiental seria considerar que toda a educação era ambiental. Porém, os negócios educacionais, que mercantilizavam a Escola Pública, não manifestavam interessse por assuntos de escasso lucro. Quedavam-se por inúteis formações e congressos “socioemocionais”.
Evidências científicas se acumulavam sobre os prejuízos para a saúde decorrentes da degradação ambiental, agravada pelo uso precoce, excessivo e prolongado das tecnologias digitais, durante a infância e adolescência.
Talvez não fosse do conhecimento dos desgovernantes de então este repositório de perdas e perigos. Nesse tempo, o Brasil contava mais de dez milhões de pessoas passando fome. A insegurança alimentar aumentara e atingira um terço da população do país. Era gravíssima a situação, pois 73% das escolas ditas públicas estavam localizadas em áreas de risco hídrico, geológico e de vulnerabilidade social.
Nas escolas-prédios, eram injetados projetos: de educação ambiental, mas o efeito de estufa aumentava, a Amazônia encolhia, espécies eram extintas e geleiras derretiam. Projetos de educação sexual não obstavam a que estudantes universitários estuprassem colegas, durante o trote. Havia projetos de educação para o trânsito e para a saúde, mas as estradas eram cemitérios e a obesidade mórbida aumentava. Até havia projetos de educação para a paz, num tempo em que crianças e professores eram assassinados dentro das escolas-prédios.
Muitos saberes tinham sido extintos, ao longo de uma era a que o vosso avô dera o nome de “Proto-história da Humanidade” e que o Paulo nos recordara.
Em 1755: num terremoto, que destruiu Lisboa, mais de 70.000 volumes da Real biblioteca de Portugal foram perdidos.
Em 1813: durante a Batalha de Washington, 3 000 livros foram usados pelas forças inglesas, para incendiar o Capitólio.
Em 1851: a Biblioteca do Congresso, uma das principais bibliotecas dos Estados Unidos, sofreu com um incêndio que queimou 35.000 livros
Em 1873: a Sociedade Nova Iorquina para a Supressão do Vício, uma organização fundada para combater a imoralidade, tinha como símbolo um desenho representando a queima de livros.
m 1879: na Biblioteca Central de Birmingham, houve um incêndio que consumiu praticamente todo o acervo da biblioteca, poupando cerca de 1.000 dos 50.000 volumes.
Entre 1914 e 1920: na União Soviética, houve queima de um número indeterminado de “decadentes obras da literatura ocidental”.
Em 1933: 40 mil livros foram destruídos pelos nazistas na “Grande Queima”.
Na Varsóvia, a
Em 1944: a Biblioteca Załuski, ardeu em chamas com a destruição provocada pelos nazistas.
Em 1950: durante o “macarthismo”, muitas bibliotecas dos Estados Unidos queimaram livros considerados “comunistas”.
Em 1973: após o golpe militar no Chile, livros considerados subversivos foram queimados.
Em 1998: 55.000 livros da Biblioteca Pública afegã Poli-Khomri foram destruídos por talibãs.
Em 2015: no Iraque, o Estado Islâmico queimou milhares de livros, destruiu bibliotecas privadas e a da Universidade de Mosul.”
Por: José Pacheco
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