Itaipu, 25 de novembro de 2043
Nos idos de vinte e dois, recordo-me de o meu amigo (e sábio) Isaac Roitman ter lembrado aos seus conterrâneos que, no dia 21 de abril, a sua “querida UnB” completaria 60 anos de existência. Percorramos uma “linha do tempo”. No quinquagésimo ano de vida da universidade, tinham sido comemoradas “conquistas, identificando os fracassos e as omissões”. E a “Comissão UnB.Futuro” surgiu, para pensar a universidade de outro meio século.
Na década de cinquenta, acadêmicos sentiram “necessidade de uma inflexão no ensino universitário brasileiro”. Mas, o que se pretendia fosse inovação, sofreu o desgaste registrado no livro “A Universidade Interrompida 1964-1965”.
Nos idos de sessenta, no seu depoimento na Câmara dos Deputados, Agostinho da Silva defendeu um modelo da universidade, que enfrentasse os desafios dos tempos presentes (estávamos na década de sessenta) e futuros:
“A Universidade atual, que vem da Universidade medieval, é uma Universidade que se alicerça sobre a ideia de fraternidade, de esforço comum, para atingir uma verdade, que não é puramente intelectual, mas uma verdade de sentimentos, de unidade entre os homens.
O grande drama da Universidade brasileira, hoje, é que estamos tentando implantar no Brasil estruturas que são efetivamente de outros estágios educacionais e que de maneira nenhuma podemos adaptar ao Brasil.”
Nesse corajoso discurso perante a Câmara, Agostinho da Silva denunciou a falta da liberdade e da autonomia, gerada pelo “regime de medo”, que fazia com que a Universidade não pudesse cumprir a sua missão criadora.
Em pleno “maio de 68”, num ano em que o mundo passou por profundas transformações, Agostinho vaticinava aquilo que viríamos a vivenciar, algumas décadas depois:
“Cada vez creio mais que o Brasil é de todas as nações aquela que mostra no mundo, neste momento, mais capacidade criadora, mais capacidade humana, mais possibilidade de convivência. Mas, de nenhuma maneira nós podemos ter a esperança de ter uma Universidade nova, se não tivermos um Brasil novo”.
Volvido meio século, novo “regime de medo” se instalou. Nesse tempo de negacionismo, sinais de ressurgimento criador surgiam.
Mas, o sonho de Anísio e Darcy, não morrera. Outros insignes mestres o retomaram: Vladimir Carvalho, Aldo Paviani, Adalgisa Rosário, Isaac Roitman e outros vultos, que tive oportunidade de conhecer. A UnB “estava viva”. Contudo, resquícios de “regimes de medo” afetavam a universidade, corroendo o sonho de Darcy, ignorando a reflexão de Agostinho:
“A Universidade não é capaz de responder mais aos anseios da juventude, que quer encontrar um estímulo de criação, alguma coisa que a encaminhe para o mundo e não encaminhe apenas para a sua profissão”.
Nos idos de vinte, essas palavras ressoavam carregadas de triste atualidade.Na academia, a formação dos educadores permanecia ancorada em práticas instrucionistas. Pagava-se muitos reais a norte-americanos, que “deram cursos” (deram aulas), para os professores “adotarem novos modelos de aula, adotarem novos tipos de aula, para que os alunos pudessem absorver melhor os conteúdos”. Peremptório, um desses professores afirmava:
“Não dá para abandonar as aulas tradicionais de uma só vez”.
Pois não! Nem as “tradicionais”, nem as “modernas”.
Nas salas de aula de 2023, uma ensinagem desprovida de sentido, sem fundamento científico, reproduzia um modelo arcaico de sociedade. Caberá perguntar: Se a universidade era produtora de ciência, não deveria abandonar práticas desprovidas de fundamento científico?
Por: José Pacheco
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