Cariri, 14 de dezembro de 2043
Nas vésperas da criação das ARCAs (creio já vos ter falado dessa fraterna organização), eram intensas as trocas epistolares. Transcrevo uma mensagem, relato de auspicioso futuro. Amanhã, vos trarei uma carta reivindicativa.
“Prezado Professor José Pacheco,
Ao longo dos últimos quatro anos, o grupo escola esteve num denso e intenso processo de transformação da escola. Indagamo-nos o motivo pelo qual não estávamos conseguindo concretizar o nosso compromisso: proporcionar aprendizagem com sentido e significado às crianças.
A identificação dos problemas e a construção das alternativas que construímos não foram suficientes para explicar e superar as enormes dificuldades de aprendizagem. Prosseguimos com a indagação.
Afinal, quais os motivos pelos quais profissionais, em sua grande maioria, comprometidos com a educação e com as crianças matriculadas nesta escola e com competência pedagógica, não alcançam melhores resultados?
Foi um esforço enorme do grupo, reflexões, mudanças, com muita disposição e disponibilidade. Identificamos avanços nos processos de aprendizagem e desenvolvimento das crianças, principalmente naqueles referentes ao protagonismo e participação na vida escolar. Não obstante, tais avanços (de absoluta importância, diga-se), e considerando-se o empenho frente a empreitada de tal monta, o grupo não estava satisfeito plenamente com os resultados,
Convidamos educadores, diretores de escola, supervisores, para que respondessem às nossas indagações. O corolário desse processo foi a sua presença em nossa escola, num dos momentos de maior boniteza que vivemos, ao longo dos nove anos de projeto. Foi um imenso impacto em nossa comunidade escolar.
Fazendo convergir nossas indagações com o diálogo que mantivemos, construímos orientações. Definimos nossa proposta, qual seja: para melhorar é preciso transformar. Mas qual modelo seguir? Nossa resposta: nenhuma. Inspiração e exemplo foi o que buscamos, para construir uma escola da qual todos se orgulhem de fazer parte.
Buscamos conhecer escolas com práticas transformadoras, na nossa rede municipal e em outras redes, tais como o Projeto Âncora, a Campos Salles, al Amorim Lima etc. Amiúde trazem em seu bojo a proposta de transformação da organização escolar.
A partir destes exemplos, destas inspirações, e com base no princípio de não seguir modelos, no nosso horizonte foi se desenhando o ideal de uma escola na qual professores são sinonimizem a prática docente com dar aulas e alunos, a provas, crianças divididas por faixa etária; trabalhos isolados em salas de aula, regras e normas apenas impostas e cobradas.
Na avaliação do grupo escola, escolhemos aspectos que pudessem se constituir como ponte entre a escola que temos e a que queremos construir. Os professores não mais prepararam aulas, mas construíram roteiros de aprendizagem. Passamos a contar com espaços de aprendizagem para além da sala de aula; elaboramos os valores que devem fundar todas as ações, projetos e planejamentos da escola, a partir de seminários, cujo escopo foi o de refletir a a partir do seu Dicionário de Valores – Respondemos a pergunta: Por qual desses valores eu iria até o fim do mundo para defender? Escolhemos Responsabilidade, Respeito e Autonomia.
Fizemos a opção ética, profissional e político-pedagógica de que, como diria Paulo Freire, “O mundo não é, o mundo está sendo”, e com passos curtos, mas firmes, construímos veredas rumo ao processo de transformação da escola, demonstrando que “outro mundo é possível”.
Por: José Pacheco
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