Porto, 3 de janeiro de 2044
Muitos anos atrás, uma profunda mudança era gestada na ARCA portuguesa, e o amigo António, um atento quanto fraterno “Grilo do Pinóquio”, tecia algumas observações críticas:
“Ainda não estou satisfeito com a parte final da proposta do Luís, principalmente pelo facto de saber que esta conceção de “Comunidades de Aprendizagem” é polissémica e, como tal, há várias perspetivas sobre o que isso significa (até neste grupo). Apesar disso, aqui vai o que refiz, integrando já o importante contributo da Maria (percebo muito bem o “pipeline school to prison”, mas não o explicitaria aqui).
Penso que deveríamos ter um encontro final, para fecharmos este texto, contando com todas as contribuições.”
A minha amicíssima (e irmã) Maria aceitava o repto de um coletivo, retomando o libertário impulso, que sempre a caraterizou:
“Lá estarei, porque penso ser importante reunirmos. É bom fazer tudo com calma, cuidado e coletivamente.
Deixo aqui as alterações que proponho. Adicionei ao documento que o Luís criou as alterações do Zé, do António e as minhas. Isto de emails dentro de emails é meio aflitivo para mim. Mas aqui vai, com a “inclusão” do pedido de alargar a abrangência do Decreto 54/2018, algo que sonho concretizar, que tanto tenho vivenciado na pele e estudado.
Muito obrigada, Luís, por seres o Luís. Muito obrigada, António, por seres o António. Muito obrigada, José, por seres o José. Acrescento o que eu gostaria que estivesse incluído.
Embora seja uma espécie de minhoca que come livros, a minha língua materna é o inglês. Por isso, não me adapto muito bem aos formalismos estranhos e burocráticos que a nossa legislação, documentação, e academia produzem. Não sei se está bem escrito o que escrevi. Peço que alterem, se acharem bem.
O que queria mesmo era que se mencionasse o acolhimento, os conceitos de megadiversidade, onde a psicodiversidade, a neurodiversidade, a diversidade cultural, social, e funcional se enquadram. E, também, o “pipline school to prison” (não sei como se diz em português).
Por vezes, as coisas têm de ser feitas com pedras. Por vezes, com papelada. Por vezes, com amor. Por vezes, com o que tiver de ser. O essencial, neste momento, como dizem o Bruno Peixe e o José Neves é considerar “o tempo de recusar liminarmente o pressuposto. De uma oposição entre individual e coletivo”.
Vamos pedir que nos deixem laborar, agir e cuidar de nós e dos outros.”
A Maria e aqueles “outros” nos diziam que a ação persegue o sonho, aquilo que Xavier Montserrat trabalhava como conceito: o “horizonte vertical”:
“Só há motivação à sombra de uma visão do futuro. No espaço e tempo dos indivíduos, o futuro deve poder ser imaginado ou sonhado. O conceito de horizonte vertical exprime a imagem de uma visão dinâmica e motivadora do futuro.
Esta figura simbólica resulta do cruzamento de um eixo horizontal, que traduz a capacidade de ver longe, de se projetar na procura de fins a atingir e um eixo vertical, que representa uma progressão e um desenvolvimento em busca de um grau elevado de bom desempenho.
A ideia do futuro é necessária. Ela condiciona a capacidade de “estar em projeto”, passando de um «horizonte invisível» a uma visão do futuro. O registo da antecipação determina o da ação. O conceito de horizonte vertical exprime a aspiração legítima para se projetar e mobilizar. A visão e a compreensão do projeto da organização permitem identificar o alvo coletivo e mobilizar energias.”
Num mundo de racionalidade crescente, a antecipação, a previsão e a prospetiva constituem ferramentas para reduzir a incerteza face ao futuro.
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