Novas Histórias do Tempo da Velha Escola MCDLXXII

Escola da Floresta, 7 de janeiro de 2044

Perguntais, netos queridos, por que venho terminando as últimas cartinhas com perguntas. Vos direi porquê.

Venho reproduzindo perguntas que eu fazia, vai para uns vinte, trinta, quarenta anos. Perguntas a que ninguém se dignou dar resposta, pois ninguém sabia que resposta dar. Não havia resposta, porque aquilo que acontecia nas escolas perdera sentido. O sistema de ensino era uma grande mentira construída sobre milhões de euros e de reais.

O amigo Miguel Guerra explicava essa mentira, fazendo algumas perguntas:

“Há formas de dizer a verdade que se convertem em mentiras. Por isso é importante avivar o discernimento para não se deixar enganar.

Como nos é contada a verdade através da imprensa, da escola, do poder, da publicidade, da versão oficial?

A ingenuidade revela-se o pior aliado para decifrar o sentido da realidade.
Convém, antes de mais, advertir que se podem dizer as maiores mentiras dizendo verdades incontestáveis.

Uma noite, o oficial encarregado do diário de bordo embebedou-se e, dessa vez, a descrição do dia teve que ser redigida pelo próprio capitão, que, no final, acrescentou esta nota:

“Hoje, o tenente embebedou-se”.

Nota que, naturalmente, ofendeu o oficial, tanto que no registo do dia seguinte se permitiu acrescentar, também, uma nota:

“Hoje, o capitão não se embebedou”.

Eis uma forma de alterar a verdade: explicá-la de forma que a linguagem leve a interpretá-la no sentido contrário. Não restam dúvidas de que, neste relato, a intenção do oficial não podia ser mais perversa. Dizer a verdade era taxar de bêbado alguém que, por acaso, nunca bebia.”

A verdade, a mais incontestável verdade era que, nos idos de vinte, a racionalidade que prevalecia na maioria das práticas escolares augurava tempos ainda mais sombrios. Enfeitado de projetos paliativos, ou travestido de digital, o sistema de ensinagem estava falido, desde há mais de cem anos. E, desgraçadamente, a formação de professores continuava a produzir dadores de aula.

Quando algum dador de aula confundia formação experiencial com “experiência” e me dizia ter vinte ou trinta anos de experiência de sala de aula, eu esclarecia que ele tinha apenas um ano de experiência. Em cada um dos restantes dezenove, ou vinte e nove, ele teria repetido aquilo que foi a sua experiência do primeiro ano do exercício da profissão.

Nos idos de vinte e três, Portugal tinha passado de uma euforia de “bons resultados” no PISA para a descida de “alguns lugares” nesse ranking. A fechar o ano de 2023, a comunicação social assim descrevia a situação:

“Foi publicada a edição 2023 do relatório PISA, que Identifica as tendências de evolução, analisa e compara o desempenho dos alunos dos países da OCDE participantes, em matemática, leitura e ciências, analisando também alguns fatores relacionados com o bem-estar. Esta edição revela que os alunos portugueses baixaram o seu desempenho em matemática e leitura, face a 2018. Nas ciências, a quebra foi menos acentuada.”

Os comentários de “especialistas” a este tipo de notícia eram tão ridículos, que me eximo de os citar. A “síndrome do pensamento único” traduzia-se num conjunto de afeções patológicas muito comuns nos habituais “opinion makers”. Para esses doentes existia um só modelo de escola. Entretanto, novas construções sociais de aprendizagem e de educação foram surgindo em Portugal e no Brasil, frutos da ousadia de pais e professores éticos.

Queridos netos, presumo que tenhais ouvido falar das ARCAs. Então, cá vai mais uma pergunta:

O que aconteceu de relevante no 2024 da Educação?

 

 

 

 

 

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