Foz do Arelho, 20 de junho de 2040
Por que aprendemos? Como aprendermos? O que deveremos aprender? Estará a “escola obrigatória” a contribuir para o desenvolvimento do ser humano? – era, mais uma vez, o amigo João a refletir sobre aprendizagem e a cuidar do futuro dos seus filhos. Escutemos o que dizia no distante mês de junho de 2020:
Hoje, tive (uma vez mais) o privilégio de estar com os meus filhos e sobrinhos num ambiente perfeito, com muito espaço natural. É incrível o que aprendem assim, como aprendem e o que decidem aprender. O amor que nutrem uns pelos outros, o respeito, a entreajuda, num grupo com crianças dos 3 aos 14 anos, faz com que se sintam confiantes para… perguntar. Como é simples!
Tão simples era para um pai – e tão difícil para um professor – o saber aprender. O João integrava um núcleo de projeto, lado a lado com professores como a Izabel, que assim se expressava:
Estamos na formação inicial do grupo. Uma amiga topou e convidamos outra, que ainda está a pensar se quer aprender. Tenho refletido muito sobre esses movimentos de educação em casa, sobre o papel da família, sobre o papel da escola. Andei conversando com pais da escola do meu pequeno e há muita preocupação sobre as crianças, que estão entristecidas com as aulas virtuais e não sabem o que fazer. Tenho compartilhado algumas experiências de pesquisa com o Rafa, tomando o cuidado de reforçar que não substituo a escola, mas assumo um papel de protagonismo. Alguns poucos pais se colocam como interessados. Creio que o silêncio da maioria diz muito, também. Alguns não se sentem capazes de fazer diferente, outros se colocam a rezar para que as aulas voltem logo, alguns tiraram os pequenos da escola. Há de tudo.
Espero, junto com o núcleo, encontrar modos de conectar a família com os filhos, mas sem pensarem que irão excluir a escola. Nessa pandemia, a condição de isolamento social, as emoções à flor da pele com tudo o que está acontecendo, a dificuldade para produzir no trabalho e trabalho de casa, trazem muitos desafios. Sejamos mais criativos!
Concluo esta cartinha, “plagiando” mais uma mensagem.
Boa tarde, meu amigo! Peço desculpas pelo abuso em te escrever. Depois do encontro de ontem, um nó na garganta se fez. E, por ele, venho aqui. Primeiro, para agradecer mais uma vez e sempre por seu FAZER. (…) Como criança, chorei pelo descompasso do tempo do Universo. Por instantes, desejei que o meu pequeno fazer tivesse cruzado com o seu, há tempos. Mas sei que não há acasos…
Aqui chegado, recordei um “cruzamento” de há quarenta anos. O “Pássaro Encantado” (para quem não saiba ou lembre, refiro-me a Rubem Alves) tinha ido ao outro lado do mar, ao encontro da escola “com que sempre sonhara”. Preocupava-se com o futuro dos jovens, mas não se abstraía da necessidade da felicidade do imediato. O Pássaro Encantado ia de terra em terra, ensinando a desaprender. Seguindo o seu exemplo, muitos educadores, conscientes de que o tempo foge enquanto a eternidade avança, ousavam reinventar a Escola, reivindicavam a felicidade do aqui e agora.
Eu apenas ajudava a cumprir o sonho do amigo Rubem. A Ingrid, que eu ajudava e me ajudava, enviou-me um “Telegram”:
Enquanto me permitir, o seguirei no “Preciso de ajuda”. Quero que pontuem todos meus erros. Comigo, há muitas vidas que seguem no esperançar e não desistirei do fazer como deve ser feito. São muitos os erros no começo e novos surgirão no processo. Mas, lutarei sempre. Este não é um projeto só de educação, é de vida.
Por: José Pacheco
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