Arrábida, 3 de julho de 2041
Queridos netos,
Manifestastes interesse em saber como se aprendia nas comunidades de aprendizagem. Satisfaço a vossa curiosidade.
Há, mais ou menos, uns vinte anos, no início do projeto das turmas-piloto, o vosso avô recomendava que se fizesse o que estava plasmado na lei (em abono da verdade, se afirme que as escolas não praticavam). Por exemplo, uma avaliação formativa, contínua e sistemática. Nas escolas, aplicava-se prova e “dava-se nota”, confundindo avaliação com classificação. Em contrapartida, nos protótipos de comunidade de aprendizagem, eram concebidos registros de evidências de aprendizagem cognitiva e atitudinal, e organizados portfólios de avaliação.
Durante os primeiros meses de cada projeto, os educadores dedicavam tempo e cuidado a uma avaliação diagnóstica, com registro numa plataforma digital. Após o período experimental, quando o registro de avaliação formativa de cada educando estivesse atualizado, a iniciativa do momento de verificação das aprendizagens era do educando, quando sentia “que já sabia” e decidia partilhar o conhecimento produzido com os seus companheiros.
Os círculos de aprendizagem eram acompanhados pela criação de círculos de estudo por área de conhecimento, nomeadamente, na área da alfabetização linguística e lógico-matemática. A criação de círculos de estudos era antecedida de oficinas, nas quais eram produzidos roteiros de estudo e iniciada a partilha de conhecimento, em equipe.
Com uma definição dos espaços de aprendizagem já realizada, era possível partir para a elaboração de um diagnóstico atualizado da realidade educacional, através de pesquisa nos domínios social, econômico, cultural. Procedia-se à identificação do potencial educativo da comunidade. Delineados os perfis, buscava-se a compreensão da função social da escola na comunidade. Ao longo do processo formativo, se realizava o mapeamento de espaços e de pessoas com potencial educativo, dentro e fora do edifício-escola.
Poder-se-ia elaborar um inventário de saberes populares (por exemplo, de medicina popular, de meteorologia popular), realizar um levantamento de tecnologias sociais locais, elaborar o estatuto de voluntário, um mapa de disponibilidades, um banco de horas…
A pesquisa acontecia nas bibliotecas, nos espaços de aprendizagem do edifício-escola e da comunidade, como na praça, na floresta, ou na Internet. E qualquer espaço do edifício-escola, como a plataforma digital deveriam estar ao serviço de toda a comunidade.
Em qualquer dos contextos, os tutores fomentavam o recurso a processos complexos de pensamento, como: selecionar, analisar e criticar informação, comparar diferentes informações, uso de senso crítico na identificação de fontes de informação, avaliar, sintetizar, comunicar.
Os projetos isolados eram frágeis, insustentáveis. Urgia criar redes de núcleos de projeto, promover a colaboração entre pessoas e instituições, através da criação de uma rede digital, onde diferentes saberes e projetos fossem partilhados. Considerada a escola como nodo de uma rede de aprendizagem, seria conveniente constituir parcerias, propiciar a constituição de redes de comunidades.
Era promovida eco sustentabilidade, reforçado o estímulo ao espírito inventivo e a criação de soluções novas. O conhecimento produzido era sistematizado, para posterior difusão, criando núcleos documentais. E a responsabilidade social era um princípio ético, que nos dizia que tudo o que fosse inovado o deveria ser para benefício coletivo.
Por: José Pacheco
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