Novas Histórias do Tempo da Velha Escola (DLXXXVIII)

Perequê-Açu, 12 de julho de 2041

Hoje, o mestre Anísio completa 141 primaveras (acredito que os imortais vivam em eterna primavera). Nos idos de vinte, celebrávamos o seu centésimo vigésimo primeiro aniversário, trocando mensagens com educadores amigos, comentando a extraordinária obra que ele nos legou. 

Vivíamos um tempo sombrio, semelhante àquele em que o Mestre foi (fisicamente) silenciado. Nesse tempo, eu convidava à reflexão, para tentar entender o que poderíamos fazer com aquilo que fizeram de nós. Também procurava saber onde encontrar lugares de sã aprendizagem, como instituir espaços de fraterna convivencialidade, recriando a escola pública. Assim a definira Anísio, há já mais de um século.

Tristes tempos foram aqueles do início dos anos vinte! Mas, também foram tempos de observância ao pensamento de Anísio Teixeira para a educação de Brasília:

”Fazer escolas nas proximidades das áreas residenciais, para que as crianças não precisassem andar muito para alcançá-las.”

Anísio recomendava a pesquisa nas bibliotecas e a reorganização dos tempos escolares, para garantir o princípio da integralidade defendido no “Currículo em Movimento da Educação Básica”:

“O território não se limita ao espaço geográfico, mas a abrangência dos efeitos sociais e políticos em que o indivíduo esteja inserido. O estudante não é só da professora ou da escola, e sim da rede, da Cidade”. 

“A cidade pode constituir-se espaço educador, que possibilita o encontro dos sujeitos históricos, criando espaços, tempos e oportunidades educacionais. A formação dos indivíduos não se restringe ao espaço físico escolar; é uma proposta que integra a vida comunitária, o envolvimento e a articulação de todas as instituições e associações públicas e privadas, que tornam a educação pública, de fato, um direito subjetivo, conforme estabelece a Constituição Federal”. 

Extraí este naco de prosa de uma publicação da Secretaria da Educação do Distrito Federal. A “Escola Candanga” fora uma proposta lançada na segunda década deste século. Nos idos de vinte, a mesma secretaria a contrariava. Serventuários do regime do medo não hesitavam em recorrer a medidas manchadas com sinais de ilicitude. Entre o desprezo pelos ideais de Darcy e a sonegação de preceitos contidos num documento, que dava pelo nome de “Escola Candanga”, se esvaíram esforços de a todos assegurar o direito à educação.

As propostas do mestre escolanovista eram sistematicamente contrariadas. Com indícios de falsidade ideológica, se limitava o exercício de aprender à sala de aula, onde a aprendizagem não acontecia. Restava “ver o copo meio cheio”. Ainda em tempos sombrios, de que hoje resta uma vaga memória, despontavam pontos de luz anunciadores daquilo que, na década de trinta, plenamente se concretizaria. 

Em Uberaba, a minha amiga Lívia provava ser possível que a academia alinhasse as suas práticas com uma educação do século XXI. Com outros educadores, experienciava caminhos de novas e efetivas aprendizagens, praticando tutoria:

“Hoje atravessamos o oceano e fomos para a Angola, na nossa mãe África. A Ana Letícia queria aprender e o Sandelson tinha o que partilhar. Então, ele nos presenteou fazendo parte da tutoria de hoje”.

A Universidade acordava de um longo sono, se assumia como uma das responsáveis pelo caos educacional. Ensaiava novas práticas, ainda ia a tempo de se redimir de erros e omissões. A transformação da educação ultrapassava o âmbito restrito do prédio da faculdade, ia além de um digital domesticado, no estabelecimento de redes de fraterna cooperação.

 

Por: José Pacheco

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