Arrentela, 20 de dezembro de 2041
No dezembro do já distante 2021, o amigo André isto escreveu acerca da Open Learning School:
“Não é aceitável um modelo educacional em que alunos do séc. XXI são “ensinados” por professores do século XX, com práticas do século XIX”. Esta citação de José Pacheco tem tanto de verdade como de triste. Por trabalhar em educação, a representar os mais prestigiados colégios e universidades do mundo, escolas frequentadas por filhos de presidentes e multi-milionários, tive a oportunidade de poder ver, pelos meus próprios olhos, aquelas que se consideravam como “as melhores escolas do mundo”.
Percebi que o modelo base de educação era o mesmo: instrucionista. A única diferença eram os cavalos, os campos de golfe e de tênis, até cinema 3D. Escolas onde a diferença era que o professor, em vez de licenciado ou mestrado, era doutorado, e, em vez de 20-30 alunos numa sala, tinham 6 ou 8. Eram todas iguais! Alguém debita – os alunos decoram.
Nunca pensei dizer isto, ironicamente. Quando chegou a minha vez, não consegui encontrar escola para os meus filhos. Três anos de estudo e dedicação fizeram-me perceber que a educação parou no tempo. Tudo mudou, menos a educação. Então, em vez apontar problemas, decidi que queria fazer parte da solução.”
Era genuíno e legítimo o desejo do André de criar uma boa escola para os seus filhos. E, também, para os filhos de outros pais, que já tivessem tomado consciência do que seria uma “boa escola”.
Uma revista desse tempo ostentava na capa um sugestivo título: “Conheça as melhores novas escolas para o seu filho”. A mídia usava e abusava dessa ambígua expressão, estava inundada de um marketing digital baseado em “influencers” e falsos especialistas, que recomendavam produtos ou serviços a potenciais clientes… que não passava de publicidade enganosa.
“Novas” não eram. As lousas digitais não eram mais do que quadros negros do século XXI. Aquilo que distinguia uma “boa” escola não era dispor de aula 3D. Esses enfeites pedagógicos apenas davam um ar de modernidade a práticas, cujos avatares eram fósseis – Montessori criara a sua Casa dei Bambini em 1907. Dewey escrevera o seu livro essencial em 1905. Estávamos em… 2021.
E “melhores” em quê? O consumidor leigo considerava “boa escola” aquela que, desde a creche, ocupasse os primeiros lugares de absurdos rankings.
E o que nos diziam os rankings? Assinalavam escolas cujos alunos mais conteúdos aprendiam? Aprendiam, ou apenas debitavam decoreba em prova e a esqueciam?
A memória era esperta, apagava aquilo que não tinha significado. A bem da verdade se diga que, nessas “boas” escolas, quase nada se aprendia.
E as ditas “boas escolas” cuidariam da formação sócio-moral dos seus alunos? Como se explicaria que, entre as élites que as frequentavam, se contassem muitos corruptos de colarinho branco? Quantos conformistas eram produzidos nas velhas e péssimas “boas escolas”, indo ocupar as cadeiras do poder, incapazes de uma postura humanista e inovadora?
Afinal, o que seria uma “boa escola”? Não seria aquela que a todos acolhesse e a cada qual desse condições de ser sábio e feliz, independentemente de ter patrocínio público ou privado? Não seria aquela que desenvolvesse excelência acadêmica e inclusão social?
Seria preciso enjeitar maniqueísmos fúteis, questionar o mito da “boa escola”, pugnar para que todas as escolas a todos garantissem o direito à educação, a uma educação humanizadora.
Pressenti verdade nas palavras e amorosidade na intenção. Isso bastou para que ajudasse o André a fazer uma verdadeira boa escola.
Por: José Pacheco
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