Capão da Canoa, 12 de fevereiro de 2042
Professora, engenheira, atleta olímpica, atriz, jogador de futebol, modelo, veterinária, técnico de Informática, eram alguns dos sonhos das doze crianças vítimas do Massacre do Realengo.
Quanto vale uma vida? No “mercado de trabalho” era medida em “horas úteis”. Na Educação, pelo tempo passado na humanização da Escola. Mas, nesses tempos sombrios, a violência se projetava, atravessava o tempo escolar. Quando “crianças-soldados” diziam que a guerra roubara a sua infância, políticos incentivavam a compra de armas e as grandes potências – Estados Unidos, Rússia e China – preparavam o que poderia vir a ser a última das guerras.
Em 2019, dois jovens invadiram a Escola Estadual Professor Raul Brasil, mataram cinco estudantes e duas funcionárias da escola. Após cometerem o crime, suicidaram-se. Pouco tempo depois, a polícia descobriu que um dos atiradores havia matado o próprio tio.
O Sigmund, que explicava tudo, considerava que a vida psíquica estava dependente de uma energia vital chamada “pulsão de vida”. Mas, considerou a existência de outro tipo de pulsão, contrária à primeira, que explicava uma parte da psique humana que Eros não comportava: a pulsão de morte, ou Thanatos.
No fevereiro de há vinte anos, andei visitando escolas de Mogi das Cruzes. Ali, mesmo ao lado de Suzano, a Prefeitura, a Secretaria de Educação, diretores e professores tinham aprendido a lição dada pelo município vizinho. Juntos, lançaram um projeto de “Educação Humanizada”.
Porém, também em Mogi, a baixa política, uma política conduzida por bonsais humanos possuídos pela pulsão da morte, conspirava. A par da Covid, outra doença se espalhava. Thanatos, o “impulso da morte” rondava, comprometendo a humanização do ato de ensinar e aprender. Como dizia o povo, “para grandes males, grandes remédios”. Urgia um “tratamento de choque”.
Num mundo feito de cruel insanidade, uma escola doente reproduzia um modelo educacional obsoleto. A lista das enfermidades que, há uns quarenta anos, afetavam as escolas, era extensa. Refiro algumas.
O “modismo” caracterizava-se pela adopção acéfala de modas pedagógicas, quase sempre importadas. Associado ao “aventureirismo pedagógico” e ao “praticismo”, o “modismo” foi responsável por transtornos vários.
A “síndrome do pensamento único” consistia num conjunto de afecções patológicas muito comuns em “opinion makers”. Para esses doentes existia um só modo de pensar, um só modo de agir, um só modelo de escola. Padecendo de corrupção intelectual e moral, conspiravam nas catacumbas pedagógicas de ministérios, secretarias e diretorias, atacado e destruindo o pensamento divergente.
Toda a prática dissonante os impelia a reações violentas. Áulicos ao seu serviço espalhavam boatos, calúnias, comentários persecutórios. Quem ousasse interpelar o modelo único, sugerir alternativas, ou instituir outras práticas, sofreria perseguição feroz de hordas de “paus mandados”, porque os achacados do “pensamento único” não permitiam veleidades.
O “teoricismo” (doença antípoda do “praticismo”) afetava parte significativa de uma universidade ancilosada. Os enfermos produziam inúteis teorizações de teorias inúteis, produzidas sobre teorias de teóricos, que não faziam a mínima ideia das práticas sobre as quais teorizavam. No aconchego dos seus gabinetes, os afetados pelo “teoricismo” desenvolviam sofisticadas propostas teóricas, que não logravam fertilizar as práticas, dado que a “impotência prática” era um dos sintomas associados a essa maleita.
Por: José Pacheco
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