Parceiros, 9 de maio de 2042
Na década de 80, o prédio onde se começara a “Fazer a Ponte” foi demolido. A Associação de Pais providenciou instalações provisórias. E uma ágora nasceu num edifício de “área-aberta”.
A ele aspirávamos, desde os anos setenta. Sobre ele o Miguel escreveu um artigo, em língua inglesa. Dele vos falo em português:
“As escolas de “área aberta – tipo P3” foram amplamente contestadas em Portugal. Muitos professores, administradores e até encarregados de educação consideravam este modelo de escola inapropriado e, por isso, um “fracasso”.
No entanto, a Escola da Ponte, uma das escolas de área aberta que “sobreviveu”, foi reconhecida num guia sobre experiências inovadoras. Curiosamente, uma das principais razões do sucesso dessa escola era, precisamente, o seu design em “área aberta”. Essas escolas eram convites à inovação e abertura à comunidade”.
Assim falava quem sabia… e a abertura à comunidade se expandiu, quando fiz uma breve passagem pela gestão da autarquia. Foi um tempo propício à participação. O polivalente do novo edifício foi espaço propício à prática de desportos e nele se realizaram inúmeros espetáculos e reuniões.
Em 87, fui um dos oito professores selecionados para frequentar a primeira licenciatura em Ciências da Educação. Foi tempo de compreender que toda a prática tem, implícita ou explicitamente, teoria. Tudo o que fizéramos na Ponte tinha teoria subjacente. Amor e coragem tinham sido suficientes nos primeiros anos do projeto, mas ignorávamos que o projeto tinha explicação… científica.
Atualizáramos Montessori, Claparède, Dewey, Steiner, Decroly, Freinet, Freire e um sem-fim de autores da Escola Nova – a transição para o paradigma da aprendizagem estava consumada.
Adaptáramos contribuições da Psicologia da Educação, da Filosofia da Educação, da Sociologia da Educação, do Desenvolvimento Curricular; da Epistemologia, das T. I. C., da Política Educacional, da Psicanálise, das Neurociências, da História da Educação e de outras áreas. Mas, um incidente crítico me propiciaria refletir sobre o que fizéramos.
Um realizador de cinema fizera um documentário sobre a Ponte e me mostrou algo de que eu não me apercebera. Sempre que eu me sentava junto de um aluno, ele abraçava-me, eu dava-lhe a mão e a conversa fluía. Foi o que aconteceu, quando uma criança ergueu o seu braço e fui ao seu encontro. Perguntei-lhe:
“Que me queres, amigo Pedro?”
“Tenho uma dúvida, Professor Zé.” – respondeu.
“E qual é a dúvida?”
A conversa findou com uma surpreendente observação:
“Pensa um pouco, professor! Se um ser vivo é aquele que nasce, cresce, se reproduz e morre, então eu não sou um ser vivo, porque ainda não me reproduzi, nem morri.
Quando a criança questionou o que estava escrito nos livros, compreendi que acontecia metacognição, que ela já pensava sobre o pensar. Persistentemente, tínhamos ajudado a desenvolver processos complexos de pensamento. Tínhamos ensinado a selecionar informação pertinente, a analisar e a criticar a informação colhida. As crianças comparavam diferentes informações e as avaliavam. Após as sintetizar, passavam do saber construído à ação, desenvolvendo… competências.
Nas formações realizadas no contexto dos programas de Coordenação Pedagógica dos anos setenta e oitenta, aprendizagens realizadas ainda em transição de sala de aula para novas práticas fertilizaram outras práticas, e nos deram ensejo de pensar sobre o pensar. Sempre que ensinávamos aprendíamos, porque seguíamos o conselho de um jovem aluno:
“Pensa um pouco, Professor Zé!”.
Por: José Pacheco
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