Araras, 24 de agosto de 2042
Araras fora uma das pioneiras na libertação dos escravos, no de abril de 1888, antes mesmo de a Lei Áurea ser assinada. E viria a ser uma das pioneiras na libertação da escola das grilhetas da escola prussiana. Fui ao encontro da Celi, da Ana, a Priscila, do Marcos e de outros educadores ararenses, por volta do agosto de vinte e dois. Por lá conheci a Flávia, empresária humanizadora, que me ensinou a juntar pessoas e continentes.
O Chico já o havia intuído nas suas canções. No “Tanto mar” e no “Fado tropical”, a herança lusitana voltava a se fazer presente nos cantos e recantos do Brasil. Nas duas margens de um oceano que unia, despontavam “avencas na catinga / Alecrins no canavial / Licores na moringa / Um vinho tropical / E a linda mulata / Com rendas do Alentejo”.
No Alentejo português, as proféticas palavras do Mestre Agostinho ganhavam sentido, quando Portugal começava a desembarcar em Portugal, transportando em aviões-caravelas a nova educação, que brotava no sul. No Alentejo onde havia educadores sensíveis, como a Fátima. Certamente, vos recordais de uma cartinha em que citava esa minha amiga Fátima. Pois bem! A citarei, de novo.
“Sei que o caminho é longo. Sei que a questão é vasta e complexa. Mas, também acredito que esta é a questão mais importante de um povo e de um país.
Talvez seja agora o tempo de começar, mesmo que seja devagar, pelo menos com quem ainda se sentir com forças. Que os adultos reapreendam a sonhar, para que ajudem os jovens a concretizar os seus sonhos. Ninguém consegue passar uma mensagem se nela não acredita.”
Houve quem acreditasse e fizesse. Do Brasil, enviei a boa-nova ao ministro e ao secretário de educação de Portugal. Certamente, essa notícia iria confortá-los, pois o ministro dissera que aquilo que o motivava para “estar ministro” era “o combate às desigualdades através da educação”.
No email, lhes dizia que iriam ser criados protótipos de comunidades de aprendizagem. A Lei de Bases e vários decretos lhes conferiam legitimidade. E a fundamentação teórica constava da vasta bibliografia, que acompanhava os documentos-bases do projeto. Tudo nos conformes…
No setembro de vinte e dois, centenas de educadores começariam a aprender em comunidade. Arguumento não faltava. Os projetos humanos contemporâneos não se coadunavam com as práticas escolares que, infelizmente, ainda eram impostas aos professores. E as escolas careciam de um novo sistema ético e de uma matriz axiológica clara, baseada no saber cuidar e conviver.
Urgia que abandonássemos estereótipos e preconceitos. Que se transformasse uma escola obsoleta numa escola que a todos e a cada qual desse oportunidades de ser e de aprender a aprender, a fazer e a conviver.
Se a modernidade tendia a remeter-nos para uma ética individualista, nunca seria demasiado falar de convivência e diálogo enquanto condições de aprendizagem. Seria oportuno falar de novas construções sociais de aprendizagem e de educação, nas quais se concretizasse uma educação, efetivamente, integral.
A educação aconteceria na convivência, de maneira recíproca entre os convivas, desde que se concretizasse a transição de práticas fundadas no paradigma da instrução para práticas fundadas no paradigma da aprendizagem e da comunicação, sem jogar fora contribuições da ensinagem, atualizando as didáticas, valorizando o papel da memória e a competência do professor: a aula.
A partir do que éramos e do que fizeram de nós, daquilo que sabíamos e do que sabíamos fazer, se afirmava a possibilidade de conceber… comunidades de aprendizagem.
Por: José Pacheco
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