Brasília, 6 de outubro de 2042
Num dia do já distante outubro de vinte e dois, recebi um WhatsApp, que dizia:
“Bom dia, pessoas!
Ontem foi publicada a aposentadoria da nossa querida diretora Marta Caldas. Somos todxs muito gratxs por tantos anos de dedicação à Educação do DF e, em especial, aos 9 anos que esteve à frente da gestão da Escola Classe 115 Norte. Como forma de retribuição a tudo que ajudou a construir na nossa comunidade, faremos um Sarau de Homenagem e Despedida na escola, no próximo dia 6/10 (quinta-feira), a partir das 18h.
Nesse sentido, te convidamos a participar desse momento da forma que mais lhe agradar
Contamos com sua presença nessa linda celebração de travessia na vida da Marta Caldas!”
Não me foi possível estar presente no Sarau. Mas, como não havia longe nem distância, o acompanhei, sentindo a emoção presente na merecida homenagem.
Conheci a minha amiga Marta, quando rumei a Brasília, movido pela curiosidade. Ouvira falar de projetos como o da Vivendo e Aprendendo, a Universidade da Paz, o Girassol Restaurante da Ros Ellis… e a 115 Norte.
Quando, com o Rafael secretário, tentamos melhorar a educação que se fazia no Distrito Federal, lá está a Marta. Quando, com o deputado Leandro, tentamos moralizar a secretaria, lá está a Marta articuladora e o “norte” resiliente da 115 Norte.
O depoimento de uma professora da equipe da Martha e da Marta confirmava que aos educadores acolhidos nessa excecional equipe era dada oportunidade de reelaboração cultural, a partilha de uma nova visão de mundo:
“Alarme toca. Abro os olhos. Preciso ir à escola. Que ânimo tenho? Enfrentar e viver mais um dia em um paradigma instrucionista. Que sentido tem? Desisto? Sigo? O que faço? Fiz, enfim, pergunta que tirava de mim aquela figura medonha de autoridade:
“O que vocês querem aprender?”
Anotei na lousa a pergunta, em letras grandes. E repeti, firme e amorosa:
“O que vocês querem aprender? Eu quero aprender sobre vocês, estou curiosa, me digam o que vocês querem aprender.”
Quando fui convidado pelo IBICT para coordenar uma pesquisa, no âmbito do projeto “Brasília 2060”, passei a viajar, frequentemente, para a capital. Outro convite me foi dirigido para integrar o Grupo de Trabalho da Criatividade e Inovação do Ministério da Educação. As viagens para Brasília se intensificaram.
Com a Cláudia, realizara a primeira formação “Gaia Escola”. Fizera morada no Jardim Botânico e, quando o Júlio era secretário, muitos foram os encontros realizados na 115 Norte.
Em 2017, a partir da iniciativa de professoras do CEF 04 do Paranoá, a CAP começou a tomar forma. Na esteira dessa iniciativa, projetos como o “Voarás” surgiram e se consolidaram, por obra de extraordinários educadores. Mas, a minha maior referência de educação brasiliense continuava a ser a 115 Norte e… a minha amiga Marta.
Quando chegaram tempos de medo e ódio, foi a Marta quem me ajudou, que me acolheu, quando alguém destruiu um sonho de comunidade e me roubou o Jardim do Éden.
No mês de outubro de há vinte anos, a minha amiga se aposentou. Mas, esse foi mais um momento de recomeçar. Em novembro, voltei a Brasília, para rever a vovó Marta aposentada, para voltar ao convívio dos educadores da EM 115 Norte e retomar e relançar o projeto das Comunidades de Aprendizagem.
Sempre que a saúde me autoriza, vou visitar a minha amiga Marta. E não me canso de lhe agradecer uma vida dedicada ao bem da infância e da educação. Porém, nunca encontrei modo de traduzir a admiração que por ela sinto. Dizer da minha gratidão é coisa pouca.
Hoje, como há vinte anos, apenas sei dizer “Bem hajas, querida amiga!”
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