Novas Histórias do Tempo da Velha Escola (MLXXXIV)

São Pedro da Aldeia, 14 de dezembro de 2042

Em 1917, um tal Professor Serrano escrevera;

A pedagogia scientífica condemna por inefficaz e nociva à formação intellectual do alumno a velha idéa de que aprender é, quasi exclusivamente, decorar. Sobrecarregar de nomes e datas a memoria da creança, mesmo sem que ella compreenda as mais das vezes absolutamente nada: tal a preoccupação dominante de muitos que se julgam aptos para a diffícil missão de ensinar (…).
Quantas escolas, hoje ainda, não lembram ao transeunte aquellas da antiga Roma, em que os alumnos repetiam em côro a lição de arithmetica: “Um e um, dois; dois e dois, quatro”. – Horrível estribilho, diz Santo Agostinho, que guardava de seus primeiros estudos desagradável impressão (sic).”

Tal e qual! Há mais de cem anos, esta foi uma das primeiras denúncias escolanovistas de práticas instrucionistas.

Nos idos de vinte, do básico ao “superior”, o instrucionismo imperava. Rareava a inovação, abundava a obsolescência. Aquilo que denominavam de “inovador” no sistema educativo remontava a modelos criados há mais de cem anos.

Sem ponta de pudor, revistas “especializadas” publicavam “relatos de educadores sobre como estavam inovando no dia a dia escolar”. Aqui vos deixo alguns despropósitos colhidos ao acaso:

“Com o retorno presencial após dois anos de distanciamento…” – com esta conversa para boi dormir, invocando a pandemia como “bode expiatório” eram introduzidas pseudo-inovações:

“Estudantes aprendem física enquanto tomam açaí em praça de Aracruz” – na mesma Aracruz onde, dias antes, um jovem tinha matado professores.

“Memes no ensino de história mobilizam criatividade de estudantes do fundamental.”

“Danças do TikTok podem ensinar pensamento computacional.”

“Professor cria canal digital de combate ao bullying e apoia estudantes a denunciar casos de bullying, anonimamente.”

Por que se falava da utilização de memes, Tik Toc e games como se tratassem de inovação? Por que eram vendidos “inovadores cursos de metodologias ativas em sala de aula”, se sabíamos ser impossível inovar em sala de aula? E o que dizer de “denúncias anônimas”? Cadê a “Escola Pùblica”? Que São Paulo (Freire) nos valesse!

Ainda passeando pelo tempo da pré-história da Educação… Em Portugal, um decreto de 1967 autorizava a realização de experiências pedagógicas em estabelecimentos de ensino, que poderiam consistir, inclusivamente, no funcionamento experimental de novos tipos de estabelecimentos (escolas-piloto). No artigo terceiro, estava inscrito que o ministro poderia mandar colaborar nas experiências agentes ou auxiliares de ensino de outros estabelecimentos dependentes do ministério, fosse qual fosse a modalidade do seu provimento, dispensando-os total ou parcialmente das funções próprias.

Entre a denúncia do escolanovista Serrano e a publicação do decreto distavam cinquenta anos. Entre o final da década de sessenta e os idos de vinte, outro meio século decorrera. E, quer no ensino “superior”, quer no “inferior”, vigorava “a velha ideia de que aprender era, quase exclusivamente, decorar”.

Nas secretarias de educação, como nos ministérios dos idos de vinte, se mantinha inalterado o velho modelo hierárquico e autoritário parido na Prússia Militar do século XVIII, nas casernas e “celas” de aula dos conventos franceses do século XIX, na Inglaterra da primeira Revolução Industrial.

Parada no tempo, a Escola dos idos de vinte reproduzia um modelo educacional de há dois séculos.

Cadê a inovação?

Cadê os “inovadores” autores de teses sobre inovação?

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