Escola Anísio Teixeira (Niterói), 12 de agosto de 2043
Neste dia de há vinte anos, retomamos os encontros virtuais de sábado. Muita gente nova, muita gente boa chegando para participar no início do processo de implantação de novas construções sociais.
A Zizi se encarregou de fazer uma síntese do trabalho já realizado. O Leo, a Tina e o Bruno completaram o ato de boas-vindas com exemplos de ativa prática. O Mauro esteve ausente com justa causa, pois foi celebrar o aniversário da Valéria.
Com as intervenções da Mara, da Ludi e da Karina se encerrou o encontro. Dele e dos seguintes vos hei de falar. Por agora, apenas vos direi o que ficou por fazer, até ao sábado seguinte.
Deveríamos fazer análise dos projetos das escolas, negociar os primeiros acordos de convivência e introduzir alguns dispositivos. Combinamos, também, aprofundar o conhecimento da obra de dois autores: o brasileiro Anísio Teixeira (patrono da escola onde reunimos) e o português António Nóvoa.
Na segunda metade do agosto de vinte e três, elaborei alguns “estudos de caso” exemplares. Vos darei a conhecer sínteses de alguns, começando pela… Ponte.
Nóvoa sobre ela se pronunciou, falando de autonomia e cidadania.
Há quarenta anos, testemunhos de especialistas na área da educação, conhecedores diretos do projeto foram reunidos num solidário livro. Por poder constituir-se em valioso espólio de fundamentação teórica essencial de outros projetos, vo-los darei a conhecer. Comecemos por um delicioso texto do António Nóvoa, citando António Sérgio.
“Reparo, agora, que não falei da Escola da Ponte, ainda que, na verdade, não tenha falado de outra coisa. É uma escola extraordinária, justamente por não ter nada de extraordinário: é uma escola pública como as outras, num lugar como tantos outros, com alunos e professores iguais a muitos outros. E com esta matéria-prima se tem vindo a fazer, graças a um trabalho metódico, persistente e coletivo, uma escola notável.
Júlio Cortázar escreve que uma ponte só é verdadeiramente uma ponte quando alguém a atravessa. Em 27 anos, os colegas da Escola da Ponte já fizeram muitas travessias. Pelo deserto ou pela floresta, eles sabem que não estão sozinhos nas travessias que têm pela frente.”
O amigo Nóvoa abordou o tópico cidadania, num texto com o título “A educação cívica de António Sérgio, vista a partir da Escola da Ponte (ou vice-versa)”, com direito a uma dedicatória: “Para todos os que têm feito e continuarão a fazer a Escola da Ponte”.
“Não encontraremos, na Educação Cívica de António Sérgio, respostas para os problemas de hoje, pois os tempos mudam estruturas, e recolocam as questões em contextos diferentes. Mas não conseguiremos ir longe na nossa interrogação, se insistirmos em seguir pelo caminho da amnésia, se abdicarmos de ir construindo um conhecimento feito da experiência e da reflexão sobre a experiência, se continuarmos a preferir o facilitismo de uma ignorância quase sempre arrogante.
Quem repete frases feitas e tem soluções para tudo é porque não conhece nada. Com Sérgio aprendemos, pelo menos, que é grande a nossa tendência para «adormecer a própria mente com noções vagas, sentimentais e fumarentas», procurando resolver «tudo por uma inane ideia geral que tão mais facilmente se aplica a tudo quanto a coisa nenhuma».
Tem sido esta uma das pechas do debate sobre a educação: a frase feita, o gesto fácil, a solução pronta-a-servir, a banalidade transformada em eloquência em vez do estudo aturado, da reflexão sobre as experiências concretas, da análise sistemática e informada.”
Amanhã, vos contarei o resto.
Por: José Pacheco
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