Novas Histórias do Tempo da Velha Escola (MCCCXXXIV)

Niterói, 22 de agosto de 2043

Num documento emitido por uma secretaria de estado da educação, eu li:

“Quando a comunidade se constitui como parte atuante da escola, com voz e participação na construção coletiva do projeto político-pedagógico, surge o sentido de pertencimento, isto é, a escola passa a pertencer à comunidade, que, por sua vez, passa a zelar com mais cuidado por seu patrimônio; a escola começa a sentir-se pertencente àquela comunidade e começa a criar, planejar e respirar projetos de interesse de sua gente, da sua realidade.”

Como era “normal”, nada disso encontrei nas escolas desse estado, e foram muitas aquelas que conheci por dentro. Só encontrei extraordinários educadores que, na solidão da sala de aula, operavam “milagres”. E encontrei na obra de Philip Roth (“A Mancha Humana”) o retrato desses educadores:

“Aqui só há essas crianças, aquelas a quem não é possível chegar e a quem não se chega, e como eu sou muito emotiva no que diz respeito aos meus alunos e ao meu ensino, isso afeta todo o meu ser… todo o meu mundo. 

E a escola, a direção… não presta, pai. Temos uma diretora sem a mínima visão do que pretende e temos uma misturada de pessoas a fazerem o que julgam ser o melhor. Mas que não é necessariamente o melhor. 

Quando aqui cheguei, há doze anos, foi formidável. A diretora era, de facto, boa. Deu uma volta completa à escola. Mas agora tivemos vinte e um professores em quatro anos. O que é muito. Perdemos uma quantidade de gente boa. E, há dois anos, passei para Recuperação de Leitura, porque as aulas tradicionais me estavam a consumir. Dez anos do mesmo, dia após dia. Não podia suportar mais.”

Fomos ao encontro dos educadores prisioneiros de sala de aula. E, nas salas de aula, partimos do que eram para quilo que desejavam ser. Partilhamos um “Plano de Inovação”, para reconfigurar práticas educativas, que não se enquadravam na conceção de novas construções sociais de aprendizagem. 

Concebemos práticas integradas, na confluência dos paradigmas da instrução, da aprendizagem e da comunicação, religando instituições (Família, Sociedade e Escola), unindo Arte e Cultura, Saúde e Educação, em projetos de educação integral, numa nova construção social, que a todos garantiu o direito à educação. Promovemos o crescimento do educando em todos os aspetos: físico, mental, intelectual, emocional, afetivo, psíquico, para que ele pudesse atuar e transformar o seu meio, de forma ética, na perspetiva do desenvolvimento sustentável do ser humano e da comunidade em que se integravava. 

Cocriamos protótipos de comunidade de aprendizagem, a partir de círculos de aprendizagem, de turmas-piloto e de “comunidades de referência”.

Ajudamos a autonomizar, legal e cientificamente, projetos com potencial inovador. 

Desenvolvemos processos formativos transformadores e disseminamos novas práticas de desenvolvimento curricular.

Nesse agosto de vinte e três, a resiliente Cecília não se cansava de distribuir gentileza e entusiasmo: 

“Mais uma semana começa e com ela trago a vontade. Vontade de fazer, de produzir, de aprender, de agradecer, de colaborar, de evoluir… Vontade de estar ao lado de quem me faz bem e de fazer bem a quem está ao meu lado! 

Que venha uma semana de bonitezas, gentilezas e harmonia!”

Também eu enviava convites para os “encontros de sábado” aos professores que, como a Cecília, ainda estavam vivos: 

Novas Construções Sociais de Aprendizagem e Educação. 

Início: 12 de agosto de 2023. 

11:00 às 12:00, no horário de Brasília / 15:00 às 16:00, no horário de Portugal.

https://meet.google.com/jrj-bfyu-hji 

 

Por: José Pacheco

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