Vila Nova de Gaia, 5 de setembro de 2043
Mais uma vez, recorro à fala de quem, no setembro de há vinte anos, agia como gente, para se mover como educador.
“É preciso juntar, de alguma forma, estes grupos e canais de comunicação, dar a mão aos professores “vivos”, que andam por aí sozinhos e desmotivados. Vou conhecendo alguns. Receio que estejam demasiado “sozinhos” dentro dos agrupamentos.
Há muitos professores vivos que querem coisas muito diferentes, havendo também muitos mortos que ressuscitam, se tiverem para onde e com quem ir. A meu ver, temos de organizar, elaborar documentos claros simples, curtos.”
É tudo muito lento, porque há muito ruído na comunicação, atrito, desorganização. São portas e mais portas que se fecham. Já chega!
É hora de fazermos. Acredito que, finalmente, chegámos a um “ponto de viragem. No Telegram, a professora Rute da escola pública de S João da Madeira disse que vai contactar a Isabel, para se manterem em contacto. Isso sim! São “ligações diretas”.
A Maria me fazia recordar a necessidade de exatidão, de chamar as coisas pelos seus nomes. Nomeadamente, a palavra “inovação”. Consciente dessa necessidade, rabisquei mais alguns verbetes, para compor o glossário de uma nova educação:
Inovação – Aquilo que é, realmente, novo, que possui valor, utilidade e capacidade de se renovar/reinventar, no decorrer do tempo, de estar sempre em fase instituinte.
Matriz Axiológica do Projeto – Conjunto de valores partilhados pelos membros do núcleo de projeto.
Carta de Princípios – Enunciado dos princípios basilares de uma organização, princípios de ação, que conduzem projetos..
Cocriar – Criar juntamente com outrem. No campo da educação poderá ser entendido como ato de produção de conhecimento em comum e em comum partilhado.
Currículo – Caminho, conjunto de experiências de um sujeito de aprendizagem, entre elas, as educacionais (formação) e vivenciais. Algo que não se consome em manuais ou através do discurso de um formador, mas conhecimento produzido e partilhado.
Currículo de Comunidade – Rompendo com a conceção reducionista de currículo enquanto mero plano de estudos ou programa pré-determinado, estruturados em objetivos, conteúdos e atividades organizadas em torno de disciplinas, destinados a anos de escolaridade ou a ciclos de estudos, numa sequência linear.
O currículo de aprendizagem consiste na determinação dialógica de necessidades sociais e na criação de múltiplas oportunidades de aprender com pessoas dotadas de potencial educativo, em espaços que a comunidade oferece.
Currículo Subjetivo – Projeto de vida, com origem em necessidades, desejos, sonhos; caminho de desenvolvimento de vocações, talentos.
Dispositivos pedagógicos – Estratégias e materiais a que se pode recorrer numa prática teorizada, concebidos criticamente e elaborados como propostas educativas adequadas às características socioculturais identificadas pelos professores como estando presentes no grupo de alunos com que trabalham.
Comunidade – Com origem no latim communitas, traduz o ato de muitos, formando uma unidade.
Em 1887, Tonnies introduziu o dualismo sociedade (Gemeinschaft)-comunidade (Gessellschaft) no discurso científico contemporâneo, reagindo contra a conceção mecanicista de sociedade, então predominante, fazendo corresponder ao conceito de sociedade uma vontade refletida com origem no arbítrio dos seus membros, enquanto comunidade corresponderia a uma vontade que ele reputa como essencial ou orgânica, um tipo de associação baseada em imperativos profundos do ser.
Por: José Pacheco
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