Brasília, 13 de outubro de 2043
Na véspera do “Dia da Criança”, estive reunido com a Alice e os seus companheiros de projeto. Fiquei apreensivo com o seu cansaço e a decisão de manter um rumo de projeto, que se antevia desastroso. Mas, garanti-lhes disponibilidade para “correção de rota”.
Na manhã do feriado, entre a poesia da Martha, a música do Milton trazida pela Marta e a dança circular proposta pela Cláudia, o reencontro de educadores resilientes marcou o retorno a Brasília. À tarde, o amigo Isaac acolheu gente disponível para promover mudanças. Em todos os encontros, senti recetividade ao convite de retomada de projetos interrompidos.
No dia seguinte, retomei contato com aeroportos e estradas. Pelo caminho, revi velhos vídeos. Num vídeo de meados dos anos noventa, o amigo Armindo e outros pais da equipe inicial davam testemunho do essencial: que a Ponte havia nascido pela vontade de uma comunidade e pela da iniciativa de um professor.
Em 1976, já sabíamos que escolas não eram prédios, que eram pessoas. E que o projeto era um ato coletivo, assente em princípios. Tive necessidade de recordar aos professores da Ponte os princípios fundadores do projeto. Parecia terem sido esquecidos. Espero que a sua leitura não seja maçadora. Ei-los:
1- Uma equipa coesa e solidária e uma intencionalidade educativa claramente reconhecida e assumida por todos (alunos, pais, profissionais de educação e demais agentes educativos) são os principais ingredientes de um projeto capaz de sustentar uma ação educativa coerente e eficaz.
2- A intencionalidade educativa que serve de referencial ao projeto Fazer a Ponte orienta-se no sentido da formação de pessoas e cidadãos cada vez mais cultos, autónomos, responsáveis e solidários e democraticamente comprometidos na construção de um destino coletivo e de um projeto de sociedade que potenciem a afirmação das mais nobres e elevadas qualidades de cada ser humano.
3- A Escola não é uma mera soma de parceiros hieraticamente justapostos, recursos quase sempre precários e atividades ritualizadas – é uma formação social em interação com o meio envolvente e outras formações sociais, em que permanentemente convergem processos de mudança desejada e refletida.
4- A intencionalidade educativa do Projeto impregna coerentemente as práticas organizacionais e relacionais da Escola, que refletirão também os valores matriciais que inspiram e orientam o Projeto, a saber, os valores da autonomia, solidariedade, responsabilidade e democraticidade.
5- A Escola reconhece aos pais o direito indeclinável de escolha do projeto educativo que considerem mais apropriado à formação dos seus filhos e, simultaneamente, arroga-se o direito de propor à sociedade e aos pais interessados o projeto educativo que julgue mais adequado à formação integral dos seus alunos.
6- O Projeto Educativo, enquanto referencial de pensamento e ação de uma comunidade, que se revê em determinados princípios e objetivos educacionais, baliza, e orienta a intervenção de todos os agentes e parceiros na vida da Escola, e ilumina o posicionamento desta face à administração educativa.
Fui a Portugal, para ajudar a criar protótipos de comunidade de aprendizagem. Dado o seu exemplo de pioneirismo e face a esse enunciado de princípios, seria de esperar que Ponte fosse a primeira escola a participar nesse projeto. Propus a criação de um Grupo de Trabalho (GT), de uma Assembleia (ARCA), e a recuperação de um contrato de autonomia. Pois, como dizia o amigo Nóvoa:
“Não podemos deixar a escola bloqueada por uma pedagogia medíocre.”
Por: José Pacheco
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