Sapopemba, 22 de outubro de 2043
Nos jornais, na televisão, na Internet, repercutia a infausta notícia:
“Ataque em escola de Sapopemba deixa aluna morta. Outras duas estudantes foram baleadas.”
O jovem agressor só feriu meninas. Por acaso? O seu advogado disse que “o adolescente abriu fogo, porque sofria homofobia. Investigações indicam que o adolescente era alvo de agressões de outros alunos e que se usou arma do pai, para se vingar
“Uma câmera de segurança registrou o momento em que ele entra em uma sala cheia de alunos e atira. Giovanna Bezerra, de 17 morreu com um tiro na cabeça. O agressor se entregou à polícia.
Jéssica Mattos, mãe de uma estudante da escola, contou que adolescente era constantemente alvo de humilhações e agressões: “Ele era alvo de bullying.”. Um vídeo gravado dentro de uma sala de aula mostra o adolescente sendo agredido por duas meninas. Ele leva vários tapas no rosto e puxões de cabelo e revida as agressões, puxando as meninas pelos cabelos e as empurrando.
O secretário da Educação disse que o atirador não era identificado pela escola como agressor e não foi atendido por psicólogas. A escola começou a ser atendida em agosto por uma psicóloga, mas o aluno atirador não chegou a ser encaminhado para atendimento.
O aluno contou ainda que não tinha intenção de atirar na aluna que morreu, já que ela não participava das agressões contra ele. O advogado informou também que em abril a mãe do atirador registrou boletim de ocorrência sobre as agressões sofridas. Mas, a única coisa que a escola fez foi dizer para a mãe trocar [o filho] de escola”, disse o advogado.
O atirador estava em um grupo do Discord, plataforma de mensagens popular entre jovens e jogadores de videogames que está envolvida em várias denúncias contra grupos que promovem conteúdo de ódio e incitação a assassinatos.
O governador de São Paulo ressaltou que a unidade em Sapopemba contava com ronda escolar. “É um momento de a gente fazer uma profunda reflexão sobre a efetividade daquilo que a gente tem colocado em prática desde a ocorrência em março, na Vila Sônia”.
Ele e o secretário de Educação disseram que pretendem contratar mais psicólogos para atendimentos na rede de ensino. Também disse que 175 tentativas de ataques foram evitadas com sucesso pela polícia desde março.”
“Cruzei” a trágica notícia com excertos do textinho recebido do amigo Celso:
“Todas as sextas-feiras à tarde, a professora de Chase pede aos seus alunos que tirem um pedaço de papel e escrevam os nomes de quatro crianças com as quais gostariam de se sentar na semana seguinte (…) também pede aos estudantes que nomeiem um estudante, que acreditem ter sido um cidadão excecional de sala de aula naquela semana.”
Perguntei e esperei respostas:
Porquê só à sexta-feira e só para “quatro crianças”?
Para “se sentar”?
O que é um “cidadão excecional de sala de aula”?
Queridos netos, talvez não saibais, mas toda a prática tinha por retaguarda uma teoria (ou várias). Aquela professora agia amorosamente e por intuição, talvez sem saber que praticava arremedos de sociometria, uma ferramenta analítica para estudo de interações entre grupos – foram os estudos de Moreno sobre a relação entre estruturas sociais e bem-estar psicológico a origem remota das ciências das redes sociais.
Sem se libertar do gueto sala de aula, essa maravilhosa professora, procurava alunos solitários, quem “nunca era notado o suficiente para ser nomeado”. Solitária, contribuía para prolongar obsoletas práticas. Ingenuamente, praticava técnicas paliativas de um sistema de ensino, origem próxima de muitas tragédias.
Por: José Pacheco
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