São Cristóvão, 3 de dezembro de 2043
Quando olhei o anfiteatro da Conane de vinte e três, cadê os RC, que criaram a CONANE de dois mil e treze?
No ENARC de vinte e três, das dezenas de educadores participantes no primeiro Encontro Nacional dos Românticos Conspiradores restava apenas o amigo Guga.
Passáramos mais de meio século, teorizando teorizações de teorias, sofisticando o discurso, colocando mantos diáfanos de fantasia sobre contraditórias e míseras práticas. Tínhamos sido neutralizados pelo autoritarismo de burocratas, explorados por abútricas empresas, iludidos por formadores e os palestrantes dos congressos feitos de saliva e power point.
Vimos serem destruídos centenas de projetos por via da aliança entre o voluntarismo e a ingenuidade pedagógica. Lidando com a falta de sustentabilidade financeira, ingloriamente, muitos pereceram.
Ao mesmo tempo, provisórias “alternativas” eram, indevidamente, apontadas como “inovações”. E o teoricismo reinante legitimava o apoio “científico” a teóricos paliativos, generosamente financiados pelo Estado e por “filantrópicas” empresas.
Freire dixit: “O fracasso é do sistema”. Ou talvez não tivesse fracassado o “projeto”, que Darcy denunciou…
O fracasso não era apanágio do professor, muito menos do aluno – era o sistema que fracassava. Lentamente colapsando, com ele arrastava milhões de analfabetos e discentes bonsais, que a solidão do docente em sala de aula produzia.
Há muito tempo, tínhamos compreendido que a o exercício da profissão de professor não era um ato solitário, que deveria ser um ato solidário. Desde o início da década de setenta, abandonáramos a solidão da sala de aula e passáramos a trabalhar em equipe.
Já nesse tempo havia propostas teóricas nesse sentido, idênticas àquela que o amigo Nóvoa disponibilizava, nos idos de vinte:
“As Equipas Educativas – Uma condição sine qua non da melhoria das aprendizagens (porque gere o currículo das aprendizagens, porque personaliza, porque eleva o potencial da inteligência coletiva…)
A ideia de equipa pedagógica, tal como é formulada por Philippe Perrenoud (em 1996), aponta justamente para a necessidade de erigir sistemas de ação coletiva no seio do professorado.
Na perspetiva deste autor, o trabalho em equipa não deve ser visto como uma conquista individual da parte dos professores, mas como uma faceta essencial de uma nova cultura profissional, uma cultura de cooperação ou colaborativa.
É útil mencionar a importância de uma análise coletiva das práticas pedagógicas, que pode sugerir momentos de partilha e de produção colegial da profissão.
Num certo sentido, trata-se de inscrever a dimensão coletiva no “habitus” profissional dos professores.
Sim, mas não só. O ”habitus” organizacional, o modo como se concebe o trabalho docente, o modo como se organizam os alunos, os modos como se afetam os docentes a (grandes) grupos de alunos, o horário semanal com tempos próprios para o encontro e a produção coletiva são ingredientes fundamentais.
Em 1996, Perrenoud “recomendava” um “sistema de ação coletiva”. uma nova cultura profissional, uma cultura de cooperação ou colaborativa. Esse teórico propunha que se fizesse aquilo que, na Ponte de vinte anos antes já se fazia.
Em 2015, em sucessivas reuniões do GT da Inovação, insisti na necessidade de assegurar aos projetos reconhecidos como inovadores pelo MEC “estabilidade do trabalho em equipe”. A regulamentação instrucionista continuou a “remanejar” os professores, provocando uma mobilidade letal para os projetos. Em 2023, poucos restavam.
Por: José Pacheco
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