Juazeiro do Norte, 15 de dezembro de 2043
Do outro lado do oceano, chegava o relato de um breve busquejo de significados. Tínhamos debatido conceitos – como o de “educação integral” – e fazia sentido que o revíssemos a partir do chão de escola, dado que era habitual a sua abordagem por teoricistas.
O amigo António, companheiro de muitos anos de projetos, assim dizia:
”Bom dia, Carísim@s
Pois é, aqui estou eu de novo. Como vos disse, não estava totalmente convencido com a parte final da minha última proposta. Já encontrei o motivo e explicarei o meu processo de reflexão. Fui pesquisar, mais aprofundadamente, o conceito de Educação Humanizada e o de Educação Integral. Descobri que está muito em voga no Brasil, com muita mistura de aceções, algumas delas impregnadas de “cobertura” cremosa do paradigma da instrução, como se esse “chantilly” de sobrevivência salvasse a face de um sistema que tenta de tudo para se manter;
incorpora vários contributos estrangeiros, nomeadamente das concessões de humanized Learning e da Maker Culture;
tem na sua base, sem o explicitar (na esmagadora maioria dos casos) importantes teóricos da Educação (apesar deles já não o poderem saber), como sejam Dewey, Kilpatrick, Piaget, Vygotsky, Paulo Freire, Anísio Teixeira, Lauro de Oliveira Lima (entre outros, claro);
no meio dos “entre outros”, há dois senhores que ainda estão vivos: Barry Zimmerman e um tal de José Pacheco…;
a parte final do nosso documento quase não explicitava em que consiste a dita Educação Humanizada e esses princípios deveriam, por isso, ser realçados.
Honrando os princípios de autorregulação da aprendizagem do primeiro dos “outros” (Zimmerman), mobilizo um breve texto do segundo (Pacheco), incluído na apresentação de conferência que ele dinamizou, recentemente, em Lisboa, no Instituto de Educação, com o tema “Novas construções sociais de aprendizagem”:
“Urge humanizar a educação, conceber novas construções socais de aprendizagem, nas quais, efetivamente, se concretize uma educação integral. Urge constituir redes de aprendizagem, que promovam desenvolvimento humano sustentável. A educação acontece na convivência, de maneira recíproca entre os que convivem.
Se a modernidade tende a remeter-nos para uma ética individualista, nunca será demais falar de convivência e diálogo, enquanto condições de aprendizagem. Será oportuno falar de novas construções sociais de aprendizagem.”
Embora essa apresentação não fale disso, conheço muito bem (in loco, na Escola da Ponte do início dos anos 2000) as conceções de prática pedagógica dessa escola e desse tal Pacheco (“velho insuportável”, segundo as suas palavras, numa estratégia de sedução que tem dado os seus frutos, ao longo de vários anos) e revejo-me, totalmente, nessa prática.
A partir daí, se revelava a proatividade do amigo António e da ARCA portuguesa, quando dirigiam ao Ministro da Educação uma mensagem, que ficou célebre. Começava assim:
“Considerando o desafio lançado publicamente pelo Sr. Secretário de Estado da Educação, António Leite, no encontro de Educação “O Futuro é Hoje: Comunidades de Aprendizagem”, realizado nas Caldas da Rainha (27 de setembro de 2023), para desafiarmos o Ministério da Educação com a apresentação de um projeto.
Considerando também a necessidade de promover a autonomia (organizativa, curricular, pedagógica e financeira) das escolas públicas e o desenvolvimento de práticas pedagógicas inovadoras (…)”
A proativa missiva enviada pela Coordenação da ARCA portuguesa merece que vo-la dê a ler, na integra… amanhã.
Por: José Pacheco
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