Rio das Ostras, 22 de janeiro de 2044
Fui convidado para participar numa Mesa de congresso. Tema: “Escola do Passado, Escola do Presente, Escola do Futuro”.
Um professor universitário passou um PowerPoint sobre a origem da Escola, Outro palestrante “pintou” um cenário benevolente da situação vivida em cinquenta anos de democracia.
A Escola do Presente era idêntica à do passado. Ou bem pior, pois, de ano para ano, nas visitas que fazia a Portugal, encontrava mais uns eufemísticos “centros de estudo”, mais doença entre os professores, mais exclusão, pior educação.
Mas, o ministério parecia estar feliz e contente. O ano letivo passara a ser repartido em duas fatias, dois semestres. Ninguém sabia por que razão teriam segmentado o ano letivo em trimestres e, dessa vez, em semestres, mas os agrupamentos de escolas começaram a adotar esses “nacos” de ano letivo. Teriam lido o artigo 48º da lei de Bases do Sistema Educativo?
Cinquenta anos após a “Revolução dos Cravos, continuávamos a confundir mudança com paliativo. E só encontrávamos inovação em teses teoricistas. Para que serviram centenas de congressos e seminários, milhares de palestras e de ações de formação em PowerPoint?
Em setenta e quatro, sendo operacional da Revolução dos Cravos, avisei que um povo não adormece fascista num dia e acorda democrata, no dia seguinte. De nada valeu. Mas, ainda assim, me envolvi na ciclópica tarefa de tentar transformar práticas educacionais.
Quando me foi dada a palavra para falar sobre a “Escola do futuro”, exteriorizei alguma surpresa por perceber que os universitários portugueses tinham andado muito distraídos. A Educação do Futuro tinha chegado a Portugal, há cerca de cinquenta anos. Uma universitária não-distraída, a Maria Emília escrevia:
Não falarei da importância da Escola da Ponte para os seus alunos, professores, pais, comunidade. Dessa, certamente bem marcante, poderão falar os próprios melhor que ninguém. Entendo, por isso, a pergunta — Por que é importante a experiência da Ponte? — a outros níveis e noutros domínios:
Em primeiro lugar, como um exemplo possível duma escola pública diferente, que desnaturaliza algumas características da escola tradicional e quer ter em conta as mudanças económicas, políticas e tecnológicas ocorridas ou em curso e, ao mesmo tempo, reforçar e desenvolver as suas qualidades democráticas e democratizadoras.
Em segundo lugar, como um ensaio de modos de inovar que sejam desejados e construídos pelos próprios interessados, designadamente pelos professores, a partir da escola, da sua situação, dos seus atores e parceiros.
Em terceiro lugar, como uma concretização de uma teoria e de uma prática de formação de professores, baseadas, como diz Rui Canário, «no exercício profissional em contexto, combinando a ação e a reflexão coletivas».
A Escola da Ponte foi apresentada como uma rede informal de formação contínua de professores, num Seminário realizado em Lisboa, em setembro do ano 2000, pela OCDE.
Para todos aqueles que se interessam por educação, esta experiência da Escola da Ponte deveria ser seguida, estudada e apoiada como um verdadeiro laboratório de mudanças necessárias.
Só assim — confiando, ensaiando, estudando, reorientando…— poderemos participar na construção de uma escola do futuro, pública e aberta a todos os públicos, democrática no acesso, na organização e na participação e democratizadora nos seus efeitos.”
A pergunta de hoje fica a cargo da Maria Emília, que remata o seu texto com uma pertinente interrogação:
“Ou não será isso que todos queremos?”
Por: José Pacheco
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