Tiradentes, 4 de novembro de 2043
Voltei a Tiradentes, a convite do amigo Ralph. Em tempos idos, no tempo em que Ralph fora prefeito, ajudei a Cláudia e o Ralph a criar um dos mais belos projetos em que tive oportunidade de participar.
Terminado o mandato, Ralph não quis continuar à frente dos destinos de Tiradentes. E, à semelhança do que sucedeu em outros lugares, o projeto foi interrompido.
Voltaria a Tiradentes, em 2024, para o retomar. Dessa feita, com a intenção maior de transformar esse projeto numa referência de humanização do ato de educar.
No início do novembro de há vinte anos, os jornais noticiavam: “Guerra em Gaza completa um mês com dez mil mortos”.
Apelando do fim do conflito, uma atriz chamada Angelina, que se distinguiu pelo seu trabalho como embaixadora da Boa Vontade do Alto Comissariado da ONU para os Refugiados, alertava:
“Gaza é uma prisão a céu aberto há quase duas décadas e está a transformar-se rapidamente numa vala comum.”
E a Bárbara isto escrevia:
“O futuro da humanidade está em quem sente o sofrimento dos outros.
Na terça-feira, passou um mês que o Hamas decidiu entrar em Israel, matar indiscriminadamente homens, mulheres e crianças, e fazer reféns. Os ataques à Faixa de Gaza matam indiscriminadamente homens, mulheres e crianças. “Olho por olho, dente por dente”, diz o Livro do Êxodo, quando Deus fala com Moisés, depois de este sair do Egipto. É a chamada lei do talião, da reciprocidade entre o crime e o castigo.”
Mais de três mil crianças haviam perecido nesse conflito armado. Levaria ainda muito tempo, até que a voz de John Whitehead fosse escutada:
‘Crianças são as mensagens vivas que enviamos para um tempo que não veremos.’ Essa é a razão de fazermos o que fazemos. Nós queremos que a mensagem que mandamos ao futuro seja uma mensagem de esperança. É a mensagem que a natureza nos urge a enviar.“
Mas havia quem, anonimamente, cuidasse de crianças desvalidas. Na Comunidade da Lagoa das Amendoeiras, a Bruna e a sua equipe matavam a fome de alimento do corpo e da alma em crianças filhas de famílias que viviam abaixo do limiar da pobreza. A filantropia de uns poucos ia mitigando carências de todo o tipo. A Patrícia ajudava quanto podia. Os amigos da Escola Aberta iam contribuindo para alguma sustentabilidade financeira do projeto.
Aproximava-se a época natalícia, e a Cecília emitia mais um pedido de ajuda:
“Nesta semana, receberei as cartinhas do Papai Noel das 115 crianças do Centro Educacional Comunidade São Jorge, no Alto Independência.
Como boa Mamãe Noel que sou, estarei com esta linda missão. E, para que possa levar tanto amor para meus pequenos, conto com meus ajudantes, carinhosamente, chamados de PADRINHOS DE NATAL.
A ideia é compartilhar os pedidos das cartinhas com minha rede do bem e encontrar padrinhos para estas 115 lindezas!
Se você quer receber o arquivo com as cartinhas, me dê um oi por aqui, que estou fazendo a lista dos possíveis padrinhos.
Já adianto para vocês que a emoção é grande, no dia! É lindo de ver e acho que nós, que doamos, ganhamos tanto quanto eles.”
A Cecília ilustrava o apelo com um vídeo.
“Deixo aqui para vocês apreciarem uma cena que nos marcou. Em 2019, uma criança pediu biscoitos Dorytos e Nutella. O padrinho dela deu-lhe um saco cheio destas guloseimas. A criança abriu e esbanjou alegria, ao ver aquele tanto de biscoito. E não pensou duas vezes: começou a distribuir com os colegas!
Ah! E reparem que tem uma querida comemorando, pois ganhou roupinhas para o enxoval da irmã que iria nascer. Toda esta cena é muito encantadora!
O que esta cena nos ensina? Em que lugar ela nos toca e nos motiva?*
Por: José Pacheco