Alcanena, 26 de junho de 2040

Antes de vos falar do Manifesto da Mãe Carolina, quero que saibais que, no decurso do século XX, o Brasil conheceu dois manifestos da educação: o primeiro, de 1932, sufocado pela ditadura Vargas; outro, de 1959, que esteve na origem das “Escolas Experimentais” e dos “Colégios Vocacionais”. Se tiverdes interesse em conhecer essas duas extraordinárias iniciativas, talvez as encontreis no que resta do velho Google.

Já neste século, o Manifesto lançado na primeira CONANE hibernou até chegar 2020 e o tempo da pandemia. Um simples vírus bastou para que o sistema de ensinagem entrasse em crise e o teor do Terceiro Manifesto se materializasse num FAZER tardio, mas a tempo…

Vinte e quatro anos decorridos sobre a publicação de uma Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional inspirada nos princípios de liberdade e nos ideais de solidariedade humana, a escola da aula engendrara milhões de analfabetos e “evadidos”. O desperdício de recursos atestava a ineficácia do sistema de ensinagem e perpetuava desigualdade.

O Brasil dispunha de produção científica, de educadores e de práticas que provavam a possibilidade de uma escola que a todos acolhesse e a cada qual desse condições de realização pessoal e social. Não surpreendeu, pois, que, paralelamente à hecatombe escolar cometida por secretarias e ministérios, comunidades de aprendizagem emergissem do caos como espaços de humanização. Se o poder público não cumpria a lei, o manifesto “Mudar a Escola, Melhorar a Educação: Transformar um País” se assumia como instrumento de debate e de efetiva mudança.

A minha amiga Ely, com quem rascunhei a proposta de Manifesto, dizia que “o seu papel foi o de fomentar o diálogo, reunir os contributos e sintetizar a fala e os escritos das pessoas, que se dispuseram a refletir, discutir e expor suas vivências, críticas, crenças, esperanças”.

Desejava que o documento fosse “a base para a construção de um carinhoso e macio ninho”, que abrigasse e fortalecesse a enfraquecida educação brasileira, desenvolvendo uma cultura de Paz. E concluía:

A você, que ama a educação e concorda que é possível fazer uma educação diferente da que aí está, fazemos um convite: Arregace as mangas e venha desdobrar o Manifesto pela Educação em ações concretas, que beneficiem nossos estudantes, suas famílias e a sociedade brasileira”.

A gênese desse documento – elaborado entre 2010 e 2013 – foi intensamente participada, em particular pelos “Românticos Conspiradores”. Centenas de colaborações foram recebidas pela coordenação do projeto, desde o Google docs às redes sociais, do e-mail aos fóruns de debates na internet e a reuniões presenciais. Nesse documento, se denunciava e anunciava. Denunciava-se, lembrando algumas estatísticas e realidades encobertas por um tenebroso “sistema” educacional. Anunciava-se, dando visibilidade social a práticas “eficazes e eficientes”, desenvolvidas em mais de uma centena de espaços educacionais brasileiros.

Há precisamente vinte anos, o terceiro manifesto da educação brasileira – “Mudar a Escola, Melhorar a Educação: Transformar um País” – foi melhorado pela proposta da Carolina e de outros educadores, que puseram em ato as nobres intenções desse documento. Se os manifestos de 1932 e de 1959 se mantiveram em estado de hibernação, os núcleos de projeto libertaram o terceiro manifesto do seu letárgico estado e foram protagonistas de processos de mudança e inovação.

Em próximas cartas, se quiserdes, disso vos falarei.

Com Amor, o vosso avô José.

Por: José Pacheco