Novas Histórias do Tempo da Velha Escola (DCCIX)

Foros de Vale Figueira, 16 de novembro de 2041

Na cartinha de ontem, dizia ter visto uma frase do Mestre Agostinho, na parede de uma escola que não era escola. Ela se ajustava ao contexto e à intenção das pessoas e das coisas em redor. Fazia sentido, inscrita na parede daquela sala, onde o amigo Alfredo havia contado um pouco da história da Humanidade, onde descrevera amanhãs desejados, o tempo de nos libertarmos da proto-história dos homens. Naquele tempo, ainda havia guerras, ainda precisávamos de tribunais, advogados, juízes, prisões e psiquiatras. Mas, sentíamos ter chegado o tempo de um novo renascimento. 

Agostinho era mestre na desocultação dos malefícios da Escola da Modernidade. Num texto, de que já esqueci o título, fala-nos, também, do “perfil” do educador dos novos tempos. Perdoai que esta cartinha seja, quase toda, feita de citações. Nenhuma prosa minha conseguiria ser mais eloquente que a do Mestre.

“Poucas serão as escolas em que o mestre não anime entre os alunos o espírito de emulação; aos mais atrasados apontam-se os que avançaram como marcos a atingir e ultrapassar; e aos que ocuparam os primeiros lugares servem os do fim da classe de constantes esporas que os não deixam demorar-se no caminho, cada um se vigia a si e aos outros e a si próprio apenas na medida em que se estabelece um desnível com o companheiro que tem de superar ou de evitar.

A mesquinhez de uma vida em que os outros não aparecem como colaboradores, mas como inimigos, não pode deixar de produzir toda a surda inveja, toda a vaidade, todo o despeito que se marcam em linhas principais na psicologia dos estudantes submetidos a tal regime; nenhum amor ao que se estuda, nenhum sentimento de constante enriquecer, nenhuma visão mais ampla do mundo; esforço de vencer, temor de ser vencido; é já todo o temperamento de «struggle» que se afina na escola e lançará amanhã sobre a terra mais uma turma dos que tudo se desculpam.

Quem não sabe combater ou não tem interesse pela luta ficará para trás, entre os piores; e é certamente esta predominância dada ao espírito de batalha um dos grandes malefícios dos sistemas escolares assentes sobre a rivalidade entre os alunos.

Não me basta o professor honesto e cumpridor dos seus deveres; a sua norma é burocrática e vejo-o como pouco mais fazendo do que exercer a sua profissão; estou pronto a conceder-lhe todas as qualidades, uma relativa inteligência e aquele saber que lhe assegura superioridade ante a classe; acho-o digno dos louvores oficiais e das atenções das pessoas mais sérias. É possível a comparação com tipos inferiores de humanidade; ante eles o professor exemplar aparece cheio de mérito. Simplesmente, notaremos que o ser mestre não é de modo algum um emprego e que a sua atividade se não pode aferir pelos métodos correntes; ganhar a vida é no professor um acréscimo e não o alvo; e o que importa, no seu juízo final, não é a ideia que fazem dele os homens do tempo; o que verdadeiramente há-de pesar na balança é a pedra que lançou para os alicerces do futuro.

A sua contribuição terá sido mínima se o não moveu a tomar o caminho de mestre um imenso amor da humanidade e a clara inteligência dos destinos a que o espírito o chama.”

As frases do Mestre Agostinho revelavam a essência do encontro daquele já distante encontro de domingo. Mais do que sintetizar o errado, as suas palavras apontavam contornos da escola que aquela comunidade anelava para as futuras gerações. 

Animado do agostiniano espírito e reunindo as forças que restavam, voltei ao Freixo do Meio, já decorria o ano de 2022. Ali, reaprendi a aprender como se fazia uma escola.

 

Por: José Pacheco

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