Novas Histórias do Tempo da Velha Escola (DCCLXV)

Oliveira de Azeméis, 17 de janeiro de 2042 

No norte de Portugal, nos idos de vinte, num dos encontros na Escola do Forte, conheci uma Maria João, que homenageio lhe dedicando este naco de “velhos achados inclusivos”. A homenagem é extensiva aos amigos Ricardo e Adriana, com quem aprendi humanidade e recuperei esperança, num tempo em que era difícil mantê-la. Bem haja quem cuida dos “diferentes”!

Sou professora de Educação Especial no curso de Pedagogia de uma Universidade Pública no Brasil. Gostaria de saber como pais e alunos vivenciam a inclusão de crianças e adolescentes com necessidades educacionais na Escola da Ponte. 

“Falo como aluna, melhor dizendo, ex-aluna da Escola da Ponte, que partilhou grande parte dos seus anos de estudante nessa escola com pessoas com necessidades educacionais específicas. Eu trabalhei num grupo com uma menina com trissomia 21, e partilhei a escola com crianças com outro tipo de problemas de aprendizagem. Sinto-me mais à-vontade para falar da menina que incluía o meu grupo de trabalho, uma vez que grande parte do dia era passada com ela. 

Não havia qualquer tipo de distinção por parte dos colegas, pois sempre a vimos como um ser humano, tal como todos nós, que tinha nascido um pouco diferente, mas que, em tudo o resto, nos era igual, se não superior, sendo assim merecedora do nosso respeito e apoio. A sua inclusão foi muito fácil, não sei explicar como aconteceu, porque simplesmente aconteceu! É incrível, mas, quando nos deparamos com pessoas com esta síndrome, desenvolvemos imediatamente um laço de afeto difícil de expressar. Penso que talvez se deva ao fato de se abstraírem do superficial, dando apenas importância ao interior. Trabalhar com ela tinha os seus altos e baixos, pois tente convencer alguém que é fanático por revistas cor-de-rosa, que fala dos seus cantores favoritos, a trocar por uma ficha de português… Verá que tem o seu grau de dificuldade!”

Quais são os problemas que a Ponte enfrenta? Existe alguma dificuldade de adaptação desses alunos, quando vão para outras escolas?

Desta feita, quem deu resposta foi o pai de aluna da Ponte:

“A escola tem seus problemas, decorrentes de um momento muito especial, em que ela deixa de ser uma pequena escola e passa a ser uma escola de fundamental completo, ao mesmo tempo em que sua principal liderança se aposenta após mais de trinta anos de atuação na escola. Isto não deve constituir surpresa para ninguém. Surpresa mesmo seria se problemas não existissem. Esta “escola dos sonhos” é também uma escola real com problemas reais. Não é uma escola “de mentirinha”, que não convive com problemas de nenhuma espécie. 

Sei que a escola se orgulha de nunca ter rejeitado um aluno, nunca ter dito “este, aqui, não”. Todas as crianças são acolhidas. Não sei dizer como portadores de necessidades especiais são tratados nas outras escolas depois que saem da Ponte. Aqui, a inclusão das crianças com necessidades educativas especiais é feita com a maior naturalidade possível. A maioria delas vem parar à Ponte, por verem esta escola como última esperança de recuperação. Chegam à Ponte crianças institucionalizadas, “órfãos de pais vivos” (famílias desestruturadas), portadores de Síndrome de Down, com paralisia cerebral e outras. A todas é dada, a melhor resposta possível.

Os nossos filhos chamam-nos à atenção, quando nos referimos aos “deficientes”, dizendo-nos que não são deficientes, mas… “diferentes”. Afinal, o que todas as crianças precisam é de atenção, carinho, quanto mais aquelas que se vêem privadas destas e de outras coisas mais tangíveis!”

 

Por: José Pacheco

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