São Paulo, 16 de fevereiro de 2024
Ontem, completaram-se vinte anos sobre um dia memorável. A manhã foi passada num encontro presencial e virtual, na Escola Aberta de São Paulo e na Open Learning School. De tarde, num belo projeto concebido pelo Fernando, pela Letícia e pelo seu coletivo. Dele vos falarei em outra cartinha.
Na Escola Aberta, conversei com alunos, pais de alunos, professores, visitantes, auxiliares e voluntários. Hoje, numa velha pen drive, encontrei uma gravação feita nessa manhã. Nela, o Luciano me contava por que decidira ser voluntário naquela escola:
“O que eu descobri na Escola Aberta é que existem camadas, para entender essa realidade. Num primeiro momento, quando você chega, fica encantado pela falta de paredes, pelo ambiente calmo, alegre. Depois de um tempo, você vai entendendo um pouco mais dos dispositivos de aprendizagem, das tutorias, as pessoas transitam no espaço. Depois, para minha surpresa, existem outras camadas, que tem a ver com a parte da relação, como as pessoas se ajudam, como se tratam, como a informação flui dentro da escola. isso é muito bonito”.
O meu amigo Mauro também me contou as suas impressões:
“Desde a primeira vez em que ouvi falar em inovações na educação, um vislumbre se repete: o de estar a presenciar algo que se tornará memória valiosa no futuro; o de fazer contato com uma realidade a que todos terão acesso, um dia.
Confesso que não é totalmente confortável a sensação de antecipar devires. A prudência interna questiona: É pretensão? É desejo? Será o efeito da autocondescendência, que dá bons olhos para as causas que defendemos?
Ao longo dos anos, minha convicção aumentou: o dia da renovação maciça na educação chegará. E, quando chegar, me lembrarei das ocasiões em que encontrei pessoas capazes de insuflar essa certeza.
Neste dia 15 de fevereiro, mais uma vez, a sensação se repetiu; e me vi no futuro contando da satisfação de ter estado presente, face às consequências que terão ocorrido.
O local: Escola Aberta de São Paulo. Os personagens: José Pacheco, Edilene Morikawa, Marcelo Lopes, Luciano Araújo e muitos outros colaboradores, apoiadores e amigos. O evento: lançamento da Open Learning School no Brasil. A proposta: difundir valores, concepções e práticas da Escola Aberta de São Paulo junto a outros públicos e locais, mantendo o compromisso com a educação humanizada, democrática, diversa e inclusiva. Reafirmando a intenção de contribuir com a educação pública em favor de futuros melhores para todos.
Antes e depois do evento, caminho por entre alunos da Escola Aberta de São Paulo, ora mobilizados em seus percursos de atividades, ora a aguardar os responsáveis que vêm buscá-los.
Há nesse contato muitos aspectos a destacar, mas o que mais me atrai é a atitude das crianças. Muitas vêm conversar comigo, curiosas acerca de um novo personagem naquele espaço. Contam o que fizeram desde que entraram na Escola Aberta. Há entre elas nítidas demonstrações de respeito ao tempo de fala, às diferenças de opinião, aos respectivos tempos de aprendizado. A interlocução das crianças com colegas, tutores e visitantes não se ressente de qualquer ameaça ou medo.
João, com cerca de nove anos, carrega nas mãos um tablet em que apresenta um recurso matemático informatizado. Diz que ama estar na Escola Aberta, porque aprende sempre mais. Pergunto a um grupo se são felizes ali, e a resposta é “sim!” em variados tons e intensidades.
Minha impressão se renova. Daqui a muitos anos vou me recordar desse dia em que a educação do futuro já era realidade no presente e já podia inspirar novos passos”.
Por: José Pacheco
367total visits,2visits today